A líder da extrema direita francesa, Marine Le Pen, foi tornada inelegível hoje (31/3), por crimes de peculato. A acusação é parte de uma investigação que atinge Le Pen, 8 membros do Parlamento Europeu e 12 assistentes da agremiação Reconstrução Nacional (RN), mostrando que a prática de desviar o dinheiro público é generalizada entre os elementos da extrema direita.
A investigação concluiu que, entre 2004 e 2017, Le Pen e os outros 20 criminosos de extrema direita desviaram fundos da União Europeia (UE) para financiar atividades do RN na França. O dinheiro, calculado em mais de 3 milhões de dólares (R$ 17,2 milhões) teria sido usado para contratar pessoas que supostamente estavam trabalhando na sede da UE em Bruxelas, mas que na verdade prestavam serviços ao RN na França.
Le Pen é a chefete da extrema direita na França e um dos nomes centrais na próxima disputa presidencial. No último pleito, ela chegou ao segundo turno contra Macron. A reacionária, filha do líder da extrema direita francesa Jean Marie Le Pen, cresceu no último período ao apoiar-se em setores chauvinistas com um discurso anti-imigração, principalmente contra os imigrantes árabes e muçulmanos, e com promessas de tirar a França da União Europeia e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Le Pen fez “o Parlamento Europeu pagar pessoas que na realidade trabalhavam para o partido”, diz a sentença. “Foi estabelecido que todas essas pessoas estavam realmente trabalhando para o partido, que seu legislador (da UE) não havia dado a elas nenhuma tarefa”, continua o texto.
“As investigações também mostraram que esses não foram erros administrativos… mas apropriação indébita na estrutura de um sistema estabelecido para reduzir os custos do partido.”
A inelegibilidade de Le Pen, assim, pode beneficiar um sucessor para o atual presidente Emmanuel Macron, já que o próprio mandatário não pode mais concorrer por ter atingido o limite de mandatos.
Macron deve comemorar a inelegibilidade, porque o seu governo está com uma péssima popularidade, algo que pode ser atribuído aos ataques aos direitos do povo, como a reforma da previdência de 2017, à violência policial contra imigrantes, como revelou o caso do assassinato do jovem Nahel Merzouk pela polícia francesa, e a repressão às liberdades democráticas, a exemplo das manifestações pró-Palestina.
Uma pesquisa divulgada em janeiro de 2025 mostrou que 79% dos franceses estavam insatisfeitos com o governo de Macron, e somente 21% estavam satisfeitos. O número representou uma queda de 7% em relação a 2022 e colocou Macron com um dos piores índices de aprovação dentre todos os presidentes desde 1958. Os que mais desaprovavam Macron eram idosos e aposentados – que, em 2022, foram a principal base eleitoral do presidente francês.
A insatisfação generalizada com Macron, a incapacidade da falsa esquerda em ludibriar as massas, a contenda que levou à inelegibilidade de Le Pen e o próprio crescimento da extrema direita são todos sintomas da crise política e institucional na França. Sintomas assim já haviam se expressado antes, como a dissolução do parlamento francês e a antecipação das eleições legislativas por Macron depois que a extrema direita levou a maioria dos assentos no Parlamento Europeu.
