Rapaz foi chicoteado com fios em uma sádica sessão de tortura na sua própria casa. Foto: Guadalupe News
Durante uma operação de guerra realizada no último dia 26 de julho, no Morro do Chapadão, Zona Norte do Rio de Janeiro, policiais militares invadiram uma residência e torturaram um homem que sofre de autismo e esquizofrenia, utilizando um fio como chicote. A denúncia foi levada ao Ministério Público do Rio de Janeiro pelo irmão do rapaz, que trabalhava no momento da tortura.
O homem torturado tem 34 anos e estava dormindo sozinho em casa quando os policiais invadiram sua residência, sem mandado de busca. O fato do rapaz sofrer com problemas mentais não sensibilizou nem impediu o sadismo dos torturadores.
“Estava tendo operação lá na comunidade e os policiais entraram para fazer a revista. Entraram em outras casas também. Quebraram várias coisas, revistaram a casa toda. Eu encontrei os fios usados na tortura no chão de casa”, disse o irmão do homem torturado em entrevista ao jornal O Dia. Ambos não quiseram se identificar.
Os dois irmãos foram obrigados a fugir da favela, pois, segundo o irmão do rapaz torturado: “Eles pegaram todos os meus dados, documento, placa do meu carro. Eu estou com muito medo de algo acontecer, por isso saí de lá e estou morando longe da comunidade”. Ele relatou ainda que o muro da residência foi destruído durante a operação.
Lógica de guerra: saques, humilhação, mortes e torturas
Esse não é um caso isolado e tampouco se limita ao Morro do Chapadão. No entanto, nessa região específica da cidade concentram-se os abusos e todo o ódio antipovo da Polícia Militar (PM), com rédeas soltas.
Em junho de 2018, durante uma operação da PM, uma moradora denunciou:
— Uma viatura do Exército passou por mim e pelas meninas e jogou spray de pimenta na gente. Eu fui atrás do tenente e ele disse que eu devia ter pego o número da viatura. Mas como, se a gente estava coçando o olho? Estou com o gosto de pimenta na boca até agora. Eles esperam escurecer para fazer arruaça aqui dentro. É por isso que o Complexo do Alemão expulsou eles de lá e vai acontecer aqui também! — exclamou, em áudio enviado à Redação de AND à época.
— Eles invadem a nossa casa impondo autoridade… Quando a gente pede o mandado, eles dizem: ‘Quem são vocês para pedir mandado? A lei aqui somos nós! Cambada de vagabundas!’, é do que a gente é chamada, do lado dos nossos filhos — indignou-se uma moradora do complexo que não quis identificar-se, em relato dado à Redação de AND em fevereiro de 2018. E prossegue:
— Eles pegam tênis de marca e levam, humilham a gente dizendo que a gente não pode ter isso, sabão em pó de marca eles jogam no chão, entendeu? Coisas que eles acham que a gente não pode ter, porque é caro, eles levam. Eletrodoméstico, móvel, tudo. Assim é o cotidiano, sem ter nada e sem poder nada — desabafa.
Toda ação do velho Estado, no entanto, gera resistência e abre caminho para a tomada de consciência do proletariado nas favelas.
— Nós é que somos fortes, de pouquinho em pouquinho a gente se une e abre os olhos para ver que isso que está lutando contra a gente é o velho Estado! Unido, o povo vai derrotar e mostrar quem é que manda na nossa terra — concluiu a moradora.