Ao que tudo indica, o Brasil vetará um convite para que a Venezuela passe a integrar o BRICS, cujos países membros estão reunidos entre os dias 22 e 24 de outubro em Kazan, na Rússia, para a 16° Cúpula.
O governo ainda não formalizou sua opinião. Contudo, o assessor internacional da Presidência da República, Celso Amorim, anda falando para jornalistas do monopólio de imprensa que não é a favor.
“Eu não defendo a entrada da Venezuela. Acho que tem que ir devagar. Não adianta encher de países, senão daqui a pouco cria um novo G-77”, disse ele para o jornal estadunidense com filial no Brasil, CNN.
Luiz Inácio, que escorregou no banheiro antes da viagem e por isso participará da Cúpula remotamente, ainda não comentou sobre a situação, mas dificilmente tomará posição distinta daquela defendida por seu consigliere para assuntos internacionais.
A principal questão, contudo, é a da justificativa para negar a entrada da Venezuela. Para diplomatas envolvidos na negociação, “há a possibilidade de o Brasil vetar o país (Venezuela) em razão da postura adotada pelo governo chavista nas eleições deste ano”, conforme dito ao jornalista Caio Junqueira.
Breve recapitulação
A referida postura foi a decisão do governo venezuelano em não obedecer todas as ordens do imperialismo norte-americano (Estados Unidos, EUA) antes, durante e depois do processo eleitoral.
O Estados Unidos, conhecido por coordenar intervenções militares na América Latina, África e Ásia seguidas das chamadas “eleições livres”, exigiu que a Venezuela seguisse as regras impostas pelo governo ianque para o pleito. Uma vez que não podia intervir militarmente na Venezuela (como fez no Iraque, Líbia e Síria, Afeganistão e outros) para ensinar os métodos da “democracia” – uma vez que correria o risco de desencadear uma rebelião anti-imperialista na América Latina –, apelou para outros métodos: aprofundamento das pressões econômicas e políticas contra o regime de Maduro, contando com a mobilização de seus lacaios para isso. Na América Latina, foram eles Gabriel Boric, do Chile, Gustavo Petro, da Colômbia, e Luiz Inácio, do Brasil.
‘Valor universal’
O que fundamenta a posição dos sabujos dos ianques é a velha tese da “democracia como valor universal”. Na época das eleições, como Maduro não apresentou as atas, Luiz Inácio, que de início fingiu estar dividido sobre a questão, passou a defender a posição do imperialismo norte-americano sobre os rumos da eleição venezuelana.
Agora, o governo mal finge constrangimento sobre o caso. Serve de porta-voz das posições do imperialismo norte-americano mesmo em um fórum que o EUA não participa.
Esta é a outra consequência prática da defesa da democracia ianque como essa Ágora de Atenas: o abandono de qualquer retórica anti-imperialista, sobretudo quando esta não passa de demagogia para não perder apoio entre determinadas bases.