O imperialismo ianque iniciou no dia 1° de junho o envio de tropas de diversas forças militares ao Peru para a realização de “treinamentos conjuntos”. A entrada das tropas militares ianques se deu após aprovação pelo Congresso peruano no dia 14 de maio e anúncio da medida por parte da presidente lacaia, Dina Boluarte, e do ministro do Interior, Vicente Romero, no dia 31/05. Esta medida contrainsurgente é um grave desenvolvimento da intervenção imperialista ianque na América Latina e busca impedir e conter os levantes populares e as revoluções em curso no subcontinente.
As manobras tuteladas pelos ianques tomarão local em diversas regiões do Peru que foram palco de grandes rebeliões nos últimos meses, ou que são foco da Revolução Peruana em curso. Dentre as áreas que sediarão os treinamentos imperialistas estão Apurímac, Ayacucho, Ucayali, Huancavelica, Iquitos, Pucusana, Junín, Pasco, Santa Lucía, San Martín, Loreto, Callao e Lima.
Os ianques devem realizar operações especiais com diferentes destacamentos e unidades das subservientes forças militares e policiais peruanas, como Comando Conjunto de Inteligência e Operações Especiais (Coeic), as Forças Especiais Conjuntas (FEC), Forças de Operações Especiais (FOE) da Marinha, Grupo de Forças Especiais (Grufe) da Força Aérea Peruana, Diretoria Antidrogas (Dirandro) e Direção de Forças Especiais (Diroes) da Polícia Nacional.
Além dos mais de mil militares propriamente ditos, o Pentágono fornecerá armas, aviões, caminhões e barcos de resposta rápida para as manobras. Os enviados ficarão no país ao longo de todo o segundo semestre de 2023.
Intervenção preventiva
Os recém-anunciados treinamentos conjuntos significam um aprofundamento da intervenção imperialista ianque no Peru, que tem se desenvolvido de forma mais escancarada desde o ano passado como forma de tentar conter a crise política no país e a luta das massas peruanas. Por meio do aprofundando de sua intervenção, o imperialismo ianque busca preparar o terreno para a prevenção e contenção de novos levantes populares no país e, sobretudo, atacar as bases da Revolução Peruana, dirigida pelo Partido Comunista do Peru (PCP), que existem no Vale dos Rios Apurímac, Ene e Mantaro, região conhecida como Vraem.
Um documento expedido pela Força Aérea do Peru sobre a intervenção é categórico sobre as razões do treinamento e os alvos: “o objetivo é treinar para lutar contra ameaças comuns e de impacto regional e global”, admite a nota. O texto afirma ainda sobre a possibilidade da atuação de forças conjuntas em situações reais no futuro, e não somente em treinamento: “[o objetivo é] integrar os líderes das nações participantes para enfrentar de forma sinérgica e determinada situações em que uma força conjunta combinada atue”.
Atualmente, as Forças Armadas reacionárias do Peru são usadas principalmente para conter grupos guerrilheiros e grandes rebeliões dentro do próprio país. No próprio dia 01/06, os militares reacionários peruanos afirmaram que suas tropas haviam destruído um acampamento guerrilheiro no Vraem. De acordo com os militares, os guerrilheiros eram do Exército Popular de Libertação (EPL), dirigido pelo PCP. Eles afirmaram ainda que apreenderam brochuras, cartões de celulares e outros materiais, além de terem destruído mantimentos e armas. Já no início do mês passado, os militares peruanos foram objeto de denúncia em um relatório da Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), que investigou as “graves violações” e uso “desproporcional, indiscriminado e letal” da violência “por parte de policiais e militares” nas manifestações contra o Congresso e o governo de Dina Boluarte no final do ano passado e início deste ano.
Peru não é caso isolado
A intervenção ianque não ocorre só no Peru, mas em todaa América Latina. Isso é resultado da própria fragilidade da dominação ianque no subcontinente, atualmente atacada e questionada tanto pelas massas populares quanto aproveitada por outras potências imperialistas que buscam crescer sua influência no “quintal” dos ianques, a exemplo da Rússia e da China. Caso emblemático deste tipo é o do Canal do Panamá, região historicamente de domínio ianque e que hoje é competida pelo social-imperialismo chinês.
Para barrar quaisquer ameaças à sua joia mais preciosa, o imperialismo ianque promove de forma cada vez mais constante os treinamentos conjuntos de suas próprias forças armadas com exércitos de países latino-americanos em territórios estratégicos. É o caso do próprio Brasil, onde, no início de maio, foi anunciado um treinamento militar com tropas do imperialismo norte-americano nos estados do Amapá e Pará, ambos localizados na Amazônia Legal, região estratégica tanto no âmbito econômico quanto no militar, principalmente na contenção de levantes.
No ano de 2022, a Amazônia Legal foi, novamente, o principal foco da luta pela terra no país. Em 2020 e 2021, as grandes batalhas camponesas que ocorreram entre as famílias de áreas como Manoel Ribeiro, Tiago Campin dos Santos, Dois Amigos e Ademar e as tropas da Polícia Militar e serviços de inteligência ficaram conhecidas nacionalmente. As batalhas comprovaram a ineficácia das forças de repressão (desde os executores da PM até os comandantes das forças armadas) frente à resistência organizada das massas. Na área Manoel Ribeiro, por exemplo, um enorme cerco militar foi rompido na calada da noite por centenas de famílias sem que ao menos os militares se dessem conta.
Além do Brasil e do Peru, fortes tormentas da luta de classes abalam ainda outros países do subcontinente. Na Colômbia, protestos camponeses e indígenas crescem a cada dia paralelamente com a luta armada travada pelas guerrilhas no país. No ano passado, o mundo acompanhou de perto a grandiosa rebelião popular no Equador, que mobilizou milhares de massas do campo e da cidade. Não por acaso, tanto a Colômbia quanto o Equador também têm sido vítimas da ampliação da intervenção imperialista ianque nos últimos anos, e receberam visitas do Comando Sul do Estados Unidos (Southcom) no ano passado.