Presos sobem ao telhado da prisão de San Vittore, na Itália, durante uma rebelião. Foto: Banco de Dados AND
Motins se espalharam por cadeias superlotadas (cerca de 25) em toda a Itália, diante da revolta dos presos contra medidas abusivas para “conter o coronavírus”, do dia 7 à 8 de março. Seis prisioneiros morreram durante os motins e, os familiares, que também protestaram contra a situação, foram reprimidos pela polícia.
Os reclusos, indignados pelas restrições às visitas das famílias (além de diversas outras privações, com os presídios da Itália sendo um dos mais superlotados da Europa) iniciaram incêndios e motins. Em uma prisão, os presos fizeram reféns e em outra alguns escaparam.
Em uma prisão de Roma, Rebibbia, 9 de março, os familiares dos reclusos foram acompanhados por advogados dos reclusos, que colocaram uma faixa na barricada da polícia com a frase Libertem a todos, sofrendo mais tarde uma repressão violenta dos guardas.
Os familiares dos reclusos entram em confronto com a polícia fora da prisão da Rebíbia durante uma revolta de prisioneiros, depois que as visitas das famílias foram suspensas devido ao medo do contágio do coronavírus, em Roma, Itália, em 9 de março de 2020. REUTERS/Yara Nardi.
Na prisão de San Vittore, em Milão, os presos se rebelaram, levando para o telhado e desfraldando uma faixa exigindo um indulto geral. A prisão de San Vittore contém 1.200 presos, quando sua capacidade seria de 700.
Os presos se reúnem em uma janela gradeada na prisão de San Vittore como parte de uma revolta, em Milão, Itália, em 9 de março de 2020. O cartaz diz “Liberdade”. REUTERS/Flavio Lo Scalzo
Já a maior rebelião começou no dia 7/03, numa prisão na cidade de Modena, no norte do país. Três prisioneiros morreram lá, e outros três em prisões para onde haviam sido movidos após o início da revolta, disse Francesco Basentini, funcionário da administração penitenciária no ministério da justiça.
Alguns morreram devido suicídio de overdoses de drogas, que haviam roubado das clínicas prisionais, disse uma fonte do ministério da justiça, sem dar explicações sobre o que havia causado as outras outras mortes.
Também, na mesma prisão, os presos começaram um incêndio, que foi apagado pelos bombeiros.
Em Pavia, também no norte do país, dois guardas foram feitos reféns em uma prisão após diversos casos de abuso de autoridade, na noite do dia 7/03.
Mais ao sul, prisioneiros na cidade toscana de Prato atearam fogo aos colchões.
Na Sicília, os presos se rebelaram na prisão Ucciardone de Palermo e, a televisão SkyTG 24 disse que cerca de 50 detentos conseguiram escapar de uma prisão no sul de Foggia e mais da metade deles haviam sido capturados.
Entidades democráticas que defendem os presos já haviam advertido que o medo do vírus estava atingindo os detentos de forma particularmente dura, dada a sua consciência de que suas condições superlotadas os tornavam vulneráveis, disse Alessio Scandurra, coordenador de defesa da detenção de adultos na Associação Antigone, que advoga pelos direitos dos detentos.
“Nas prisões em geral, há muita ansiedade”, disse ele em uma entrevista por telefone. “Você não pode sair, e está em um lugar onde as doenças infecciosas podem se espalhar de forma crítica. Obviamente os presos sabem disso muito bem.” Quando os administradores da prisão limitaram ou suspenderam as visitas familiares, as tensões explodiram provavelmente como uma reação de pânico a informações limitadas sobre as medidas e a propagação do vírus, disse ele.
O Procurador de Milão Alberto Nobili disse à Il Sole 24 Radio que os reclusos “aproveitaram este momento particular para exigir um melhor tratamento prisional, começando com a redução do número de presos”.
Donato Capece, secretário geral do Sindicato dos Guardas Penitenciários, acusou o governo de abandonar o sistema prisional, recusando-se a fornecer medidas suficientes para evitar a propagação do vírus e deixando os guardas por conta própria para lidar com prisioneiros ansiosos e enfurecidos. “A administração está completamente ausente”, disse ele à The Associated Press.
O Tribunal Europeu dos Direitos Humanos já havia multado a Itália por suas pobres e superlotadas condições carcerárias. Alessio Scandurra afirmou que, no final de fevereiro, a Itália tinha uma capacidade carcerária de 50.931 pessoas e uma população carcerária de 61.230. Algumas prisões têm 180% de capacidade, enquanto em todo o país a média é de 120% de capacidade, disse ele.
A acrescentar às ansiedades dos prisioneiros está a incerteza sobre o progresso dos seus casos, uma vez que o sobrecarregado sistema judicial italiano está quase parado por causa das medidas de contenção do vírus. Embora os casos em que os réus foram presos tenham sido isentos de audiências adiadas, os prisioneiros provavelmente assumem que também eles irão suportar atrasos ainda maiores no sistema de justiça, disse Scandurra.
O ministro da Justiça Alfonso Bonafede disse que, após as revoltas, o governo estava “aberto a discutir as condições prisionais”.