O atual ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Marcos Antônio Amaro dos Santos, confirmou ao monopólio de imprensa Uol que e-mails com informações sensíveis sobre atividades do presidente Luiz Inácio foram enviadas pelo próprio GSI ao endereço eletrônico do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.
Os correios eletrônicos foram enviados com a tarja “Urgentíssimo” entre os dias 6 a 13 de março e continham informações como detalhes do esquema de segurança de eventos oficiais de Lula em Xangai, na China, em Brasília, Foz do Iguaçu (PR) e Boa Vista (RR), além de datas e horários de reuniões, informação de reconhecimentos de local e visita da equipe do presidente, nome e celular do coordenador da segurança, horários de chegada e saída de Lula, pontos de encontro, itinerário e veículos usados na escolta, bem como identidades dos agentes responsáveis por coordenar as operações.
À época, o GSI ainda estava sob gestão do general Gonçalves Dias. O militar pediu demissão do cargo no mês seguinte, após a liberação de um vídeo do dia 8 de janeiro em que ele aparecia auxiliando participantes da bolsonarada a abandonarem o Palácio do Planalto.
Os oficiais imediatamente responsabilizados pelo envio foram Márcio Alex da Silva, do Exército; e Dione Jefferson Freire e Rogério Dias Souza, ambos da Marinha. Os três serão afastados do GSI.
A revelação recente é mais um importante episódio na crise entre os militares, sobretudo o Alto Comando das Forças Armadas (ACFA), e o governo de Luiz Inácio. Desde sua criação em 2016, o GSI foi diretamente controlado por militares do alto escalão. Passaram pelo cargo o general Sergio Etchegoyen, responsável por reestruturar o órgão durante o governo de Michel Temer; o general Augusto Heleno, nomeado por Bolsonaro em 2019; o general Gonçalves Dias e o agora general Marcos Antônio, este último representante da suposta ala “legalista” das Forças Armadas. A única exceção se deu entre o curto período de 19 de abril a 4 de maio, quando Ricardo Capelli foi encarregado interino do órgão durante a transição de Dias e Antônio – no mesmo período, o comando do Exército também alterou-se: o general Júlio César de Arruda deu lugar ao general Tomás Miguel Ribeiro Paiva.
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Tais fatos são demonstração do nível de crise institucional e militar, sendo a própria decomposição dessa velha democracia. Em primeiro lugar, em qualquer “democracia” do mundo, os militares não ficam a tutelar a Nação, tampouco exigindo cargos no governo, como aconteceu durante este ano em torno do GSI; em segundo lugar, tampouco é tratado como fato normal o vazamento de informações tão sensíveis, cujo vazamento facilita, e muito, o assassinato da autoridade em questão. A crise no País é tal que um fato tão escandaloso, como tais vazamentos, passa como se fosse apenas mais um episódio de uma novela monótona. É mais uma prova de que não apenas o governo, mas as demais instituições estão todas enganchadas nas baionetas dos generais golpistas.
Luiz Inácio está tentando equilibrar seu governo entregando aos generais os resultados exigidos, tais como as contrarreformas econômicas, o impulsionamento da militarização da sociedade e a boa imagem das Forças Armadas. Mas, até quando ele seguirá sendo útil ao núcleo do establishment? Quando concluir seu “trabalho sujo”, Luiz Inácio será novamente defenestrado.
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