No dia 10 de abril, policiais invadiram as casas de diversos ativistas da Ação Anti-Imperialista Irlanda (AIA, em inglês). Os militares levaram ativistas para a delegacia e apreenderam um carro, notebooks, livros de literatura política, celulares e outros aparelhos eletrônicos. As batidas arbitrárias ocorreram dentro do cenário grave de militarização e policiamento ostensivo nas ruas da Irlanda, intensificados após marchas e ações realizadas pelos republicanos contra o imperialismo britânico e a visita de Joseph Biden à Irlanda.
Segundo informações da AIA, os policiais invadiram as casas armados e apreenderam e destruíram pertences dos ativistas e familiares. Em uma das batidas, a esposa de um ativista também foi levada para a delegacia. Até a última informação publicizada pelo AIA em suas redes sociais, às 10h08 do dia 12/04, dois ativistas ainda estavam detidos.
Invasões com reforço imperialista
A recente repressão ao AIA é mais um caso na lista de ações de monitoramento, invasões de casa e patrulhamento ostensivo realizadas pela polícia britânica e tropas imperialistas nas ruas da Irlanda nas últimas semanas. Desde o fim de março, republicanos irlandeses de diversas organizações têm tido suas casas invadidas e revistadas por agentes do Serviço Policial da Irlanda do Norte (PSNI) auxiliados por militares do Exército Britânico.
As batidas ocorreram nas regiões de Derry, Tyrone e Belfast. Os republicanos relatam que as casas foram invadidas e reviradas por policiais enquanto militares britânicos, mascarados e fortemente armados, patrulhavam as ruas. Em uma das invasões, a polícia serrou a porta da casa de um republicano com uma serra elétrica e o espancou, antes de levá-lo detido. Durante as operações imperialistas, as casas dos republicanos foram registradas como “cenas de crime” e todos os familiares foram forçados a abandonar os prédios. Diversos ativistas relatam terem sido levados ao Centro de Interrogatório de Musgrave, em Belfast.
Além das invasões de casa e do uso direto de tropas imperialistas na repressão, o imperialismo britânico e seus lacaios aumentaram o efetivo policial e a vigilância pelo país, temerosos com o avanço da Resistência Nacional. Ao menos 330 policiais foram mobilizados de diferentes países do Reino Unido para a Irlanda. Segundo avisos da própria polícia irlandesa, drones seriam usados para patrulhamento aéreo.
Todo esse processo desesperado de militarização e repressão aos republicanos irlandeses ocorre como uma falha tentativa de represália e contenção à Resistência Nacional Irlandesa, que tem realizado sucessivas ações desde o ano passado e durante o mês de abril, quando é celebrado o Levante de Páscoa de 1916. A rebelião de 1916 é celebrada anualmente com marchas públicas e ataques a símbolos da ocupação britânica ou às forças policiais lacaias da Irlanda.
Republicanos não se intimidam
Somente nas últimas semanas, ao menos duas marchas republicanas ocorreram na Irlanda, nas cidades de Dublin e Derry. Nesta última, aproximadamente mil pessoas compareceram no protesto, que ocorreu mesmo sem a permissão da polícia. Durante a marcha, que ocorreu as vésperas da chegada do cabecilha do imperialismo ianque Joseph Biden à Irlanda, uma viatura foi alvejada por dezenas de coquetéis molotov arremessados por jovens republicanos.
Nos dias 12/04 e 13/04, ativistas do AIA participaram e organizaram protestos contra a presença de Biden na Irlanda. As manifestações ocorreram em frente à General Post Office, prédio que foi o quartel dos combatentes do Exército Irlandês durante o Levante de Páscoa, e em frente o Parque Phoenix, onde Biden se encontrou com políticos reacionários do Estado irlandês. Apesar das revistas arbitrárias da polícia, os republicanos mantiveram-se altivos, denunciaram a atuação do imperialismo ianque por meio da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e ergueram bandeiras com símbolos da Resistência Nacional Irlandesa.
Ainda nos últimos dias, o Exército Republicano Irlandês (IRA, sigla em inglês) enviou uma declaração ao jornal The Irish News. No documento, o IRA afirmou que “continua a recrutar, treinar” e que consolidou a sua base e estendeu as ligações internacionais. A organização declarou ainda que segue a “alvejar as forças da ocupação” e que seus combatentes não serão “encontrados por desejar quando se trata de travar a luta”.
Sobre os recentes desenvolvimentos da luta armada no país, o IRA afirmou que vai “continuar a obter e desenvolver os melhores armamentos” para que possam “persistir nessa luta vigorosamente e energicamente”. A organização afirmou ainda que tem cumprido seus objetivos “com um número de ações bem-sucedidas realizadas recentemente”. Há menos de dois meses, o IRA reivindicou o ataque a tiros de arma de fogo realizado contra um detetive sênior do PSNI. A recente declaração foi assinada por T.O.’Neill, mesmo nome assinado na declaração de autoria do ataque de março e na declaração de ano novo da organização republicana.