Uma fotografia mostrando muçulmanos orando na mesquita em Barabanki. Foto: Cortesia de Syed Farooq Ahmad ao Al Jazeera.
Moradores do distrito de Barabanki, em Uttar Pradesh, denunciam a administração local por demolir uma mesquita de 100 anos de idade, no dia 17 de maio. A mesquita era frequentada pelos residentes muçulmanos. O governo local está nas mãos do partido fascista hindu Bharatiya Janata (BJP).
A Mesquita Ghareeb Nawaz Al Maroof foi demolida depois que centenas de policiais cercaram a área e interromperam o movimento de pessoas para impedir qualquer protesto.
Desde 2017, Uttar Pradesh é governado pelo partido fascista hindu Bharatiya Janata (BJP). O estado mais populoso da Índia com quase 220 milhões de habitantes, quase um quinto dos quais muçulmanos, é governado pelo monge Yogi Adityanath. O ministro chefe do estado é conhecido por seu posicionamento anti-antimuçulmano.
O ataque contra a minoria muçulmana mostra que, mesmo durante a pandemia da Covid-19, o velho Estado indiano e seu chefe, Narendra Modi, seguem a perseguir os povos minoritários que lá se encontram. Aprofundando a opressão contra as massas, que já se situa em níveis absurdos, e contra a qual milhares de indianos se levantam na Guerra Popular, liderada pelo Partido Comunista da Índia (Maoista).
Ação chauvinista aprofunda a revolta das massas
A administração local construiu um muro para barrar a entrada à mesquita já em 19 de março. O fato gerou revolta entre os moradores, que organizaram protestos Em retaliação, o governo procedeu à prisões e espancamentos
Syed Farooq Ahmad, um estudante de direito de 28 anos e ativista de Uttar Pradesh, disse ao monopólio de imprensa Al Jazeera que “as pessoas que se opuseram a eles foram espancadas e presas. Eles foram acusados sob diferentes casos para assustá-los”, disse Ahmad. “Eles prenderam quase 30 pessoas. Os muçulmanos da localidade foram aterrorizados e muitos fugiram”.
A administração havia proibido orações na mesquita durante todo o mês de abril.
Depois que os muçulmanos foram reprimidos brutalmente, toda a área ao redor da mesquita foi circulada pela polícia no dia 17/05, todo o movimento parou e a mesquita foi demolida à noite, seus escombros jogados em um rio próximo.
Demolição foi ilegal
No dia 18/05, o Uttar Pradesh Sunni Central Waqf Board, um órgão muçulmano que cuida de mesquitas e outros bens da comunidade no estado, condenou a demolição e disse que ela foi feita em desafio a uma ordem judicial para deter as demolições de supostas “estruturas ilegais” até 31 de maio, em vista da pandemia do coronavírus.
Em uma declaração, a diretoria chamou o ato de uma “ação ilegal e arbitrária da administração”.
O estudante Ahmad também afirmou que “Em 15 de março deste ano, a administração enviou um aviso de causa de exposição ao comitê da mesquita, mencionando uma ordem judicial do tribunal superior de que construções religiosas ilegais que causem interrupção no trânsito serão demolidas”.
De acordo com Ahmad, o número de identificação do terreno mencionado no aviso de causa de exposição não pertencia à mesquita. Ele acrescentou, ainda, que a mesquita estava a mais de 30 metros de distância da estrada e não perturbava o tráfego.
Destruição dos locais religiosos muçulmanos
A Índia tem uma longa história de disputas por estruturas religiosas, principalmente as construídas durante o domínio mughal do século 16 ao início do século 19. A maioria dessas estruturas está no estado de Uttar Pradesh.
A apenas 100 km de Barabanki fica a cidade de Ayodhya, onde uma mesquita do século 16 foi demolida em 1992 pelos hindus extrema-direitistas que afirmaram que a estrutura ficava no lugar exato onde nasceu Lord Ram, uma divindade hindu.
Em novembro de 2019, a Suprema Corte da Índia entregou um local disputado em Ayodhya aos reclamantes hindus, permitindo a construção de um templo Ram sob a supervisão do governo.
Em agosto do ano passado, quando a pandemia da Covid-19 assolou toda a Índia, o Primeiro Ministro Narendra Modi voou até Ayodhya e realizou a cerimônia de inauguração do novo templo, planejado para ser inaugurado antes das eleições nacionais de 2024.
Em abril deste ano, um tribunal em Varanasi – também o eleitorado parlamentar de Modi – aprovou uma ordem relacionada a uma disputa de mais de um século de mesquita e um templo situado um ao lado do outro em um caso que lembrava a disputa de Ayodhya.
A decisão da corte se seguiu a petições apresentadas por grupos de direita hindus que alegavam que o Imperador Mughal Aurangzeb demoliu uma parte do templo Vishwanath para construir a Mesquita Gyanvapi no século XVII.
As disputas – muitas vezes levando a violentos enfrentamentos – deixaram os muçulmanos minoritários da Índia ainda mais revoltados.
Velho estado promove opressão e terror aos muçulmanos
O impulsionamento da agressão contra muçulmanos, religiosa e até mesmo física, já é de praxe no governo fascista de Modi.
No final do ano de 2019, um novo projeto de lei, que foi conhecido amplamente como emenda “anti-muçulmana’ no país, fez parte da movimentação corporativa fascista do governo de turno de Narendra Modi, que não tenta prevenir em nenhuma medida a violência contra a população muçulmana, mas inclusive incentiva e propaga o chauvinismo hindu, como forma de conseguir apoiadores ao seu governo de turno.
Em fevereiro de 2020, um ataque terrorista de fascistas hindus, insuflado pelo BJP, que dispõe de grupos fascistas enquanto paramilitares para aterrorizar o povo, mais de 20 pessoas foram mortas e quase 200 feridas. Isso ocorreu um dia após o líder do Partido Bharatiya Janata (BJP), Kapil Mishra, “advertir” manifestantes para que acabassem os protestos contra a lei “anti-muçulmana” nas áreas de Jafrabad e Maujpur (umas das afetadas pelo ato terrorista do governo), na capital indiana.
De janeiro a fevereiro de 2020, durante a onda de protestos contra o projeto de lei, dois homens com ligações diretas à extrema-direita atiraram indiscriminadamente contra pessoas que se manifestavam contra o chauvinismo e discriminação do povo muçulmano.
Em dezembro de 2019, a Universidade Jamia Millia Islamia (JMI) foi atacada por grupos fascistas e por agentes da repressão, promovendo terror contra os estudantes, na universidade islâmica. O grupo que levou a cabo esse ataque é conhecido por ter ligações diretas ao partido do governo de turno, BJP. Depois, em janeiro de 2020, a Universidade de Jawaharlal Nehru (JNU) sofreu um ataque similar, também orquestrado por grupos de extrema-direita, com a conivência dos policiais, que não impediram em nenhum momento as agressões.
Em agosto do ano de 2019, despojou o estado majoritariamente muçulmano de Jammu e Caxemira de seu status autônomo, essencialmente dando ao velho Estado mais controle sobre os assuntos da região.
Nesse mesmo mês, o governo de turno começou a construir campos de concentração para a população pobre e muçulmana do país, através da “lista final do Registro Nacional dos Cidadãos”, que arrancou a cidadania de milhares de indianos bengalis e muçulmanos, assim como de indianos hindus pobres e camponeses, que não tinham a extensa documentação necessária para comprovar sua cidadania.