Holofotes da operação contra deputado bolsonarista escondem verdadeiros culpados do golpismo

Dez dias depois da conciliação do governo com o ACFA no evento "Democracia Inabalada", um deputado bolsonarista foi alvo de uma operação sobre o golpismo. Enquanto isso, os verdadeiros culpados seguem impunes, entocados na caserna.
Carlos Jordy foi alvo de uma operação pelas ligações com a extrema-direita. Foto: Paulo Carneiro/Ato Press/Estadão Conteúdo

Holofotes da operação contra deputado bolsonarista escondem verdadeiros culpados do golpismo

Dez dias depois da conciliação do governo com o ACFA no evento "Democracia Inabalada", um deputado bolsonarista foi alvo de uma operação sobre o golpismo. Enquanto isso, os verdadeiros culpados seguem impunes, entocados na caserna.

Dez dias depois do governo escancarar a conciliação com o golpista Alto Comando das Forças Armadas (ACFA) em um evento de celebração do 8 de janeiro, uma operação de investigação das agitações de extrema direita de 2022 e 2023 atingiu o deputado federal bolsonarista Carlos Jordy (PL-RJ). A operação investiga se Jordy foi um dos organizadores das agitações golpistas, baseada nas comprovadas ligações entre o deputado e Carlos Victor Carvalho, líder de extrema-direita em Campos dos Goytacazes (RJ). Essa foi a primeira investigação da chamada “Operação Lesa-Pátria” que mirou um deputado federal. Longe de significar um avanço, os holofotes direcionados ao peixe-pequeno do congresso ajudam a esconder os grandes culpados do golpismo no País, ainda entocados na caserna.

Segundo as informações disponíveis, Jordy e Carvalho cultivavam relações desde o final de 2022. Em 1° de novembro daquele ano, Carvalho chegou a ligar para o deputado em busca de orientações para as agitações de extrema-direita. Novos contatos foram feitos depois, inclusive depois da segunda bolsonarada. Um outro contato entre os reacionários foi feito no dia 17 de janeiro, 9 dias depois da participação de Carvalho no i 8 de janeiro de 2023 e 11 dias antes dele ser preso e ter o celular apreendido. O aparelho eletrônico foi o instrumento que revelou a conexão entre os dois.

Carvalho também citou Jordy em outras ocasiões. Ao todo, são 627 registros de mensagems de texto, áudio, anexos e ligações. Em diálogos encontrados nas investigações, Carvalho cita o deputado diversas vezes e afirma que conversou com o político sobre a posse de Luiz Inácio. No próprio dia 8 de janeiro, o cabecilha regional da extrema-direita gravou um vídeo em que gritava, histérico, que “isso aqui não é bagunça, não. Jordy, avisa o povo de Nova Iguaçu e Mesquita que nós representa essa porra”.

Caserna segue impune

É inegável o envolvimento do deputado federal do PL com a agitação da extrema-direita, e a referência destacada que os galinhas verdes tinham no político. Certamente, Jordy não é o único deputado federal com essas relações. Outros já estão na fila para serem investigados. Mas, apesar do envolvimento, não são eles as verdadeiras cabeças da serpente do golpismo no país. O “erro” pensado e proposital cometido pela operação “Lesa-Pátria” é o mesmo das outras iniciativas lançadas pelo governo, polícia ou altos tribunais para “investigar” o golpismo no País, como a CPMI do 8/1 e as sessões de condenação do STF: ignorar os generais e focar nos peixes-pequenos e buchas de canhão.

Nenhuma das iniciativas empenhadas até agora conseguiu punir de forma significativa algum general golpista. Até mesmo os generais da reserva mais escancaradamente ligados aos galinhas verdes passaram impunes, como é o caso do general Braga Netto, que visitou acampamentos e participou de reuniões secretas com Bolsonaro e os generais logo após a derrota eleitoral do ex-chefete da extrema-direita. 

No caso dos da ativa, a situação é ainda pior. Até hoje, o governo não deu um pio de questionamento sobre a participação do atual comandante do Exército, Miguel Miné Tomás Paiva, bem como dos outros generais que ainda estão no Alto Comando, nas reuniões da Cúpula da Força que debateram, após a derrota de Bolsonaro, a deflagração de um “Estado de Defesa” no País; ou sobre as ações das Forças Armadas nos últimos oito anos, marcados pelo crescente golpismo do Alto Comando no País. Ainda é necessário lembrar do famigerado tweet de Villas-Bôas de intimidação ao STF, redigido em novembro fe 2018 por todo o Alto Comando do Exército, em época que Tomás Paiva já era general e integrante da cúpula? 

O governo também não pareceu se incomodar o suficiente para questionar as declarações abertamente tutelares de Miguel Miné sobre o governo. Somente no ano passado, Paiva afirmou que era papel do comando do Exército impedir que o governo fizesse uma reforma nas Forças Armadas. O comandante também se reuniu, por livre e espontânea vontade, com o presidente da finada CPMI do 8/1, Arthur Maia, talvez para garantir que as investigações não afetariam certos generais. Após o encontro, Maia saiu afirmando para os quatro ventos a necessidade de preservar a “instituição” forças armadas. Reuniões do mesmo tipo, ou com pautas diferentes, como a pressão por mais investimentos ou em torno de projetos que debatiam a presença de militares em cargos políticos, foram feitas diretamente com Luiz Inácio, e todas foram seguidas da obediência do governo ao que era exigido pelo Alto Comando. Nunca houve um questionamento da presidência sobre o porquê as Forças Armadas reacionárias estavam, ainda, interferindo tanto nos rumos do governo.

Conciliação reacionária

Na celebração do 8 de janeiro mal chamada de “Democracia Inabalada”, o governo repetiu, assim como o intimidado Arthur Maia, os cacarejos de isentar a “instituição forças armadas”. Um dia antes, por meio do ministro da Defesa, José Múcio, o Palácio do Planalto afirmou que é preciso tirar a “nuvem de desconfiança sobre as Forças Armadas”. No evento, os comandantes das três forças armadas reacionárias marcaram presença. Ao lado de Múcio, ficaram em silêncio durante toda a comemoração, quase em uma encenação de sua tutela e seu “protagonismo silencioso” sobre a Nação. 

Não adianta os esforços do governo e demais instituições para fingir um “combate ao golpismo”. Todos eles já selaram e admitiram, aos olhos de todo o povo, a estratégia de conciliação reacionária com os verdadeiros orientadores do golpismo no País. 

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