Há um mês atrás, dia 19 de junho, o oportunista Gustavo Petro foi eleito presidente do velho Estado colombiano na nova edição da farsa eleitoral no país. Petro, longe de ser um “candidato de esquerda” que defenderá os interesses do povo colombiano, tem, desde o seu período como prefeito da capital Bogotá, reprimido todas as lutas das massas, inúmeras promessas eleitorais não cumpridas e, agora, enquanto presidente, servirá ao mesmo sujo papel e já tem realizado infindáveis conchavos com banqueiros, latifundiários e outras pestes.
Povo não aceita oportunismo e boicota as eleições!
Massas rechaçam a farsa eleitoral em protesto. Foto: El Comunero
Nessas eleições foram mais de 17 milhões de votos nulos, brancos e abstenções. Trata-se de rechaço das massas colombianas à velha ordem de opressão e exploração. O povo colombiano rejeitou os dois candidatos no jogo de cartas marcadas que são as eleições. Petro foi eleito por uma minoria do povo colombiano: foram cerca de 11 milhões de votos de colombianos aptos a votar, de um total de 39 milhões. Mesmo com a redução do número de abstenção no segundo turno (de 41,83% no total) em relação à última edição da farsa eleitoral em 2018 (de 46,07%), o boicote foi quem realmente ganhou a disputa.
De acordo com a imprensa popular e democrática colombiana El Comunero, parcelas do povo foram enganados pela “possibilidade de mudança”, tese sustentada pelo oportunismo eleitoreiro, ademais da forte rejeição ao Uribismo* do qual o último presidente, Iván Duque, era representante. Tudo contribuiu, aponta a redação do jornal, para que uma parcela dos setores ativos durante os últimos protestos da Colômbia participassem da farsa eleitoral.
Desta forma, a principal expressão de uma saída que verdadeiramente resolva os problemas do povo colombiano esteve no boicote consciente e ativo, que ficou expresso na grande campanha que desde o início de 2022 levantou a bandeira do boicote eleitoral ligando-a à denúncia do caráter de classe do velho Estado colombiano. Na manifestação pelo dia 1° de maio, dia do internacionalismo proletário, na cidade de Medellín, um enorme contingente da juventude revolucionária da Colômbia realizou diversas ações contra a farsa eleitoral, com ações de agitação e propaganda (panfletagens, intervenções e pichações). Ações deste tipo ocorreram por toda Colômbia, denunciando para operários, camponeses, jovens e todo povo que as eleições são uma farsa e que o povo nunca conseguirá conquistar de fato seus direitos através de eleições, tampouco e muito menos conquistar suas reivindicações políticas: liquidação da propriedade latifundiária, nova democracia, independência e desenvolvimento genuinamente nacional, o que só pode ser possível através de uma Revolução de Nova Democracia.
Massas rechaçam a farsa eleitoral em protesto. Foto: El Comunero
Ações semelhantes de propaganda pelo boicote eleitoral também foram realizadas em datas importantes na Colômbia, como no dia 8 de março, dia internacional da mulher proletária e no dia 28 de abril, em comemoração do primeiro aniversário da rebelião popular em 2021.
Revolucionários colam cartazes contra a farsa eleitoral em protesto. Foto: El Comunero
Além disso, foram colados centenas de cartazes por toda a cidade com dizeres como Chegue quem chegar à presidência, a luta e a organização popular continuam, porque só o povo salva o povo! e Não vote! Organiza-te e luta pela revolução! Eleja lutar!, assim como diversos eventos de escola popular sobre a farsa eleitoral e pichações foram realizadas em diferentes universidades de Bogotá.
Revolucionários fazem ações de propaganda contra a farsa eleitoral em protesto. Foto: El Comunero
Conchavos e sujeira
César Gaviria, chefe do Partido Liberal, e Gustavo Petro em reunião na Itália. Foto: Reprodução
Em demonstração à grande burguesia local e ao imperialismo de que suas promessas de “reforma agrária” e “sistema único e público de saúde” são apenas palavrório, e de que não serão tocadas as suas riquezas, Petro já afirmou no seu primeiro discurso após eleito: “Era uma campanha de mentiras e medo, que íamos expropriar colombianos, que íamos destruir propriedade privada (…) vamos desenvolver o capitalismo na Colômbia.”. Petro, desde antes de ser eleito, tem proposto um “grande acordo nacional” entre as frações das classes dominantes para governar.
