A “caça às bruxas” de Donald Trump contra imigrantes deu um novo passo: membros do governo estão acessando dados protegidos de vários departamentos estatais para caçar e prender imigrantes em suas casas, trabalho, escolas e até mesmo locais de lazer. Os dados também são fornecidos para outros departamentos cortarem benefícios sociais desses cidadãos, o que promete aprofundar o apartheid contra latino-americanos e árabes no país.
Uma das perseguições é chefiada pelo Departamento de Habitação e Desenvolvimento Urbano que está proibindo “famílias mistas” de habitarem em moradias públicas. O Departamento não especificou se o “status misto” é referência apenas à situação de legalidade ou se é referência a qualquer casal composto por uma pessoa estadunidense e outra latino-americana, uma vez que Trump já propôs revogar deliberadamente a cidadania de mais de meio milhão de cidadãos permanentes apenas pelo país de origem. De qualquer forma, o projeto tende a separar famílias já consolidadas no país, reencenando os tempos das leis segregacionistas existentes entre o fim do século 19 e o século 20 e chamadas de “Jim Crow”.
O Departamento de Eficiência Governamental, comandado pelo ultrarreacionário Elon Musk, também está tomando parte na perseguição às “famílias mistas”. O projeto busca meios de tornar todos os imigrantes com qualquer irregularidade impedidos de acessar qualquer programa do governo, independente com quem morem. Exemplos dos programas são cupons alimentícios, usados mensalmente por milhões de pessoas como um dos principais meios para alimentação.
Essas perseguições voltam a legitimar o conteúdo das leis segregacionistas, iniciadas em 1705 com a “Lei Anti-miscigenação” e aprofundadas com as “Leis Jim Crow”, iniciadas em 1870. Segundo as leis racistas, pessoas brancas eram proibidas de se casar com qualquer indivíduo não-branco, principalmente negros, asiáticos e indígenas. Com o novo avanço na perseguição aos imigrantes, se criam condições semelhantes para a criminalização de relacionamentos inter-raciais. Isso porque, mesmo se a lei não proibir abertamente o casamento antirracial, a perseguição é uma forma de intimidar deliberadamente que as pessoas assumam casamentos com imigrantes ou busquem se casar oficialmente com eles.
As “Leis Jim Crow” se baseavam no argumento de que as massas pretas, asiáticas e indígenas eram naturalmente criminosas, e por isso não deveriam se misturar com as pessoas brancas. O próprio “Jim Crow” era um personagem teatral que praticava crimes contra indivíduos brancos para “benefício próprio”. Esse é o mesmo argumento usado pela gestão de Trump: segundo o jornal monopolista Washington Post, um oficial do Departamento de Segurança Interna dos EUA disse que o objetivo das novas leis era identificar “criminosos violentos”, “bem como identificar quais benefícios públicos esses estrangeiros estão usando às custas do contribuinte”. Essa afirmação é facilmente contestada, uma vez que a população latina nos Estados Unidos foi responsável, somente em 2022, pela produção de mais de 3,7 trilhões de dólares, maior que países como França, Reino Unido e Índia.
À época, as “Leis Jim Crow” foram profundamente estimuladas pelo governo federal a partir de 1913, quando o presidente estadunidense Woodrow Wilson, apoiador confesso de grupos terroristas como a Klu Klux Klan, chegou a obrigar o envio de fotos para entrevistas de emprego na intenção dos grandes burgueses descobrirem antecipadamente se o candidato era branco ou não. Agora, com a nova campanha de perseguição às minorias raciais, os departamentos governamentais estão atuando de forma cada vez mais íntima com as polícias, de forma a garantir sua deportação em locais de trabalho, moradia e estudo.
Durante a última campanha para presidência, Donald Trump, simpático à grupos abertamente racistas como os Proud Boys, chegou a se referir aos latino americanos como “animais” e “não humanos”.
Além de forçar que as pessoas não assumam casamentos, o governo ianque está tentando forçar a autodeportação dos imigrantes através de uma “morte artificial”. O mecanismo funciona de maneira macabra: o governo simplesmente transfere os imigrantes que julga “indignos” de receberem os benefícios para o “arquivo de mestre de óbitos” – a lista do Seguro Social para pessoas que morreram. Na semana passada, 6,3 mil imigrantes foram transferidos para essa lista, segundo dados consultados pelo jornal monopolista ianque, New York Times.