O suspense do presidente da Câmara dos Deputados Arthur Lira (PP-AL) para anunciar o apoio a um sucessor ao cargo acabou hoje com a escolha de Hugo Motta (Republicanos-PB). Líderes do MDB, PP, Republicanos e um vice-líder do PT acompanharam Lira no anúncio.
Foram meses de negociações até essa concretização. Para firmar a escolha garantindo o apoio da falsa esquerda e da extrema-direita bolsonarista, Lira conversou com parlamentares do PT e do PL.
Acordo com extrema-direita
Um ponto nevrálgico da negociação foi a “PEC da Anistia“. A proposta é o carro-chefe da extrema-direita bolsonarista, que busca usar a anistia aos galinhas verdes do 8 de janeiro como forma de minar politicamente as acusações contra Bolsonaro e fortalecê-lo para 2026.
A solução de Lira foi abrir uma comissão especial para avaliar a PEC. Na prática, a decisão atrasa a tramitação da proposta, que seria feita esta terça-feira. Por outro lado, fornece um espaço no qual a extrema-direita bolsonarista pode garantir plena hegemonia para garantir seus interesses.
Como os objetivos reais da PEC são planejados para 2026, a extrema-direita bolsonarista não vê como um grande problema. Lira garantiu que não teria atritos ao conversar com Valdemar Costa Neto (PL) e o próprio Bolsonaro. O ex-presidente recebeu a notícia do adiamento com “tranquilidade” e deu aval para as lideranças do PL “darem andamento à oficialização do apoio do partido à candidatura de Hugo Motta”, conforme relatado pela colunista d’O Globo Bela Megale.
O próprio Hugo Motta tratou do tema. “Não estamos contra o PL na Anistia, pelo contrário. A Comissão Especial constrói um relatório que busque, com equilíbrio, aquilo que a Casa representa”, disse, depois de falar que vê o PL “como um partido que estará ao nosso lado. Conversamos com Valdemar, Altineu (Cortes) e Bolsonaro. Vamos respeitar os espaços do PL, valorizaremos a bancada e dialogaremos”.
Atualmente, o PL tem a maior bancada na Câmara dos Deputados.
Aceno para falsa esquerda; ‘centrão’ unido
Para não sair como aliado forte da extrema-direita, Hugo Motta disse que defende o “equilíbrio” e que o projeto da anistia, pela “importância”, não pode estar atrelado à sucessão da Casa.
O PT parece ter gostado do nome, porque parte do partido já defende a oficialização do apoio. Outros dizem que é melhor esperar um pouco, mas não descartam a opção. Tudo isso mostra, contudo, que apesar de Luiz Inácio (PT) ter atendido as vontades da direita tradicional durante todo o ano de 2023 e 2024 e entregado o controle do orçamento a Arthur Lira, nada serviu para garantir uma base política no parlamento. É um governo infestado pela direita e controlado por um parlamento direitista.
É um bom sinal para Lira, que recentemente se sentou com Luiz Inácio para negociar um cargo de ministro – na busca por garantir, assim, ainda mais influência da direita tradicional no governo já encoleirado.
Arthur Lira e Hugo Motta também acenaram para Elmar Nascimento (União-BA), antigo preferido de Lira para sucedê-lo. A intenção, quiçá, foi mostrar que a escolha de Motta não cinde a direita tradicional no Parlamento, apesar das pugnas existentes.