Israel cede a demandas após 1.400 prisioneiros palestinos ameaçarem entrar em greve de fome

Israel cede a demandas após 1.400 prisioneiros palestinos ameaçarem entrar em greve de fome

Celas destruídas em protestos de prisioneiros palestinos contra medidas punitivas adotadas nas prisões israelenses, 08/09/2021. Foto: Times of Israel  

Israel concordou em suspender as medidas punitivas impostas aos presos palestinos desde que seis prisioneiros escaparam da prisão de Gilboa, no dia 6 de setembro, depois que cerca de 1.380 palestinos encarcerados nas masmorras de Israel anunciaram que entrariam em greve de fome a partir de 17/09. Há, hoje, 4.650 palestinos aprisionados por Israel, de forma que a ação coletiva representaria quase um terço desse total. 

Os prisioneiros delinearam nove demandas: pôr fim à política de repressão arbitrária e abuso; acabar com as punições impostas a centenas de prisioneiros; libertar prisioneiros em confinamento solitário para o resto da população carcerária em geral; um retorno às condições dentro da prisão que prevaleciam antes de 05/09; cessar a política arbitrária de detenção administrativa e a renovação das penas para os detidos administrativos. 

Também exigiram o retorno das visitas familiares através de cercas em vez de vidros; implementação de visitas para famílias de presos da Faixa de Gaza; instalação de linha fixa pública permanente para uso de presidiários; permitir a entrada de produtos de cantina anteriormente proibidos, incluindo a permissão de itens de mercearia, vegetais, carnes e frutas e de entrega de roupas durante as visitas familiares. 

DETENTOS SE REVOLTAM CONTRA MEDIDAS DE PUNIÇÃO COLETIVA

A Sociedade de Prisioneiros Palestinos (PPS, na sigla original) havia trago a tona denúncias feitas pelos detentos de que, desde a fuga, os agentes carcerários israelenses os têm agredido fisicamente, proibido de sair de suas celas até para pegar sol, roubado itens pessoais de suas celas e transferido presos arbitrariamente. Além disso, o direito a visitas familiares também havia sido suspenso até o final do mês.

Cerca de 300 presos ligados ao movimento da Jihad Islâmica Palestina (JIP) foram movidos na semana passada, dado que quatro dos seis fugitivos faziam parte da organização. Em resposta à decisão de mover seus prisioneiros, presos palestinos filiados à JIP entraram em confronto com guardas israelenses em 08/09 e incendiaram nove celas das prisões de Ketziot e Ramon, no sul do território ocupado. O protesto obteve como conquista a volta do direito a visitas, segundo a Cruz Vermelha. 

Desde então, as organizações de prisioneiros anunciaram que decidiram não cooperar com quaisquer decisões relativas à transferência de prisioneiros entre alas de prisão, dizendo que “têm planos” para incendiar mais celas de prisão. 

Lideranças palestinas presas também afirmaram que, caso os agentes carcerários mantivessem as punições coletivas, os presos poderiam visar e atacar os guardas e oficiais de nas prisões de Gilboa e Shita.  

FUGITIVOS SÃO TORTURADOS APÓS RECAPTURA 

Khaled Mahajneh, advogado de um dos palestinos recapturados, Mohammad al-Ardah, afirmou que ele está sendo privado de comida, sono, cuidados médicos e que passou por “uma jornada de tortura muito difícil” desde que foi preso novamente. De acordo com Khaled, Mohammed não recebeu comida até quatro dias depois de ser preso novamente e não dormiu por mais de 10 horas por causa de rodadas consecutivas de interrogatório.

Khaled se encontrou com Mohammad no dia 15/09, depois que os serviços de inteligência israelenses suspenderam a proibição de acesso dos prisioneiros a seus advogados cinco dias após sua nova prisão. “Havia cerca de 20 interrogadores de inteligência em uma sala muito pequena que o despiram de todas as suas roupas, incluindo suas roupas íntimas, e o forçaram a permanecer nu por várias horas”, o advogado contou, “Sua cabeça foi batida no chão e ele agora está ferido acima do olho direito. Ele não recebeu o tratamento médico de que precisa até o momento”. 

Já Zakaria Zubeidi, recapturado junto de Mohammad, também passou por sessões de tortura desde sua recaptura. Seu advogado, Avigdor Feldman, disse: “Foi descoberto que o prisioneiro Zubaidi foi espancado e abusado durante sua prisão com o prisioneiro Mohammed al-Ardah, causando-lhe uma mandíbula e duas costelas quebradas”. Zubeidi “foi transferido para um hospital israelense e recebeu analgésicos após a prisão” e “sofre de hematomas e arranhões em todo o corpo como resultado dos espancamentos e abusos”, segundo Avigdor.

Dos seis palestinos que escaparam da prisão de Gilboa, apenas dois ainda não foram encontrados: Iham Kamamji e Munadil Nafiyat. 

SEIS PALESTINOS EM GREVE SOB SITUAÇÃO DE SAÚDE GRAVE 

Além das punições coletivas nas prisões israelenses e a euforia por conta da fuga dos prisioneiros, outro fator que influenciou na organização em massa de presos era a solidariedade para com seis presos palestinos que estão com estado de saúde gravemente debilitado por conta de greve de fome. 

Kayed Fasfous, Miqdad Qawasmeh e Hisham Abu Hawash, de Hebron; Raik Bisharat, de Tubas; Alla al-Araj, de Tulkarem; e Shadi Abu Aker, de Belém, estão em greve de fome prolongada, protestando contra sua detenção administrativa ou detenção sem julgamento. Eles se recusam a comer até que sejam informados do que foram acusados e quando serão soltos pelas “autoridades” israelenses. 

Fasfous, de 32 anos, é o que está sob piores condições. Em greve de fome há mais de 60 dias, recusando-se a tomar sal e vitaminas e bebendo apenas água, ele perdeu mais de 30 kg, e seu peso caiu para 40 kg. Ele foi transferido da prisão de Ofer, perto de Ramallah, onde estava preso desde sua prisão em setembro de 2020, para o Hospital Ramle, em Israel. 

“Ele não consegue andar, está em uma cadeira de rodas porque a condição de seu coração e outros órgãos vitais continuam a se deteriorar”, disse seu irmão Khalid Fasfous, ao jornal do monopólio de imprensa Al Jazeera. Até agora, nenhum parente seu, nem membros da Cruz Vermelha puderam visitá-lo. “Estou esperando para ouvir más notícias sobre ele a qualquer momento”, disse sua mãe, Fawzia Fasfous, “Não consigo dormir à noite me perguntando onde ele está e o que aconteceu com ele.”

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