Uma recente pesquisa realizada pela Agenda Jovem da Fiocruz e pela Escola Politécnica de Saúde revelou que um terço dos acidentes de trabalho que ocorreram entre 2016 e 2023 foram sofridos por jovens entre 20 e 29 anos, um dado alarmante sobre a realidade das relações de trabalho no País. Os dados da pesquisa revelam a grave situação de precariedade que se encontram os trabalhadores no Brasil, especialmente os jovens..
Além de tratar dos acidentes de trabalho, a pesquisa revela também informações acerca das condições de trabalho a que os jovens estão submetidos. Quase metade dos jovens (43,6%) que são considerados ocupados dentro do mercado de trabalho se encontram hoje em situação de informalidade. São dados que se inter relacionam: os jovens, sendo os que mais se acidentam em trabalho, são também os que têm menos amparo e condições seguras dado ao caráter precário do trabalho informal, que não garante, por exemplo, equipamentos de proteção e afastamento temporário do trabalho por motivos de saúde, além de submeter os trabalhadores a longas jornadas que chegam até 10 ou 12 horas de trabalho, em posições únicas (sentadas, como nos motoristas de aplicativo) e com alta carga de peso, como no caso de entregadores ou vendedores ambulantes.
Outro dado relevante é que 4,8% dos jovens já se feriram em decorrência de algum acidente de trânsito. Destes, 43,4% ocorreram em algum contexto de trabalho. Esse dado se relaciona com o fato de que grande parte do trabalho informal está relacionado com trabalho de entregas e transportes de passageiros (Uber, Ifood, Rappi, etc), empresas que inclusive não fornecem algum tipo de assistência médica ao trabalhador que está na plataforma.
Sobre o perfil dos jovens que relataram ter sofrido algum acidente de trabalho com materiais biológicos, a grande maioria são mulheres (74%). O relatório também destaca a alta incidência de acidentes com material biológico, o que revela o nível de precariedade que trabalhadores que lidam com esses materiais são submetidos, independente de receberem auxílios de insalubridade ou não. Nessa categoria específica, 74% das vítimas de acidentes são mulheres, o que está diretamente relacionado com a predominância da força de trabalho feminina em setores como enfermagem e trabalhadoras de serviços gerais. A essas condições precárias de trabalho, se soma a desvalorização do trabalho desempenhada pelas profissionais da Saúdeficou patente para todo o Brasil com a jornada de quase 30 anos atravessada pela categoria para que conseguissem aprovar um piso salarial digno.
A pesquisa como um todo fornece importantes dados para que se tenha uma dimensão do grau que está a precarização das condições de trabalho. Em 2013, a porcentagem de trabalhadores em situação de informalidade correspondia a 32,56%. Hoje o número chega a 39% em geral e 43,3% entre os jovens, como citado anteriormente. O impacto generalizou ainda mais após a aprovação da contrarreforma trabalhista que, além dos impactos severos sobre organizações e salários dos trabalhadores, flexibilizou e precarizou ainda mais as relações de trabalho.
É um reflexo direto do desenvolvimento da crise em nosso País, com o subsequente crescimento da informalidade e desemprego. Aos jovens, resta cada vez mais as relações mais precárias e a exploração máxima, com reflexos diretos sobre a saúde e estados físicos.