Foto: Daniel Beltrá/Greenpeace
Adaptação para a edição impressa (nº 226) do jornal A Nova Democracia de artigo publicado no site do mesmo no dia 25 de agosto de 2019.
Nos dias 10 e 11 de agosto foi promovido o “Dia do fogo”, uma ação política dos latifundiários bolsonaristas que devastou produções dos camponeses e pequenos produtores e cobriu várias regiões do país com nuvens de fumaça.
Em entrevista ao jornal Folha do Progresso, do interior do Pará, os próprios latifundiários disseram que o objetivo foi promover queimadas em vastas regiões do país de modo coordenado em apoio ao governo. Mais especificamente, o objetivo foi destruir florestas e áreas de preservação para apropriar-se delas, e para justificar a militarização da região e sufocar a luta pela terra, coibi-la e reprimir os camponeses em luta pela Revolução Agrária.
As queimadas tomaram áreas na região do Pará, em toda a região Amazônica e até mesmo no Centro-Oeste e na tríplice fronteira com a Bolívia e o Paraguai.
Em Rondônia, no dia 13 de agosto, o fogo das queimadas foi-se alastrando ao longo da Linha TB-14 e atingiu dezenas de casas, incluindo o assentamento Galo Velho, no município de Machadinho do Oeste. Depois do fogo se extinguir, os camponeses retornaram ao local e encontraram, além de suas casas e pertences destruídos, um casal que morreu abraçado e carbonizado.
Intromissão imperialista e latifúndio
Diante da repercussão internacional negativa, chefes de países imperialistas, como Emmanuel Macron (França), sentiram-se encorajados a se intrometerem nos assuntos internos do país e chegaram a ameaçar aplicar boicote ao agronegócio e barrar o acordo Mercosul-União Europeia, devido aos incêndios. Chamando a Amazônia de “nossa casa”, Macron pintou-se como “ambientalista” enquanto saqueia as riquezas naturais dos países oprimidos.
Tais países imperialistas da Europa se opõem à expansão do latifúndio brasileiro não por interesses “humanistas”, mas por pretensões coloniais de apoderarem-se dos recursos naturais da Amazônia a médio e longo prazos.
Por outro lado, se opõem a isso porque, após o acordo firmado pelos dois blocos, a produção do latifúndio brasileiro terá o acesso ao mercado interno do velho continente facilitado, o que pode arruinar os subsidiados fazendeiros franceses – base social importante para a política interna francesa.
No Brasil, por sua vez, a divisão sobre o que fazer penetra inclusive nas fileiras do latifúndio. Uma parcela dos latifundiários, vinculados à extrema-direita, pressiona o governo a avançar sobre as florestas para enriquecerem-se mais ainda às custas do atraso do povo e da Nação, enquanto que outros importantes representantes dessa classe, mais ligados à direita, se posicionaram contrariamente ao avanço, por medo das implicações negativas nas exportações.
GLO na Amazônia
No dia 23, aproveitando-se e tentando dar uma resposta à pressão internacional, o governo de Bolsonaro e dos generais permitiu, via decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), o emprego de tropas das Forças Armadas e de outras forças federais para “combater o incêndio” em toda a região da Amazônia Legal.
Até o fechamento desta edição, as tropas federais estão atuando na área rural do Amazonas, Acre, Rondônia, Roraima, Mato Grosso, Pará e Tocantins. O cenário de militarização da região também coloca em alerta os camponeses pobres, especialmente aqueles em luta pela terra.
Na Amazônia Legal estão os dois estados (Pará e Rondônia) onde mais pessoas morreram em conflitos entre camponeses e latifundiários nos últimos anos.