Os setores governistas na gerência dos governos de Estado estão andando sob uma corda bamba. Enquanto declaram, em palavras, simpatia à luta dos camponeses na sua reivindicação por terra, concretamente agem em correspondência aos interesses do latifúndio. Disso decorre a agudização da luta pela terra, que não cessa nos próprios estados governados pelos oportunistas, colocando contra a parede o palavrório eleitoreiro destes a favor da “reforma agrária”.
Após a grande jornada de lutas que ficou conhecida como Abril Vermelho, que moveu ao menos três grandes tomadas de terra no estado da Bahia (antes, em março, mais de 3 mil camponeses já haviam ocuparam terras do latifúndio no estado), o governador Jerônimo Rodrigues (PT) cancelou a Feira Nacional da Agropecuária, o que foi entendido como um “aceno” aos camponeses em luta no estado. Na realidade, no mês de junho o mesmo governador havia participado do Bahia Farm Show, evento latifundista, onde declarou que “o agro da Bahia só nos orgulha”.
Vale destacar que o evento ocorreu no Oeste da Bahia, região que concentra os mais cruéis assassinatos e perseguições causados pelo latifúndio no estado, e o governador oportunista não teceu uma palavra sequer sobre esse fato.
No Rio Grande do Norte, pelo menos nove tomadas ocorreram no estado entre janeiro e outubro do presente ano. Apesar de ter feito aceno à luta camponesa com declarações de apoio em meio a “CPI do MST”, a governadora Fátima Bezerra (PT) têm sido cobrada pelos camponeses por não garantir suficiente verba para a política de reforma agrária, enquanto a mesma deve ceder à pressão do latifúndio que cobra isenção fiscal ao setor.
No Piauí, o governador Rafael Fonteles (PT) sequer dá acenos aos camponeses em luta no estado. Fonteles está, desde o último dia 02/11, em uma viagem o Japão, onde busca parceria para realizar a compra de novas tecnologias voltadas ao próprio setor do “agronegócio”.
No Ceará, o governador Elmano Freitas, apesar de ter promovido uma feira “pró-reforma agrária”, o mesmo estava presente, no mês de junho, no PECNordeste, evento pró-latifúndio ocorrido no Ceará, onde o mesmo selou seu compromisso com o chamado “agronegócio”.
Aceno para os camponeses, bilhões ao latifúndio
O cenário dos governos estaduais é semelhante ao que ocorre no governo federal. O governo Lula-Alckmin, eleito com um palavrório de avançar na política de reforma agrária, não fez qualquer mudança significativa no que se refere às milhões de famílias camponesas que lutam por um pedaço de terra no Brasil. Ao contrário, o atual governo de Luiz Inácio está marcado pela política agrados ao agronegócio. O Plano Safra, lançado em junho deste ano, concedeu a farta quantia de R$ 364,22 bilhões em “investimento” ao latifúndio.
Tal é a natureza mesma do velho Estado burocrático-latifundiário, mesmo que sob gerência do oportunismo eleito com um discurso de “governar para o povo”: as mesmas classes de sempre seguem sendo favorecidas.