Luta pela terra se agudizou e teve foco na Amazônia, revela relatório

Conflitos pela terra tiveram maior concentração na Amazônia, revela relatório. Foto: Foto: Fernando Martinho/Repórter Brasil

Luta pela terra se agudizou e teve foco na Amazônia, revela relatório

A luta pela terra se agudizou no ano de 2022 e teve como palco principal a região amazônica segundo o relatório “Conflitos no Campo 2022”, da Comissão Pastoral da Terra (CPT). Os dados do relatório apontam que o número de famílias em conflito pela terra aumentou e que cresceram os crimes do latifúndio e do velho Estado contra as massas camponesas e indígenas: assassinatos, pistolagem, invasões de acampamentos e ameaças de morte . Os dados revelam o ascenso do movimento camponês e da luta pela terra no País, onde milhares de massas se lançam mês após mês enfrentando as tropas do latifúndio e do velho Estado em vigorosas jornadas de lutas com tomadas de terras para ter onde viver e trabalhar.

Foram 1.572 conflitos por terra registrados, um aumento de 16,7% em relação ao ano de 2021. Esses conflitos, desde atentados contra camponeses até novas tomadas de terras, mobilizaram 181.304 famílias camponesas, aproximadamente 725 mil pessoas.

Os principais alvos dos conflitos foram indígenas e camponeses posseiros, que representam 28% e 19%, respectivamente. Ao considerar outras categorias do relatório como camponeses, por exemplo “sem terras” e “famílias assentadas da reforma agrária”, o número torna-se ainda mais expressivo: 39% dos alvos foram camponeses, sem contar com ainda as comunidades quilombolas, fecho de pasto, ribeirinhos, pescadores e extrativistas, comunidades que muitas vezes tem a terra como principal fonte de renda e sobrevivência.

Os principais causadores dos conflitos foram latifundiários, responsáveis por 23% (contando somente a categoria de “fazendeiros”, sem incluir grileiros e outras classificações nas quais os latifundiários se enquadram), e o velho Estado brasileiro, responsável por 16% (quando considerado somente o governo federal).

Das formas de repressão usadas de forma cada vez mais frequente pelo latifúndio e velho Estado contra os camponeses, destacam-se a pistolagem (aumento de 86% em 2022), os assassinatos (aumento de 30,55% em um ano e 123% no período de dois anos). As tentativas de assassinato foram 123 (aumento de 272,72% em um ano). Já as ameaças de morte registradas aumentaram de 144 para 206 (aumento de 43,05%). Destaca-se ainda que as invasões de territórios atingiram 95.578 famílias e quase 15% delas foram acompanhadas de assassinatos. 

Amazônia Legal e Matopiba concentraram maior número de conflitos

Geograficamente, os conflitos concentraram-se em estados da região Norte e Nordeste de forte atuação ou expansão do latifúndio e megaprojetos, por um lado, e alta concentração de camponeses posseiros ou sem terra, por outro. A Bahia foi o estado com mais conflitos, concentrando 179 ocorrências. O Maranhão ficou em segundo lugar, com 178 conflitos registrados. Em seguida ficaram o Pará (175), o Amazonas (152) e o Mato Grosso (147). 

Quatro desses cinco estados estão na região chamada de “Amazônia Legal”, que conforma os estados do Amazonas, Acre, Rondônia, Roraima, Pará, Amapá, Tocantins, Maranhão e Mato Grosso. O número de conflitos nessa região aumentou mais de 33% em 2022, subindo de 695 para 926 ocorrências. A região concentrou ainda 59% de todas as ocorrências desse tipo no país e 72,35% dos assassinatos. Além da forte atuação do latifúndio na região, a “Amazônia Legal” é sede de megaprojetos que  lançam milhões na miséria e exploração através de despejos, explorações e ataques contra indígenas e camponeses pobres (sem terra ou com pouca terra). É o caso, por exemplo, da Zona de Desenvolvimento Sustentável (ZDS) Abunã-Madeira (Amacro), responsável por promover 150 conflitos pela terra no ano de 2022.

Lateralmente à Amazônia, a região conhecida como “Matopiba” também concentrou altos índices de conflitos no país. Composta por dois estados que também conformam a Amazônia Legal, o Matopiba é formado por áreas fronteiriças do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. Nos últimos anos, essa região tem sido alvo de uma expansão desenfreada do latifúndio, acompanhada da violência brutal contra camponeses, indígenas e comunidades quilombolas. Em 2022, 20.049 famílias estiveram envolvidas em conflitos pela terra no Matopiba. 

Aumento da servidão 

O registro cada vez maior de relações semifeudais no interior do país é consequência direta também da expansão do latifúndio e do aumento da crise. Em 2022 foram registrados 207 casos do chamado “trabalho análogo à escravidão”. Nessas ocorrências, 2.218 camponeses foram resgatados. A cifra é a maior em dez anos. De acordo com o documento, o principal responsável são o “agronegócio e empresas de monocultivos” (isto é, o latifúndio e empresas latifundiárias). Dentre os ramos do latifúndio identificados, não há um que se salva: desde a cana até a soja, o café, árvores e a pecuária, todos foram responsáveis por submeter camponeses à relações semifeudais de produção. Isto indica a generalização das relações semifeudais pelo Brasil.

Luta pela terra agudizar-se-á ainda mais

O relatório da CPT retrata aquilo que o AND noticiou nos últimos anos:a luta camponesa contra o latifúndio, a semifeudalidade e a crise avança a passos largos. Onde não há terra, milhares de camponeses se lançam dia após dia contra as propriedades do latifúndio e terras abandonadas para ter onde viver e onde morar. Onde as famílias camponesas e indígenas já têm terra, desenvolve-se vigorosa resistência contra o avanço do latifúndio e dos megaprojetos. O que aponta para um novo auge das lutas camponesas nos próximos meses. 

Ao que tudo indica, esse cenário retratado em 2022 será ainda mais agudo em 2023, ano em que, somente no primeiro semestre, dezenas de milhares de famílias ocuparam terras de Sul ao Norte e os indígenas iniciaram uma mobilização nacional por terra e contra o marco temporal. Os crimes e ataques do latifúndio, representativos de um único lado da moeda, serão inevitavelmente derrotados passo a passo pelo influxo da luta pela terra.

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
Agora, mais do que nunca, AND precisa do seu apoio. Assine o nosso Catarse, de acordo com sua possibilidade, e receba em troca recompensas e vantagens exclusivas.

Quero apoiar mensalmente!

Temas relacionados:

Matérias recentes: