Os Guarani-Kaiowá no Mato Grosso do Sul, que foram alvos de ataques da pistolagem em diferentes pontos desde o último final de semana, responderam através de mais mobilização com três retomadas diferentes nos municípios de Caarapó, Juti e Douradina, todas ocorridas no dia 14 de julho. Eles afirmam que o impulso na luta se dá também conta o “marco temporal”.
Essa e outras mobilizações se dão pouco após o chamado da Grande Assembleia Guarani-Kaiwoá (Aty Guasu) de aumentar a mobilização contra as medidas do latifúndio no Congresso e governo.
Invasão Zero ataca retomada
A ocupação em Douradina enfrentou uma tentativa de despejo por parte de latifundiários e pistoleiros, que atacaram os indígenas com tiros e invadiram parte do território retomado com caminhonetes, instalando-se na área para aterrorizar as famílias presentes.
Os grandes fazendeiros da região juntaram-se com o grupo de pistoleiros do latifúndio Invasão Zero. Um dos articuladores do movimento é o deputado federal Rodolfo Nogueira (PL). Ele está incitando ataques contra os Guarani-Kaiowá. O reacionário também tem sido denunciado pelos indígenas por liderar os ataques contra a retomada Panambi Lagoa Rica.
Os indígenas continuam resistindo às investidas dos pistoleiros, que balearam dois dos guerreiros originários na perna. A polícia tem sido ostensiva com os moradores da área indígena Panambi Lagoa Rica e recentemente prenderam uma liderança importante da área.
A Retomada é um avanço sobre o território já parcialmente ocupado de Panambi Lago Rica, cujo estudo antropológico já comprovou a área de 12 mil hectares como território tradicional dos Guarani-Kaiowás. No banco de dados do “Terras Indígenas do Brasil”, consta que as terras passam por cerca de cem propriedades rurais que foram roubadas pelos latifundiários da região.
Segundo o banco de dados TIB-ISA: “O relatório de identificação, iniciado em 2008 [pela Funai], é um dos passos importantes para a homologação definitiva da terra como indígena. Mas o processo de retomada da área pelos índios é antigo e intensificou-se em 2005, quando eles ocuparam a área, depois saíram, após um acordo com os donos das propriedades”.
Os indígenas já haviam retomado, anteriormente, algumas parcelas de seu tekohá e mesmo com as retomadas realizadas não houve desenvolvimento no processo de demarcação das áreas.
Eles defendem que, até mesmo segundo órgãos do governo, aquelas terras são oficialmente suas. “De acordo com o relatório feito pelo grupo coordenado pela antropóloga Katya Vietta, houve dificuldades para contatar os atuais titulares das terras, pois eles não receberam a equipe responsável pelo estudo antropológico. O documento informa que a aldeia Panambi-Lagoa Rica se constituiu na passagem da década de 1940-50, ‘em meio ao esbulho renitente concluído através da CAND (Colônia Agrícola Nacional de Dourados), instalada no Governo Getúlio Vargas, quando se instalaram às margens de lagoas e nascentes próximas ao córrego Panambi, ao noroeste da foz do Itaquiri”, reconhece um relatório da Funai reconhece.
Retomada em terras de Massacre
A retomada do tekohá, em Caarapó, é parte da luta pelas terras do Dourados Amambaipeguá I. Em 2016, após os indígenas avançarem para retomar seus territórios houve o enfrentamento com os latifundiários da região o que desencadeou no “Massacre de Caarapó”. Após o massacre, os Guarani-Kaiowá retomaram 9 dos seus territórios. Agora, no dia 14/07, os indígenas conduziram uma nova retomada e conquistaram mais uma parte da área, que é reivindicada por um dos mandantes do Massacre.
O cumprimento da promessa (de voltar às terras após o massacre) se dá em meio à resistência aos ataques dos latifundiários e pistoleiros por toda a região.
Indígenas resistem ao cerco
Uma indígena grávida foi baleada de raspão pelos pistoleiros protegidos pela ação da Força Nacional, que está atuando no estado após ordem do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, e do presidente oportunista Luiz Inácio (PT).
A Retomada Taquara também foi realizada como parte de retomar todo o território de Taquara, em Juti. No momento, os indígenas Guarani-Kaiowá estão cercados por pistoleiros da fazenda Brasília do Sul, que está atacando indígenas e crianças da retomada.
Assim como em Douradina, os latifundiários organizaram os seus pistoleiros dentro da área retomada para impedir o avanço dos indígenas sobre a retomada. No entanto, mesmo com as ameaças e tiros disparados durante a madrugada, os Guarani-Kaiowá de Taquara permanecem em seu tradicional e prometem permanecer até a conquista total do seu tekohá.
Como parte da mobilização por retomar todo seu território, os indígenas de Taquara têm realizado amplos chamamentos para os apoiadores ajudarem na construção e avanço da retomada.
Ofensiva latifundiária
As retomadas dos povos Guarani-Kaiowá são uma resposta aos projetos latifundistas que tramitam no governo, à falta de demarcação de terras pelo governo e aos ataques feitos por latifundiários e pistoleiros contra os povos originários do Paraná, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul.
No Mato Grosso do Sul, latifundiários, junto de deputados estaduais, federais e vereadores, organizaram grupos que já balearam três indígenas e prenderam uma liderança em Douradina, onde o conflito está escalando cada dia mais.
Para dar apoio à pistolagem, os latifundiários realizaram uma tentativa de protesto na frente do Ministério Público. Em grupos de Whatsapp, eles articulam o que chamam de “defesa de propriedade rurais e contra invasões”.
Confira abaixo alguns materiais enviados ao AND por apoiadores da luta indígena na região:
Leia as reportagens exclusivas do Jornal A Nova Democracia sobre a situação dos Guarani-Kaiow
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