A MS-156, que atravessa a Reserva Indígena de Dourados, Mato Grosso do Sul, foi bloqueada na última segunda-feira, 25 de novembro, por indígenas das aldeias Jaguapiru, Bororó e Panambizinho. O protesto exige soluções imediatas para a falta de água que afeta cerca de cinco mil indígenas Terena e Guarani Kaiowá. Entre as reivindicações estão o envio de caminhões-pipa e a perfuração de poços artesianos.
A situação escalou quando a Tropa de Choque da Polícia Militar foi enviada ao local para cumprir uma ordem judicial de desbloqueio e reprimiu brutalmente os indígenas em luta. A ação da polícia deixou pelo menos 20 indígenas feridos, incluindo duas mulheres e uma criança hospitalizadas, além de quatro prisões.
Testemunhas relatam o uso de bombas de gás lacrimogêneo e até mesmo utilização de munição letal, além de disparos indiscriminados de bala de borracha. Dentro da aldeia Jaguapiru moradores foram surpreendidos por explosões e ataques às casas.
Os indígenas afirmam que o protesto era pacífico até a chegada da polícia. Vídeos feitos pela comunidade mostram policiais avançando com força desproporcional. Uma mulher foi atingida por um tiro de bala de borracha a queima roupa ao tentar socorrer o marido, que estava sendo injustamente detido. Confira:
“Queremos água, não promessas”
Luzinete Terena, uma das lideranças do protesto, descreveu o pedido dos manifestantes: “Não queremos cargo, não queremos emprego, a gente quer água pra viver”. Segundo ela, a falta de água compromete atividades básicas, como beber, cozinhar e manter a higiene.
O rezador Getúlio Guarani Kaiowá, presente na manifestação, foi uma das vítimas do spray de pimenta. “Como nossos povos vão pra um protesto violento levando rezador? Era para mostrar às autoridades nosso descontentamento”, lamentou uma liderança indígena.
Repercussões e tensões políticas
A ação policial foi criticada por lideranças locais e organizações de direitos indígenas. O deputado estadual Pedro Kemp (PT/MS) destacou que a entrada da polícia na Reserva é ilegal e pode ter consequências graves: “A estrada estava fechada por um protesto legítimo. Se morrer um indígena, a responsabilidade é do governo estadual”.
O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e o Ministério Público Federal (MPF) acompanham a situação. O Cimi alertou para o risco de novas ações violentas caso não haja diálogo efetivo entre os governos e os manifestantes. Em nota, o Conselho do Povo Terena repudiou a ação brutal da tropa de choque.
Falta de água histórica
A falta de água é um problema crônico na Reserva de Dourados. Recentemente, um convênio de R$ 60 milhões entre a Itaipu Binacional, o Ministério dos Povos Indígenas e o governo estadual foi anunciado para melhorar o abastecimento em aldeias no Cone Sul do estado, mas a Reserva de Dourados não foi contemplada.
O Ministério da Saúde reconheceu que os 14 sistemas simplificados de abastecimento existentes na região não atendem à demanda local. A Sesai negocia soluções conjuntas com a Sanesul e o Ministério das Cidades para a extensão da rede de abastecimento.
Enquanto isso, os indígenas permanecem em vigília, aguardando uma resposta concreta das autoridades.