Grandes empresários, representantes do latifúndio, banqueiros e industriais, se pronunciaram afirmando que esperavam que Petro conseguisse “unir” a Colômbia e provar que, mesmo que não apoiando sua candidatura, eles estavam errados. Buscando ganhar maioria no congresso, Petro tem realizado conchavos, como a reunião de mais de quatro horas em um encontro na Itália com César Gaviria, chefe do Partido Liberal e ex-presidente da Colômbia, para discutir detalhes do governo.
Além disso, tem nomeado como ministros uma série de políticos da direita latifundiária mais reacionária, como Álvaro Leyva, escolhido para ministro das relações exteriores, que é membro histórico do Partido Conservador Colombiano e apoiou a reeleição do reacionário Álvaro Uribe. Leyva, elogiado por Petro como “novo chanceler da paz” foi ex-ministro colombiano de Minas e Energia e é, em realidade, exímio contrarrevolucionário reconhecido por sua participação ativa nas “conversações de paz” entre as FARC, ELN e M-19. Nestes processos, muitos guerrilheiros e revolucionários rejeitaram tomar parte, denunciando-o como erro político de suas organizações. Contudo, mesmo aqueles que chegaram a acordos com o velho Estado latifundiário-burocrático colombiano continuaram a ser assassinados e perseguidos após a entrega das armas. Ao escolher um “chanceler” deste tipo, Petro confirma que a paz que almeja para o povo colombiano é aquela paz dos cemitérios, única pacificação para os que não aceitam viver de joelhos no país sul-americano.
Prefeito de Bogotá: repressão e mais repressão
Polícia de Petro reprime manifestações pelo transporte em Bogotá em 2012.
Quando esteve à frente da prefeitura de Bogotá, entre 2012 à 2015, Petro não cumpriu a imensa maioria de suas promessas de campanhas: apenas 18 das 86 escolas programadas foram construídas e 8 das 39 escolas que estavam inacabadas foram concluídas. Além disso, também foi exemplar, pelo negativo, em seu combate reacionário às lutas do povo.
No mesmo ano de sua eleição, houveram grandes protestos em Bogotá contra a situação precária do transporte público: má qualidade, atrasos e preços altos. Nesses protestos, Petro, além de enviar a polícia para reprimir com gás lacrimogêneo, espancamentos e prisões, tentou desmoralizar as massas que lutavam, condenando os protestos, e afirmando que haviam sido “partidos esquerdistas” a organizarem as manifestações combativas. Ao total, 71 pessoas foram presas e 8 ficaram feridas.
Em agosto de 2013, houve uma grande rebelião na cidade em apoio a uma greve de camponeses que acontecia ao mesmo tempo no interior do país. Os protestos em apoio aos camponeses, que entoavam a palavra de ordem Amigo camponês, o povo está com você!, rapidamente se converteram em uma rebelião contra a situação de miséria nas cidades. Nesses protestos, a polícia acionada e mobilizada por Petro assassinou duas pessoas, entre elas um jovem de 18 anos com um tiro na testa, e deixou 200 feridos.
Em 2015, apenas nos primeiros meses do ano, ocorreram cerca de 283 protestos em toda a Colômbia, de acordo com os dados oficiais do governo de então. A maioria deles foram em Bogotá, com mais de 43 protestos diferentes.
Enquanto foi prefeito de Bogotá, Petro utilizou mais de mil vezes os Esquadrões Móveis Antidistúrbios (Esmad) para reprimir protestos populares, estrutura repressiva que, hoje, ele promete “desmontar”.
Crise e rebelião
Na rebelião popular de 2021 as massas colombianas questionaram todo o sistema de exploração e opressão. Foto: Sergio Angel
A eleição de Petro, assim como de tantos outros candidatos oportunistas (Boric no Chile, Fernández na Argentina, Castro em Honduras) se dá em meio a uma profunda crise econômica e social do capitalismo burocrático em toda a América Latina, particularmente a partir do ano de 2019. A previsão dos economistas é que a América Latina seja a região que mais sofrerá com a “inflação muito alta” neste ano e que responda por quase 14% do desemprego global em 2022, num total de 207 milhões de pessoas desempregadas, de acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Em 2020, a fome na região atingiu níveis não vistos em duas décadas. De 2019 a 2020, o número de latino-americanos sem acesso a alimentação aumentou de 13,8 milhões para 59,7 milhões, de acordo com a ONU. A prevalência da fome na região é agora de 9,1%, a mais alta em 15 anos.
Especificamente na Colômbia, a taxa de desemprego no final de 2021 atingia 11% da população, sendo que no mesmo período a taxa de inflação era altíssima: 12,4%. De acordo com a Visão Geral das Necessidades Humanitárias de 2022, 7,3 milhões passam fome num universo de 50 milhões de colombianos.
