Norberto Florindo confessa assassinatos e ensina técnicas de torturas a alunos de curso preparatório para concurso para Polícia Militar. Imagem: Reprodução
Uma reportagem do portal Ponte Jornalismo, publicada no dia 24 de outubro, mostra o ex-capitão da Polícia Militar (PM) de São Paulo, advogado e professor de Direito da AlfaCon, Norberto Florindo Júnior, ensinando técnicas de torturas, execuções, entre outras práticas típicas da corporação. Norberto foi demitido da PM em 2009, após ser flagrado usando cocaína no alojamento da Diretoria de Ensino.
“Não tenho dó e torturo até umas horas. E digo mais: para falar em tortura, fala na hora. Tortura não demora, isso de DOI-Codi. ‘Fiquei 15 dias sendo torturado’. Não existe isso! Tortura é pontual, curto, direto e reto”, afirma o “professor” em uma de suas aulas.
“Bandido ferido é inadmissível chegar vivo ao pronto-socorro. Só se você for um policial de merda. Você vai socorrer o bandido, como?! Com esta mão, você vai tampar o nariz e, com esta, a boca. É assim que você socorre um bandido”, diz Noberto, que continua : “Eu prestei uns 100 socorros, eu nunca perdi um paciente [risos]. Todos que eu socorri chegaram mortos, todos. Nunca prevariquei”.
Norberto ainda se vangloria de ser um bom torturador: “Nada como uma tortura bem aplicada para saber onde está [a droga]. Se você não tortura, deixa comigo, eu faço, tenho problema nenhum. Consciência livre, leve e eu sou bom nesse troço, hein?! Nossa!”.
O ex-capitão ainda comemora de forma orgulhosa os homicídios que diz ter cometido: “E matar então? [risos] Eu falo para o pessoal: não sou o melhor professor de Direito da AlfaCon, mas sou o que tem mais homicídio nessa porra aqui”, vangloria-se. “São 28 homicídios assinados, um embaixo do outro, mais uns 30 que não assinei [risos]. Vai se foder, já prescreveu tudo! Foda-se, não estou nem aí”, comemora em uma palestra dada em Minas Gerais para aspirantes a policiais militares. Ao fundo, é possível ouvir risos dos futuros agentes.
Segundo o próprio “professor”, ele ministrou cursos de formação de soldados e sargentos, na Academia do Barro Branco e na Corregedoria da Polícia Militar do estado de São Paulo. O ex-capitão ainda atuou como professor de Direito (!) na escola da Polícia Militar de São Paulo.
Assista: https://www.facebook.com/pontejornalismo/videos/2454304568143538/
Grupo AlfaCon
O grupo AlfaCon possui uma sede em São Paulo e duas no Paraná. A rede tem como uma de suas acionistas a empresa Somos Educação, que é controlada pela Kroton (que está mudando seu nome para Cogna Educação), o maior grupo privado de educação do país.
O fundador e presidente da AlfaCon é Evandro Bitencourt Guedes, um bolsonarista declarado que, assim como o “professor” de sua rede, também ensina formas de tortura e como forjar uma ocorrência para se livrar de crimes cometidos contra inocentes.
Foi durante uma aula da AlfaCon com Evandro Guedes, no dia 9 de julho de 2018, que Eduardo Bolsonaro disse que precisaria de apenas um soldado e um cabo para fechar o Supremo Tribunal Federal (STF), caso a corte impugnasse a candidatura de seu pai.
Evandro, que foi agente penitenciário federal até 2015 – quando foi exonerado -, conta que participou da Força-Tarefa de Intervenção Prisional (FTIP) no Espírito Santo, ocasião na qual jogou uma bomba em uma cela que estava superlotada (16 pessoas, onde só caberiam duas).
Orgulhando-se disso, Evandro disse durante uma de suas aulas: “Tem uma granada de luz e som que você só pode jogar a uma quadra, não pode em local confinado. Falei para dizer de novo e o cara falou. Joguei lá e fechei. Não foi uma boa ideia, mas todo mundo ficou quieto. Teve uns probleminhas, alguns ouvidos estourados e pessoas machucadinhas, mas o controle foi feito. Eu sempre amei fazer isso”, disse, sob risos dos alunos.
Ele ainda ensina os aspirantes a policiais a mentirem quando matarem alguém, ensinando-os como enquadrarem a conduta ilícita como “legítima defesa”. Evandro também ensina até a conseguir testemunhas para confirmar a falsa versão: “Você pega uma criança e diz: ‘fala que o cara estava armado que eu dou um doce’”.
Evandro Guedes prossegue e ensina a torturar dentro de uma delegacia.
“Na delegacia, estava frio. Joguei um balde d’água no chão, arranquei o fio do ventilador e botei o cara lá. E faz o chamado ‘controle remoto’. Isso é tortura, pessoal! Pega o fio e joga no chão. Fica dando choque no cara a noite inteira. Não tem nada para fazer, está de madrugada, delegado não está lá, inspetor está dormindo, escrivão está comendo umas piranha…”, disse, falando se tratar de uma situação hipotética.