O presidente ianque Donald Trump anunciou nesta quinta-feira (10/04) o envio de tropas ao Canal do Panamá para desafiar a crescente influência chinesa na região. O anúncio foi dado dois dias depois que o secretário de Defesa dos Estados Unidos (EUA), Peter Hegseth, em uma visita ao país, afirmou que “não permitirá” que a China ou outro país atrapalhe os planos do imperialismo ianque para o canal.
Ainda não se sabe o número exato do contingente de tropas invasoras que foi enviado ao Panamá, mas Trump alegou que são “muitas”. “Deslocamos muitas tropas para o Panamá e ocupamos algumas áreas que costumávamos ter e não tínhamos mais. Mas agora, nós temos. E eu acho que está sob muito bom controle”, afirmou o presidente ultrarreacionário.
As tropas foram enviadas depois de uma série de articulações com o governo do Panamá, submisso aos interesses dos EUA. A semana começou com a visita do chefe do Pentágono ao país latinoamericano no dia 07/04 para uma conferência de “segurança regional”. No dia seguinte, o representante ianque declarou que naquele momento “unidades militares baseadas nos EUA estão envolvidas em exercícios conjuntos, planejamento e outras formas de cooperação com nossos parceiros panamenhos nos lados do Atlântico e do Pacífico do canal”, destacando que “não permitirão que a ‘China comunista’ ou qualquer outro país ameace a operação”.
Segundo o governo dos EUA, o plano inicial era instalar uma base militar no Panamá. Mas, com o andamento “amigável” das conversas que envolveram Hegseth, o comandante do Comando Sul do EUA (Southcom), almirante Alvin Holsey, e “autoridades” subservientes panamenhas, foi decidido por entregar ao imperialismo americano o direito de pousar seus navios de guerra de graça nas adjacências do canal para treinamentos, além de ceder o uso gratuito e prioritário da hidrovia.
Para não sair como um covarde e entreguista, o presidente panamenho José Raúl Mulino afirmou que os EUA “reconhecem a soberania nacional” do país centro-americano. Talvez ele não tenha ouvido bem Hegseth, que disse em alto e bom tom que as tropas no Panamá representam que o EUA está recuperando o controle do seu “quintal”.
Ocupação antiga
O Canal do Panamá funcionou como base militar e comercial controlada pelos norte-americanos até 1999, quando, desgastados após décadas de conflitos contra as massas populares da América Central, os ianques entregaram o controle formal da via para o governo panamenho. O Panamá também foi sede da Escola das Américas do EUA, um centro militar ianque dirigido pelo Pentágono para treinar militares latinoamericanos em estratégias de contrainsurgência e combate ao “inimigo interno”.
A possibilidade da reocupação do Panamá já havia sido sinalizada por Donald Trump no início desse ano, em meio a um possível acordo da China com o governo do Panamá. A ameaça gerou uma grande revolta no povo panamenho. Bandeiras do EUA e bonecos de Donald Trump foram incendiados durante as manifestações. Acovardado, o governo do Panamá cancelou imediatamente o acordo com a China, mas o passo atrás não foi o suficiente para impedir que os planos ianques se materializassem.
Contenda com a China
O retorno da presença militar dos EUA ao Panamá 25 anos depois ocorre em meio a intensos conflitos de interesses do imperialismo norte-americano e do social-imperialismo chinês. Nos últimos anos, a China se apropriou de grande parte das operações da hidrovia, instalou empresas na América Latina e chegou a cooptar alguns países para o megaprojeto imperialista “Iniciativa Cinturão e Rota”, ou “Nova Rota da Seda.
Para dissuadir o intervencionismo chinês, os ianques têm aprofundado a militarização do subcontinente por meio de exercícios militares nos países latinoamericanos ou na costa das Américas Central e do Sul e intervenções diretas em países como o Peru, Colômbia e, agora, Panamá.
O EUA também têm concentrado parte de seu complexo militar-industrial em partes da Ásia para conter o avanço da China sobre territórios como Taiwan, Ilhas Fiji, Filipinas e Mar do Sul da China. Acontece que o nível de “prontidão” dos ianques para atuar nessa parte do globo tem sido comprometido pela Resistência Anti-Imperialista Árabe no Oriente Médio, conforme revelaram fontes do Pentágono e do governo a jornalistas do monopólio New York Times essa semana.