Diante disso, as massas de todo o subcontinente têm se levantado, assim como fizeram em 2021 na Colômbia. Nessa ocasião, as massas se rebelaram contra uma reforma tributária e da saúde que precarizariam ainda mais a vida do povo. O povo lutou combativamente por quase quatro meses, entre o final de abril e o início de agosto. Rechaçando não apenas as duas reformas reacionárias, mas contra todo o sistema de opressão e exploração. A resposta do velho Estado foi imediata: quase uma centena de manifestantes foram assassinados pela polícia de controle de multidões, entre milhares de feridos e centenas de torturados. As massas, por sua vez, incendiaram, em justa rebelião, várias prefeituras, bancos, palácios de justiça, delegacias e tantas outras instituições reacionárias que oprimem o povo. No contexto após esses grandes levantamentos é que surge o oportunista Petro como uma “alternativa” para que as mobilizações, afogadas em sangue pela reação, fossem desvirtuadas e canalizadas para o cretinismo parlamentar e eleitoralismo através da farsa eleitoral.
Dessa forma, as trocas atuais de governo se dão devido às crises econômicas e aos levantes populares que se iniciaram nos governos da então fração compradora da grande burguesia (como Iván Duque na Colômbia, Sebastián Piñera no Chile, Maurício Macri na Argentina, entre outros), que agora são substituídos por novos presidentes de turno da fração burocrática da grande burguesia. Aa tentativa, de acordo com a Associação de Nova Democracia – Alemanha, é de que apliquem a política de “com ‘mais Estado’ melhor servir à fração que até agora encabeçou o Executivo”. “A participação do Estado na economia será promovida mais para tentar salvar a fração compradora que passa por problemas graves, afundada pela crise que afeta o país desde suas fundações até sua superestrutura.”. O portal revolucionário destaca, ainda, que esse é o papel da fração burocrática: fortalecer seu “inimigo”, a outra fração.
As três tarefas reacionárias
Em meio à profunda crise econômica e profundo rechaço social à velha ordem, faz-se necessário na Colômbia aplicar três tarefas reacionárias que mantenham o domínio da grande burguesia, do latifúndio e do imperialismo (principalmente ianque) sobre a nação colombiana: re-impulsionar o capitalismo burocrático na pior crise de sua história até agora, reestruturar o velho Estado para que sirva melhor para esmagar as lutas do proletariado e do povo e procurar conjurar e esmagar o desenvolvimento da revolução na Colômbia.
O governo de Petro, longe de negligenciar essas tarefas urgentes da reação, já as está aplicando.
Para re-impulsionar o capitalismo burocrático, o mais recente reacionário eleito afirma que a Colômbia deve construir uma economia baseada no “agronegócio”, o que manterá o país dependente da exportação de commodities. Para reestruturar o velho Estado colombiano, o oportunista está propondo um “grande acordo nacional” e tem realizado conchavos com todos os partidos mais reacionários direitistas, representantes confessos de banqueiros e latifundiários.
Para conjurar a revolução na Colômbia, Petro aplicará a corporativização das massas, como já o faz, tentando, assim, colocar uma camisa de força nos movimentos camponeses, operários, estudantis, entre outros movimentos populares, para impedir sua organização e ação. Exemplo desse papel sujo e oportunista é uma nova carta enviada a Gustavo Petro por mais de 60 organizações camponesas sob direção oportunista, que colocam como principais reivindicações do movimento camponês colombiano a adesão do velho Estado colombiano em uma declaração na ONU sobre direitos dos camponeses, a criação de tribunais e ministérios ligados diretamente ao velho Estado com especificidade para o campesinato, assim como um capítulo camponês do “plano nacional de desenvolvimento” do governo de Gustavo Petro. Nada na carta menciona a entrega da terra a quem nela vive e trabalha, nem mesmo a “reforma” agrária. Mesmo o revisionismo armado já se mostra ávido pela capitulação. Assim que o resultado da eleição foi anunciado, o “Exército de Libertação Nacional” (ELN) já expressou “sua total disposição de avançar em um processo de paz”.
Notas:
*Uribismo de Álvaro Uribe, ex-presidente reacionário da Colômbia. Representante da burguesia compradora, promoveu repressão à luta das massas, principalmente as camponesas, retirou direitos dos trabalhadores, privatizou empresas estatais e aprofundou a dependência nacional ao imperialismo. Os massacres contra camponeses e suas lideranças foram classificados como “falsos positivos”, uma vez que todos assassinatos e terrorismo do velho Estado no campo eram “justificados” a partir de acusações de que essas massas fariam parte de guerrilhas.