Hoje, 14 de setembro, ocorrerá o lançamento do Livro “Extermínio: duzentos anos de um Estado genocida” de Viviane Gouvêa, historiadora e pesquisadora do Arquivo Nacional. O evento ocorrerá na livraria Travessa Botafogo, na rua Voluntários da Pátria, 97, a partir das 19h e contará com uma sessão de autógrafos com a autora.
ao longo de 200 anos, ESTADO GENOCiDA PROMOVEU MASSACRES
A autora, em entrevista ao canal Faixa Livre, afirma que seu livro partiu de uma pesquisa feita ao longo dos anos que trabalha como pesquisadora dos materiais do Arquivo Nacional. No período da pandemia, o desejo de divulgar o material recolhido encontrou um meio de se materializar. O livro tomou forma e é lançado hoje pela editora Planeta. Ela afirmou que é importante que as novas gerações de brasileiros que começam a discutir política e história tenham acesso às fontes que, embora disponibilizadas digitalmente, não são devidamente divulgadas ao grande público – lacuna que seu livro busca sanar.
A autora analisou um conjunto de rebeliões e revoltas populares ocorridos ao longo dos 200 anos de história do Brasil: a Cabanagem (revolta camponesa ocorrida no Pará entre 1835 e 1840, cujo resultado foi 20% da população do Pará dizimada pelas forças do Estado brasileiro), o massacre de El Dorado dos Carajás (promovido pela PM do Pará em 1996 e que deixou 19 mortes), o assassinato dos três operários da Companhia Siderúrgica Nacional em Volta Redonda (em 1988, quando durante uma greve de ocupação de uma fábrica o exército brasileiro assassinou três operários), além de outros processos de luta do povo brasileiro marcados pela atuação genocida das forças armadas do velho Estado brasileiro.
A autora destaca que em comum a todos esses casos está a atuação ilegal do Estado brasileira e que sua escolha foi por focar em massacres ocorridos durante período “democráticos ou liberais”. O objetivo, segundo a pesquisadora era demonstrar como a democracia brasileira é excludente e evidenciar o papel do Estado na promoção de massacres: “Age democraticamente para uma determinada parcela da população enquanto para outras, continua usando mecanismos e dispositivos comuns a ditadura”.
Para adquirir o livro acesse o portal da editora Planeta, clicando aqui.
Confira abaixo a sinopse do livro:
Nos 200 anos da Independência do Brasil, “Extermínio” mostra como a morte, a tortura e as ilegalidades historicamente caracterizaram a ação do Estado em relação à população indígena, aos negros escravizados ou libertos, camponeses, sindicalistas e a todos aqueles que tentaram subverter uma ordem social perversa e excludente. A partir de uma farta documentação produzida pelo próprio Estado, a autora demonstra como a lógica de desumanização ou de transformação de determinados grupos em inimigos internos sempre fez parte das estratégias de repressão do Estado brasileiro, um “pós-graduado em quebrar as próprias leis”. Qualquer semelhança com os tempos atuais não é mera coincidência, é história.
Uma nação de mais de 200 milhões de pessoas não acorda um belo dia e decide que o ódio e a intolerância são a melhor forma de levar a vida. Ninguém decide, de uma hora para outra, que essa história de terra indígena é um desperdício e que é melhor entregar tudo para o garimpo e o agronegócio, porque eles sim, contribuem para o engrandecimento da nação. Ou que é aceitável que forças de segurança pública matem 20 pessoas em operações realizadas em bairros residenciais. Ou que quilombolas não servem nem para se reproduzir. Ou que militares têm mais é que mandar em tudo porque senão vira bagunça. Ou que algumas pessoas merecem ser torturadas. Ou que não tem nada demais que juízas, fiscais do Ministério do Trabalho e vereadoras sejam assassinados por investigarem o que (não) deveriam. Ou que camponeses podem ser emboscados porque, afinal, não passam de uma ruma de vagabundos. Em 2022, o Brasil celebra 200 de existência formal, período que se inicia com a independência política do Reino de Portugal. Extermínio – Duzentos anos de um Estado genocida denuncia que desde os primeiros momentos enquanto nação, o poder público brasileiro não se intimidou em massacrar cidadãos que ousaram se levantar para exigir seus direitos. Evidencia ainda o fato de sermos uma sociedade que quase nunca consegue equacionar conflitos — que emergem em qualquer comunidade, sem fazer uso da força, do tiro e da tortura. Do massacre dos cabanos, passando pelo de povos indígenas, sindicalistas e moradores de favelas, o Exército e as forças privadas de segurança sempre obedeceram às tarefas que grupos no topo da hierarquia política e econômica consideravam necessárias para que o povo voltasse a ser povo.