Em ofício assinado pelo ministro José Múcio no dia 1 de setembro, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), subordinado ao Ministério da Defesa, afirmou não armazenar registros das câmeras de segurança do Palácio da Alvorada no período em que o hacker Walter Delgatti afirmou ter se encontrado lá com o ex-gerente de turno Jair Bolsonaro. O ofício não afirma que o encontro não ocorreu, mas dá uma justificativa esfarrapada e afirma que as imagens do período foram apagadas.
Tal ofício veio como uma resposta ao pedido da “CPI do 8 de janeiro”, que solicitou os registros da câmera de segurança do Palácio da Alvorada entre os dias 1º de julho de 2022 e 31 de dezembro de 2022, período em que o Delgatti afirmou que se encontrou com o ex-gerente de turno ultrarreacionário Jair Bolsonaro. Delgatti afirmou também que o genocida Bolsonaro pessoalmente o encaminhou para que se encontrasse com o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira. O suposto encontro entre o hacker e os militares teria ocorrido no exato momento em que os militares (entre eles, generais da ativa) questionavam as urnas eletrônicas, inclusive com uma comissão constituída e imposta para apurar a “segurança das urnas”, através do TSE.
O Ministério da Defesa alega que as câmeras do Palácio da Alvorada possuem “capacidade limitada de armazenamento” de imagens e por isso retém as imagens das câmeras de segurança por apenas 30 dias, sendo impossível conferir então, através dos registros do Palácio, se o hacker de fato esteve lá.
Já o GSI afirmou que as imagens ficam disponíveis de “12 a 14 dias” e que isso “se deve ao fato de a capacidade de armazenamento ser definida por variáveis, tais como: quantidade de câmeras existentes, qualidade da captação das imagens e capacidade de armazenamento de dados do sistema, dentre outras possíveis”.
O semi-bolsonarista José Múcio, Ministro da Defesa escolhido por Luiz Inácio, já havia dito anteriormente que não existia nenhum registro de alguma visita de Delgatti ao Palácio da Alvorada, entretanto as declarações do GSI e do Ministério da Defesa levantam ainda mais suspeitas, tendo em conta a justificativa absurda que foi apresentada por ambos os órgãos.
Como sempre, ficam claros tanto os limites de qualquer Comissão Parlamentar de Inquérito como as artimanhas dos generais para não se implicarem. De um lado, a CPI se propõe investigar as razões para o 8 de janeiro; de outro, os generais e o ACFA impõem condições para as investigações se desenrolarem que evitem a associação direta entre Forças Armadas e os episódios. Deste impasse, fica apenas o circo.