O povo Akroá-Gamella, do território indígena Taquaritiua localizado no município de Viana (MA), denunciou por meio da rede social do CIMI Maranhão, o covarde ataque por arma de fogo na noite do domingo, dia 16/09, durante uma queda de energia. Segundo relato das famílias, a maioria dos tiros foram direcionados a uma casa em específico, sendo encontrados até mesmo cartuchos de bala em camas que no momento da ofensiva estavam ocupadas.
Na sexta-feira, dia 13/09, a comunidade recebeu áudios que expunham a voz de um homem anunciando que os indígenas deveriam ser “surrados”, ou seja, agredidos por impedirem a passagem de carretas de lixo em seu território, em claro tom de ameaça.
Os Akroá-Gamella, no dia 28 de agosto, fizeram a mais recente retomada de sua terra e o fechamento do lixão oriundo dos despejos de resíduos por parte das prefeituras de Viana, Matinha e Pinheiro, no seu território. O povo tem denunciado a invasão há mais de 12 anos, sem um retorno, que de fato, correspondesse às suas necessidades.
Em entrevista ao portal independente Agência Tambor, Benedito Cutrim, morador da (TI) Taquaritiua, expôs que a prefeitura de Viana transferiu este lixão de uma outra comunidade denominada de Bacurizeiro, com o claro objetivo de transformar completamente o território em um local estritamente para despejo de resíduos e entulho.
A comunidade realizou uma denúncia ao Ministério Público do Maranhão, relatando as criminosas consequências provenientes do lixão, principalmente na aldeia Tabarelzinho, como a contaminação da água, proliferação de moscas e o crescimento no número de pessoas doentes, entre elas várias crianças, visto que, o lixo espalha-se até a proximidade de uma escola.
Ofensiva do latifúndio e resistência indígena
Os Akroá-Gamella, vivem sob ameaças e sucessivos ataques violentos há mais de um século. Expulsos de suas terras por grileiros, enfrentam criminosas investidas sangrentas do latifúndio, como no marcante massacre ocorrido em 30 de março de 2017, onde um grupo de jagunços, portando armas de fogo, facões e outros, invadiu um ritual dentro do povoado Baías no Maranhão, resultando em 22 feridos, além de decepar as mãos de dois indígenas.
Nos relatos recolhidos por parte das vítimas, é recorrente a acusação da participação do deputado federal Aluísio Mendes, condenado à prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por ataques à democracia.
Em reportagem ao portal independente Ponte Jornalismo, Kum’Tum, membro do Conselho de Lideranças dos Akroá-Gamella, aponta: “O deputado Aluisio Mendes teve uma participação significativa nesse conflito, na medida em que ele repercute no parlamento aquilo que seria uma demanda legítima dos invasores, tanto grandes quanto pequenos. Ele se alia a comerciantes, lideranças religiosas de igrejas evangélicas e toma uma decisão diante do direito à nossa existência”.
Após o massacre, outra ofensiva em novembro de 2021, escancarou a atuação de pistoleiros, que se apresentaram como “seguranças privados” à serviço da empresa “Equatorial Energia”, esta que já havia iniciado um projeto de torres para uma linha de energia que passava pela aldeia Centro dos Antero, sem licença ambiental. Os Gamella, reagiram rapidamente recolhendo armas e munições do grupo, sendo surpreendidos logo depois por viaturas da Polícia Militar, que efetuou prisões e disparou tiros para o alto. A CIMI afirma, que as armas utilizadas pelos “seguranças”, eram de uso da PM, sendo estes, supostos militares à paisana.
Agora, em sua nova retomada de território, o povo Akroá-Gamella demonstra a resistência secular e a necessidade da luta pela terra e pela demarcação. O fechamento do lixão é uma resposta concreta aos ataques sofridos anteriormente e um chamado para intensificação das ações de combate dos povos indígenas.