Menino corre para se proteger dos efeitos do gás lacrimogêneo disparado pelos policiais. Foto: AFP
No dia 3 de fevereiro, uma manifestação com cerca de 2 mil refugiados, entre eles crianças e bebês, foi brutalmente reprimida pela polícia grega. Os imigrantes protestavam por melhores condições de vida nos campos de refugiados na Ilha de Lesbos. A manifestação tomou a capital da ilha, Mitilene.
Em meio à repressão da polícia de choque, os manifestantes tiveram que despejar coca-cola no rosto das crianças, por causa de sua acidez que ajuda a diminuir os efeitos do gás lacrimogêneo.
‘A situação é um barril de pólvora pronto para explodir’
A Grécia se apressou em enviar mais esquadrões da polícia de choque para Lesbos em meio às tensões explosivas na ilha após confrontos entre as forças de repressão reacionárias e milhares de migrantes e refugiados.
“É um barril de pólvora pronto para explodir”, disse Kostas Moutzouris, governador regional do norte do Egeu, ao monopólios dos meios de comunicação. “Ontem eu não estava apenas com medo, eu estava tremendo, [pensando] para onde a situação poderia ir”, disse ele, referindo-se aos imigrantes rebelados. “As coisas chegaram a um limite, especialmente em Lesbos, onde temos 25 mil migrantes”.
A pedido de Moutzouris, o governo reacionário grego concordou em enviar mais duas unidades da polícia de choque à região, além de esquadrões extras que ficarão permanentemente na ilha. Os reforços se juntarão às patrulhas em torno do acampamento de migrantes espalhados fora do acampamento de Moria.
A presença ostensiva das forças de repressão se fez necessária para o Estado reacionário grego depois que mais de 74 mil requerentes de asilo chegaram na Grécia em 2019. Mais da metade (42 mil) estão presos nas ilhas em instalações concebidas para albergar não mais de 5,4 mil pessoas. Em Samos, 7 mil pessoas (o equivalente à população da ilha) estão amontoadas num campo construído para acolher menos de 700 pessoas.
“Um terço são crianças e sete em cada dez deles têm menos de 12 anos”, disse Boris Cheshirkov, porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) na Grécia: “Há também mulheres grávidas, idosos, sobreviventes de tortura e outras cuja condição física e mental está deteriorada”.
Histórico de resistência e repressão
O campo de Moria é considerado o pior campo de refugiados do mundo, com péssimas condições de vida oferecidas aos migrantes, gerando recorrentes manifestações massivas. No acampamento, diversas crianças já tentaram suicídio e nenhum atendimento psicológico é ofertado no campo.
No ano passado, em setembro, ocorreu um incêndio no acampamento, matando uma pessoa (o corpo carbonizado de uma mulher foi encontrado no campo, mas os moradores dizem que houve outra vítima durante o incêndio, e que seria uma criança), e gerando grandes protestos dos refugiados. Ao que tudo indica, o incêndio aconteceu devido às péssimas condições do local.
Essa manifestação, como qualquer ação combativa dos refugiados, foi reprimida pela polícia, que, por sua parte, foi contundentemente repelida pelos imigrantes, o que resultou em quatro policiais e um bombeiro feridos. Já o Ministério da Saúde grego relatou, na época, que 17 imigrantes foram hospitalizadas com ferimentos leves e problemas respiratórios. A polícia disparou gás lacrimogêneo contra os imigrantes que se manifestavam contra a lentidão dos bombeiros para responder ao incêndio
A situação no campo de concentração de Moria é tamanha que alguns imigrantes, então, quebraram suas próprias casas no local, demonstrando sua revolta com a situação de vida no acampamento. O campo abriga cerca de 12 mil pessoas em tendas e contêineres, quatro vezes mais pessoas do que a sua capacidade permite.
Moradores, inclusive crianças tentam se proteger do gás lacrimogêneo, em um protesto, em 2019, contras as precárias condições do campo de refugiados. Foto: Reprodução.