Uma nova maneira de realizar a falsificação do trajeto do Caminho do Peabiru em S. Catarina, e de misturá-lo com influências ou presença da civilização inca (Peru) no litoral do Estado, já tentada em diversas ocasiões denunciadas por AND, foi criada há algumas semanas, por um estudante universitário de Joinville.
Frente à inexistência total de provas e evidências cientificamente aceitas sobre um suposto trecho peabiruano por Joinville (Campos do Quiriri) e por Garuva (Escadaria do Monte Crista), o estudante buscou um modo sinuoso de repetir aquilo que o Ministério Público Federal (MPF) vem investigando como propaganda enganosa (inquérito sobre “possíveis distorções de fatos históricos incontroversos”), cometida por um grupo político-empresarial de Joinville e Garuva. Uma validação acadêmica.
Arqueologia fez alerta
Conseguir uma validação acadêmica de universidades, na ótica do estudante, provavelmente seria a solução definitiva para uma sequência de deturpações sobre a rota peabiruana em SC promovida pelo citado grupo, que chegou a causar até a feitura de uma Lei equivocada pela Assembleia Legislativa (ALESC).
A importância da validação por parte de universidades, em época de negacionismos e fakes news (com predominância bolsonarista como é o caso parcial do agrupamento de políticos-empresários “peabiruanos” de SC) é tanta no país hoje que a SAB (Sociedade de Arqueologia Brasileira) chegou a advertir para a pseudociência conseguindo atingir até o ensino superior. Em dossiê publicado em 16 de maio de 2024 fez alerta para a atual “presença no ambiente acadêmico de pseudopesquisadores”. Algo impensável tempos atrás.
Dúvidas e questionamentos
Embora tal alerta não atenda ao caso do aluno de pós-graduação da Univille, Ricardo Tiburtius Logullo, que apresentou recentemente o Resumo Campos do Quiriri e o Caminho do Peabiru: Patrimônio, Turismo e Arqueologia (*) é inegável a existência de dúvidas e questionamentos sobre este seu trabalho.
Uma das objeções está no próprio título, visto que o Caminho do Peabiru, conforme se depreende no Resumo, é apenas uma das alternativas de caminhos indígenas que o aluno está ainda pesquisando na região do Quiriri e do Monte Crista em sua pós-graduação não finalizada. Portanto não foi precipitado usar a nomenclatura “Peabiru” em algo ainda inconcluso e inconclusivo?
(*) Evento – VIII Jornadas Mercosul, Universidade La Salle, de 5 a 7 novembro 2024
Peabiru é um Caminho específico
Além disso, o vocábulo Peabiru não é sinônimo de caminhos indígenas em geral. “Este é um erro grosseiro que vem se multiplicando hoje em dia”, afirma a jornalista Rosana Bond, tida como uma das maiores especialistas brasileiras no assunto, pesquisadora do Caminho peabiruano há 30 anos e autora de 5 livros sobre o tema.
“Peabiru é uma designação específica com significado material e imaterial específico. Não existe o termo ‘os peabirus’. É totalmente errado, pois ele não é um substantivo.”
Trilha solar sagrada
Segundo ela, o Peabiru foi um Caminho milenar indígena com cerca de 4 mil km, que ia do Atlântico ao Pacífico. Entendido pelo povo guarani, espiritualmente e fisicamente, como uma trilha solar sagrada que imitava o andar do Sol, começava no litoral do sul-sudeste do Brasil (SP, PR, SC) e terminava no atual Chile (ex-Peru, até a Guerra do Pacífico no século XIX).
Carroça na frente dos bois?
Outra dúvida é o estudante mencionar vestígios não documentados. Diz o Resumo que os vestígios (do suposto Peabiru naquelas regiões) “não são necessariamente visíveis ou documentados” e que por isso “é preciso promover investigações que tragam novas informações sobre o traçado e detalhe suas características”.
Ou seja, para o estudante há vestígios que não são documentados e que ainda faltam pesquisas sobre seu traçado e características. Isto é, todavia faltam muitos dados para o aluno averiguar. Não indica novamente precipitação em abordar um suposto “Peabiru” (destacado no título do texto) cheio de lacunas em um trabalho para evento universitário internacional? Uma carroça na frente dos bois?
**Imagem em destaque: Nos Campos do Quiriri (SC) não existia trecho do Caminho do Peabiru