Foto: Lalo de Almeida/FolhaPress
Enquanto as queimadas na Amazônia dominavam o noticiário do mundo inteiro na semana passada, a resistência de um povo guerreiro passou quase despercebida em meio à crise diplomática que se abriu entre o Brasil e os imperialistas do G7. Cansados de esperar uma atitude do governo federal, os índios da etnia Xikrin expulsaram invasores que estavam desmatando e queimando a Terra Indígena (TI) Trincheira Bacajá, no município de São Félix do Xingu (PA).
Armados de espingardas e bordunas, os indígenas formaram uma expedição para retomar as terras que foram invadidas no final do ano passado, com a conivência do velho Estado. No local, os invasores, em sua maioria camponeses sem terra desesperados por décadas de uma inexistente “reforma agrária”, já haviam preparado vários hectares e preparado pastagem em algumas áreas invadidas. Ao verem os guerreiros indígenas armados, os invasores não ofereceram resistência e concordaram em deixar as terras. Além de expulsá-los, os índios apreenderam motosserras, espingardas e ferramentas.
‘Bolsonaro liberou, por isso a gente veio’
Em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, a liderança Bekara Xikrin disse que os camponeses foram induzidos a invadir a água por conta das declarações do Bolsonaro. O camponês teria dito: “A terra está liberada, o Bolsonaro liberou, por isso que a gente veio. A gente quer trabalhar, quer ajudar indígena”. O líder indígena rebateu: “Não, este indígena não quer, guerreiros velho não quer, não pode desmatar”.
Atualmente, o Pará possui o trágico título de ser o estado com maior índice de desmatamento da Amazônia legal, e somente no mês de julho a Trincheira Bacajá perdeu 15 km² de terra.
Enquanto isso, a concentração de terras no Brasil bate recordes, ano após ano. Segundo o Censo Agropecuário de 2017, apenas 2,4 mil fazendas com mais de 10 mil hectares (grandes latifundiários), representando miseráveis 0,04% das propriedades rurais no Brasil, ocupam 51,8 milhões de hectares. Enquanto isso, as propriedades rurais com até 50 hectares (camponeses pobres e médios), representando 81,3% das propriedades rurais, ocupam ainda menos terras: apenas 44,8 milhões de hectares.
Diante de tal concentração fundiária, os latifúndios vão apoderando-se de nacos cada vez maiores das terras cultiváveis, espremendo os camponeses pobres e os povos originários para as miseráveis fatias sobrantes, incitando disputa e conflito entre eles.