Trabalhadoras domésticas se reúnem com seus pertences em Hazmiyeh, leste de Beirute, em 24 de junho de 2020
No dia 12 de agosto, dezenas de mulheres quenianas trabalhadoras domésticas (ao menos 30) protestaram ao lado de fora do consulado de Quênia, no bairro de Bandaro, em Beirute, pelo quarto dia seguido, pedindo retorno ao país de origem após a crise gerada no Líbano pela explosão. As mulheres também fizeram graves denúncias sobre maus tratos, cobranças indevidas e exploração sexual por parte dos funcionários do consulado. Ao menos uma delas foi presa.
As manifestantes são imigrantes indocumentadas que dizem ter pago taxas exorbitantes ao consulado do Quênia na esperança de serem repatriadas. No dia 14/08, o Ministério de Assuntos Externos em Nairóbi, capital da Quênia, disse que mais de 40 quenianos levaram documentos ao consulado pedindo o retorno. Nos protestos, as mulheres chamavam os funcionários do consulado de “ladrões”.
Desemprego após a explosão
Após a explosão do dia 04/08, as trabalhadoras foram expulsas dos trabalhos e de onde viviam; dezenas delas agora vivem em casas comunais “humanitárias”. Por uma situação trabalhista semelhante à escravidão, onde o passaporte das mulheres ficaram com o patrão, elas não podem recorrer aos aeroportos, onde correm risco de detenção e cadeia.
Desde o primeiro dia das explosões, trabalhadores e trabalhadoras migrantes, especialmente domésticas, têm recorrido aos consulados e embaixadas para voltar para seu país de origem ao perderem seus empregos. Outras trabalhadoras domésticas de origem africana enfrentam problemas similares.
Trabalhadoras denunciam maus tratos e abusos por parte da equipe do consulado
Há mais de 1 mil mulheres quenianas no Líbano. A maioria da comunidade de migrantes são trabalhadoras domésticas que são patrocinadas para estar no Líbano sob o sistema Kefala, uma forma de servidão que liga o status imigratório da mulher a um contrato de trabalho.
No mês de julho, o monopólio de mídia CNN relatou alegações de abuso no consulado de Nairóbi, dirigido pelo cônsul Sayed Chalouhi, em Beirute. Várias mulheres disseram que foram exploradas, abusadas verbalmente ou agredidas fisicamente por Chalouhi e seu assistente, Kassem Jaber, ambos de nacionalidade libanesa.
Em um protesto do dia 10/08, em um vídeo gravado, pode-se ver uma mulher gritando com o Assistente, dizendo: “Kassem, nós vamos ao escritório, você nos diz para nos prostituirmos. Nós não temos trabalho!”.
Além das alegações de abuso, quatro mulheres disseram à CNN que testemunharam Chalouhi sugerindo que as mulheres quenianas procurem a prostituição a fim de cobrir suas despesas nos consulados. Todas as testemunhas disseram que Chalouhi e Jaber cobravam regularmente preços excessivos das mulheres quenianas para cobrir as despesas consulares.