Mísseis disparados pelo Irã na madrugada do dia 8 de janeiro. Foto: Reprodução redes sociais.
O ataque orquestrado pelo imperialismo ianque com a autorização do presidente ultrarreacionário Donald Trump, no dia 3 de janeiro, começou a ser retaliado cinco dias depois, na madrugada do dia 8 de janeiro (horário local), por diversos ataques realizados contra bases e instalações militares utilizadas pelas tropas ianques na região, e até mesmo contra a Embaixada ianque no Iraque. Quatro dias depois (12), outros bombardeios ocorreram, ferindo quatro soldados ianques.
Leia mais: Ataque ianque a comandante iraniano gera onda anti-imperialista
O primeiro contra-ataque registrado foi contra a base aérea iraquiana de Ain al-Asad, na província de Anbar, onde estavam alocadas as tropas ianques e suas aliadas no Iraque, e contra uma instalação militar em Erbil (na região curda do Iraque), atingida no mesmo horário. Segundo informações de militares iraquianos, foram 22 mísseis terra-terra lançados de solo iraniano contra as bases, dos quais dois dos que estavam direcionados para a base de al-Asad não dispararam.
A ação contra a base de al-Asad, visitada por Trump de surpresa no final de 2018, ocorreu momentos antes do enterro de Soleimani na cidade iraniana de Kerman, após um funeral que durou quatro dias e percorreu diferentes cidades do Iraque e do Irã.
Além disso, mais tarde, no mesmo dia, foi reportado que pelo menos dois foguetes Katsyusha explodiram dentro da Zona Verde (área de acesso restrito e altamente militarizada de Bagdá, onde ficam os prédios diplomáticos e militares mais importantes), e que um deles teria atingido o prédio da Embaixada ianque no Iraque, porém não houve danos anunciados. Em 31 de dezembro de 2019 e 1º de janeiro de 2020, a embaixada do USA em Bagdá já havia sido depredada e atacada por manifestantes.
Já no dia 12, a base áerea de Balad, no norte do Iraque, foi atacada por pelo menos oito foguetes Katyusha. A base fica a 80 km de Bagdá.
O porta-voz da coalizão do USA no Iraque confirmou o impacto dos mísseis na Zona Verde, e um vídeo publicado nas redes sociais do jornalista Barzan Sadiq permite escutar o som das explosões, que até agora não foram reivindicadas por nenhum autor, porém especula-se que tenham sido responsabilidade de milícias iraquianas apoiadas pelo Irã.
A emissora de televisão estatal do país persa Tasnim foi a primeira a noticiar os contra-ataques iranianos, afirmando que “corajosos combatentes da marinha da Guarda Republicana lançaram uma operação bem-sucedida chamada ‘Mártir Soleimani’ para disparar dezenas de mísseis terra-terra na base das terroristas e invasoras Forças Armadas norte-americanas”.
Hassan Rouhani, o presidente iraniano, alertou no dia 8 o governo do USA caso este busque realizar outras intervenções na região: “Se o USA cometer outro erro, receberá uma resposta muito perigosa”, segundo informações veiculadas pela emissora estatal do Irã. O presidente afirmou também que “os norte-americanos e a Casa Branca não entendem a região e reconheceram o erro que cometeram após sua medida terrorista e após o levante das nações regionais e a unidade que foi criada”.
A Tasnim também transmitiu a declaração de Amirali Hajizadeh, chefe da Força Aeroespacial da autodeclarada “Guarda Revolucionária” iraniana, em que ele diz que os ataques com mísseis do Irã contra alvos ianques selecionados no Iraque não têm a intenção de matar soldados ianques, mas sim, danificar a “máquina militar” do USA.
MORTE DE GENERAL SOLEIMANI
Esse contra-ataque do Irã às forças ianques ocorre após o USA executar, em território iraquiano, o general iraniano Soleimani, tido como “número dois” do regime teocrático dos aiatolás. O general foi morto no dia 3, por bombardeio disparado via drone, no aeroporto internacional de Bagdá.
O ataque direto do imperialismo ianque contra o comandante militar mais importante do Irã é produto da escalada do conflito entre ambas as forças.
Desde 2018, o imperialismo ianque pressiona e promove ataques ao Irã com o objetivo de obrigá-lo a deixar de apoiar milícias xiitas no Iraque e na Síria. Neste último país, os grupos mercenários financiados pelos imperialistas ianques para desestabilizar e derrubar o regime de Bashar al-Assad (área de influência do imperialismo russo) foram derrotados graças à tríplice aliança do Exército sírio, das Forças Armadas russas e das milícias xiitas financiadas pelo Irã.
Já no Iraque, o regime iraniano – atuando de modo expansionista – exerce também influência através dessas mesmas milícias e de outros grupos de poder atuantes no parlamento e no sistema político. Tal influência cria problemas sérios ao imperialismo ianque, que não conseguiu adquirir controle absoluto sobre o Iraque desde a execução de Saddam Hussein e foi obrigado a retirar o principal contingente de suas tropas em 2011 após a ocupação escancarada alcançar um longo período de duração e alto custo.
Diante desse cenário, os ianques impuseram sanções econômicas ao Irã que se iniciaram mais avidamente desde 2018. Os primeiros alvos foram os setores do petróleo e financeiro iranianos. As sanções proibiam as empresas que realizavam esses negócios com o Irã de atuar no USA, excetuando as empresas de oito países, como China e outros. Depois, em abril de 2019, as sanções foram totais – incluindo os países antes isentos – e também incluíram o setor industrial de metais industriais iraniano.
Na época, as sanções pretendiam fazer o Irã se render a um acordo nuclear que impedisse enriquecimento de urânio, fragilizando e estrangulando o setor de produção de energia e, consequentemente, impedindo a expansão da economia iraniana, tudo como chantagem para que o regime do aiatolá deixasse de atuar na Síria e Iraque.
Em resposta à atitude colonial e arrogante do USA, as milícias xiitas iraquianas passaram a realizar maior movimentação no Iraque e Síria contra a presença ianque. Milícias que em 2014-2017 haviam se unido aos ianques para combater o Estado Islâmico voltaram recentemente a perpetrar ataques e operações contra as forças ianques.
Tendo fracassado sua política de sanções, o USA decidiu atacar o comandante Soleimani, como ultimato para que o Irã se submeta ou precipite-se em uma resposta que conduza a uma invasão imperialista ianque a curto prazo.
Tal pressão do USA para que o Irã deixe de exercer influência na Síria e Iraque pretende remover tal obstáculo para que o imperialismo ianque prossiga sua guerra na região, visando desestabilizar os regimes submetidos à área de influência russa e substituí-los por regimes lacaios ao USA. O Oriente Médio é uma região estratégica para a economia mundial e os imperialistas disputam a dominação sobre a região, sobretudo por meio de guerras de agressão contra os povos.
Link do vídeo do momento de disparo dos mísseis que detonaram na base de al-Asad.
Imagem de satélite da base iraquiana de al-Asad, utilizada pelos ianques em sua ocupação colonialista no país. Foto: Reprodução Google Maps.