Famílias têm seus bens e moradias incendiados. Foto: David Toro/Prensa Comunitaria
Nos dias 9 e 10 de dezembro, a polícia guatemalteca realizou o despejo de duas comunidades quichés camponesas na cidade de Sayaxché. Centenas de famílias tiveram suas moradias incendiadas, além de perderam suas plantações, animais e objetos pessoais. No total, três pessoas foram presas sob acusações de “usurpação de propriedade privada”. Os despejos ocorreram num contexto agravado pela crise sanitária, além das tempestades tropicais Eta e Iota, que afetaram mais de uma centena de famílias da região.
Dezenas de policiais equipados foram acionados para expulsar os moradores das comunidades de Tres Lagunas e Oxlajuj Qej de suas casas, na fazenda El Zapotal. Pegos de surpresa, alguns moradores tentaram se defender, mas os agentes da repressão lograram remover todos das terras.
As “autoridades” legais atribuem a posse da fazenda à SOLUNIN, uma empresa anônima, que tem como representante legal Luis Arturo Ramírez Melgar. Ramírez Melgar também é representante legal da Hidroelétrica El Brote, que possui operações ativas na cidade de Chicacao, onde causou secas e danos ambientais.
Segundo o advogado representante das comunidades, Juan Carlos Peláez, o processo de despejo ocorreu com diversas ilegalidades. A comunidade não havia sido propriamente notificada e nunca soube de quem partiu a ordem. No papel expedido pelas “autoridades”, não houve carimbo ou assinatura, algo necessário para que se possa recorrer judicialmente.
Latifúndio usa a pandemia de pretexto para promover chacinas no campo
O ano de 2020 registrou um aumento da violência contra os camponeses pobres na Guatemala. Utilizando de justificativa as medidas de restrição social e toques de recolher, o latifúndio intensificou os ataques às comunidades camponesas e indígenas, seja diretamente com o aparato de repressão do velho Estado ou com pistoleiros. Um dos sintomas foi a criação da chamada “Associação para a Defesa da Propriedade Privada” (Acdepro), já em junho, por latifundiários, para “defender a propriedade privada de ataques”. Desde então, ela já atuou em casos de conflitos rurais, maquiando os crimes do latifúndio e tentando criminalizar as organizações de luta pela terra, como o Comitê do Altiplano Camponês (CCDA).
No dia 03/04, um despejo foi realizado contra a comunidade de Tierra Blanca, no município de Sayaxché. Cedo da manhã, 45 pistoleiros sob o comando da Indústria Chiquibul (extratora de óleo de palma) apareceram na comunidade promovendo um despejo sem aviso prévio ou requisição legal. Apesar da tentativa de intimidar os moradores com disparos de armas de fogo, que feriram gravemente um homem da comunidade, a tentativa fracassou diante da resistência dos camponeses. Oito policiais foram testemunhas do ocorrido, mas não agiram em defesa dos camponeses.
Em 31/03, a comunidade de Washington, em Purulhá, foi despejada violentamente por pistoleiros aos mandos dos Thomae, família de latifundiários de origem alemã envolvidos na produção de café e proprietários da hidroelétrica Juminá. Essa mesma família havia conduzido um despejo violento contra a comunidade de Dos Fuentes no final de 2019. Em Dos Fuentes, a polícia reacionária guatemalteca atacou homens, mulheres e crianças com gás lacrimogêneo, sem sequer um aviso prévio. Moradores denunciaram que, em Washington e Dos Fuentes, os agentes da repressão tentaram assassinar dois jovens de 15 e 17 anos.