Jovens libaneses queimam pneus para bloquear uma rodovia principal na área de Jal Dib, a leste da capital Beirute, enquanto protestam contra as condições de vida desastrosas do país, em meio à crise econômica e política em curso. Foto: AFP
Grandes protestos eclodiram no Líbano, no dia 26 de junho, após a decisão do governo de reduzir ainda mais o valor da moeda nacional já em queda, beneficiando as classes dominantes e aprofundando a miséria do povo. Durante os protestos, manifestantes tentaram invadir o Banco Central e dez soldados ficaram feridos, ao total.
O Banco Mundial descreveu a crise no Líbano como uma das piores que o mundo já testemunhou em 150 anos e, no dia 26, sua moeda bateu um recorde de baixa, chegando a 18.000 libras libanesa ao dólar americano. A libra perdeu mais de 90% de seu valor desde que a crise atingiu seu pico, há 20 meses atrás.
Diante da miséria agônica, escassez de produtos vitais, incluindo combustível, remédios e produtos médicos, o povo libanês tem se rebelado.
Massas combatem em meio à crise
Manifestantes em motocicletas lançaram granadas contra soldados em Trípoli, cidade mais pobre do país. Na mesma cidade, manifestantes realizaram ataques com pedras. A ação resultou em dez soldados feridos. Os manifestantes também atacaram várias instituições estatais da cidade.
Manifestantes também incendiaram a entrada de um escritório do governo e outros tentaram invadir as casas de dois políticos, mas foram impedidos pelas forças de repressão.
O exército reacionário, no país, vem sendo financiado pelo imperialismo ianque como um “baluarte crítico” contra o Hezbollah. Em dezembro de 2019, por exemplo, o USA enviou mais de 105 milhões de dólares em assistência militar ao Líbano, mas desde o ano de 2006 já foram fornecidos mais de 1,7 bilhão de dólares às Forças Armadas do Líbano (LAF, na sigla em inglês), segundo o monopólio de imprensa The Washington Post. Esses fundos equiparam as LAF com aeronaves, artilharia, armamento e munição ianques, além de treinamento e “apoio consultivo” aos militares.
Banco Central é exposto em esquema de corrupção
Já no final de 2019 a crise havia atingido um nível ainda superior, quando revelou-se que o Banco Central do país administrava um “esquema Ponzi” (tipo de esquema de pirâmide financeiro), em que pegava dinheiro emprestado dos bancos (principalmente estrangeiros, elevando a dominação imperialista sobre o país) a taxas de juros maiores que as do mercado para pagar as dívidas do velho Estado. Em outubro, uma escassez de moeda estrangeira levou a libra libanesa a perder valor em relação ao dólar, chegando ao ponto dos importadores de trigo e combustível exigirem pagamento em dólares.
O país foi, então, tomado por manifestações de milhares de massas libanesas que levaram à renúncia do então primeiro-ministro, Saad Hariri, que contava com o apoio do imperialismo ianque e francês. Após a sua renúncia, se mudou com a família para Paris a pedido de Macron.
Seu pai, Rafik Hariri, um magnata libanês e, por duas vezes, primeiro-ministro do país, teve um papel central na política de precarização das condições de vida e dos serviços básicos desde a década de 1990.
É contra a mesma situação de falência do velho Estado libanês e de suas instituições, já carcomidas pela corrupção, como o Banco Central, que as massas hoje continuam a se rebelar contra.