Índia: Alunos e professores são atacados em universidade por grupo fascista

Índia: Alunos e professores são atacados em universidade por grupo fascista

Estudante da universidade de JNU é agredido por fascistas.

Cerca de 30 alunos e professores ficaram feridos após um ataque covarde de um grupo fascista na Universidade de Jawaharlal Nehru (JNU), em Nova Deli, no dia 5 de janeiro. O grupo fascista, que reuniu cerca de 50 agressores para o ataque, tem ligação com o partido do atual governo de turno (“Partido do Povo Indiano”, BJP na sigla original), de acordo com os acadêmicos.

O grupo de extrema-direita Akhil Bharatiya Vidyarthi Parishad (ABVP) invadiu uma reunião pública organizada por professores da JNU nas habitações dos estudantes dentro do campus, para discutir o aumento recorrente do valor das mesmas. Armados com bastões de ferro, pedras e outros objetos, os bandidos agrediram os professores e alunos que participavam da reunião, mas também adentraram nos dormitórios, causando pânico entre os estudantes que tiveram que se trancar em seus quartos, senão seriam agredidos e sua habitação vandalizada.

Os estudantes e professores denunciam, também, que a polícia e os guardas de segurança não fizeram nada para deter o ataque: “Era uma multidão organizada que estava determinada a fazer o que estava fazendo”, disse uma aluna ao jornal Al Jazeera.

“Estou sem palavras porque a polícia sabia que isto estava acontecendo, a segurança sabia que isto estava acontecendo e não havia ninguém deles para parar isto durante uma hora, apesar da polícia estar lá no campus e apesar dos estudantes pedirem ajuda”, disse.

Fascistas quebram portas de vidro e arrancam cartazes na universidade. Foto: Vipin Kumar/Hindustan Times

Rana Ayyub, uma jornalista indiana que estava presente durante o ataque, disse ter ouvido, ao lado da polícia que estava estática no campus, um homem gritar que os “anti-nacionalistas” e “naxalitas urbanos” (como são chamados os tachados como simpatizantes dos maoistas) deveriam ser retirados da universidade, e, junto dele, outros homens entoaram “traidores da nação devem ser fuzilados”, referindo-se aos estudantes da universidade.

A jornalista também disse que viu os fascistas se aproximando de estudantes mulheres, chamando-as de “terroristas” e dizendo a elas: “nós acreditamos em igualdade de gênero, nós acabamos de mostrar isso dentro do dormitório às suas colegas, se quiserem mostramos pra vocês aqui e agora”, após as estudantes reagirem aos insultos.

Em denúncia, os estudantes pontuaram que, durante os protestos estudantis na universidade contra o aumento do preço da moradia no campus, diversos alunos foram detidos ou presos e, no entanto, durante o ataque dos fascistas encapuzados e armados de bastões a polícia não efetuou nenhuma prisão. O grupo fascista também não foi responsabilizado até o momento, tendo em vista que alegou que o ataque teria sido feito por “estudantes de esquerda” contra outros estudantes.

Ataques fascistas contra estudantes são frequentes

Os estudantes da JNU e muitos professores há tempos enfrentam ataques do governo de turno e seus apoiadores, tendo inclusive sido chamados de “anti-nacionalistas” por se oporem à agenda supremacista hindu do primeiro-Ministro Narendra Modi. O próprio grupelho que atacou os dormitórios está ligado ao partido fascista BJP.

“Se a ABVP e este governo pensam que vamos parar de lutar contra suas políticas brutais, eles estão enganados. A JNU vai lutar até que seu último aluno esteja vivo. Eles não podem quebrar nosso espírito”, disse outro estudante, Kaushiki.

“Nos últimos anos, tem havido um ataque intelectual à JNU, que é uma das principais universidades da Índia”, disse um professor ao Al Jazeera, às portas da universidade.

“O que vemos hoje é possivelmente o auge do que tem acontecido nos últimos anos. Anteriormente houve uma destruição intelectual da JNU, agora estamos olhando para a destruição física da JNU”.

O ataque também foi usado para promover um policiamento ostensivo da universidade conhecida por ter ideias progressistas, mas que agora conta com policiais e guardas por todo o campus, mesmo que esses já não tivessem impedido o ataque primeiramente.

Estudantes em todo o país condenam o ataque fascista e covarde

Estudantes protestam na JNU contra o covarde ataque aos seus colegas e professores, e a conivência das forças da repressão com ele. Foto: Getty Images

Estudantes de toda a Índia protestaram contra o ataque acontecido na JNU, após vídeos das agressões terem circulado e viralizado pela internet.

Protestos em repúdio ao ato covarde aconteceram nas cidades de Chhattisgarh, Bangalore, Mumbai e Hyderabad, bem como na capital de Nova Deli.

Já no dia 6, um dia após o ataque, cerca de 1 mil pessoas reuniram-se em Mumbai, com manifestações em Hyderabad, Chennai (antiga Madras) e Ahmedabad, entre outros.

Estudantes protestam por todo o país em solidariedade aos estudantes e professores da JNU. Foto: Getty images

Mallige Sirimane, uma manifestante da cidade sulista de Bangalore, disse ao monopólio de imprensa BBC: “A JNU tem sido a inspiração para muitas lutas por todo o país. Isto não só porque é uma universidade exemplar, mas também pelo espírito de luta que tem, embora os seus estudantes tenham enfrentado muitas atrocidades”.

Os estudantes colocam que os estudantes foram atacados pela sua grande presença nos protestos contra o aumento do valor da moradia estudantil, mas também nos protestos contra a “Lei Emenda de Cidadania” (LEC)

“Está obviamente em relação à LEC”, disse um manifestante ao mesmo canal. “Todos esses estudantes estão protestando contra o governo, por isso eles querem matar essas vozes”.

Medidas fascistas de Modi

Esse incidente é o mais novo de uma série de confrontos violentos que mataram pelo menos duas dúzias de pessoas em meio a protestos sobre uma nova lei de cidadania que o governo do primeiro-ministro Narendra Modi aprovou em dezembro de 2019.

Leia também: Povo indiano protesta contra a ‘reforma constitucional’ fascista

A lei permite que Nova Deli conceda cidadania acelerada às “minorias” religiosas de três países vizinhos que tenham entrado na Índia até 31 de dezembro de 2014, entretanto, como parte da maior agenda nacionalista hinduísta de Modi, muçulmanos, que consistem em um terço da população indiana, foram excluídos do processo.

Também, em setembro de 2019, o governo de turno de Modi começara a construir campos de concentração para “abrigar” as pessoas que ficaram de fora da “lista final do Registro Nacional de Cidadãos”, aprovada no mesmo mês. A “lista final de cidadania” consistia em determinar, através de um processo burocrático de documentação, se a pessoa em questão poderia ser considerada cidadã indiana ou não. Muçulmanos, mesmo que com os documentos completos, foram arrancados de sua cidadania, assim como camponeses e operários pobres, que não possuíam toda a ostensiva documentação necessária para permanecerem cidadãos.

Leia também: Índia: Governo constrói campos de concentração para pobres

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