Com informações do Repórter Brasil
Os ka’apor têm avançado ano a ano em seu processo de autodemarcação e autodefesa de seu território tradicional no estado do Maranhão. Os indígenas, cansados da inoperância dos órgãos do velho Estado, estabeleceram os limites de seu território e começaram a expulsar os invasores.
Concentrados principalmente na Terra Indígena (TI) Alto Turiaçu, território com 531 mil hectares situado entre sete municípios do oeste maranhense [1], os ka’apor têm expulsado os madeireiros, os principais invasores de sua terra, chegando a apreender e incendiar equipamentos, máquinas e infraestruturas construídas ilegalmente por eles.
Pequenas estradas têm sido reconstruídas para garantir a locomoção dentro da terra indígena e permitir as ações de autodefesa realizadas pelos guardas florestais indígenas. A guarda florestal ka’apor foi criada em 2013 reunindo indígenas de diferentes aldeias.
Para evitar a invasão das madeireiras os indígenas também criaram áreas de proteção em locais onde havia pontos de extração ilegal de madeira. Atualmente existem sete áreas de proteção, que tem contribuído para a redução do desmatamento da floresta amazônica presente no oeste do Maranhão.
Latifundiários e madeireiros indignados com as ações dos ka’apor reagiram através de uma série de ataques e assassinatos. Em 2015, a liderança Euzébio Ka’apor foi assassinada em uma emboscada, sendo alvejado por vários disparos pelas costas.
Em vídeo disponibilizado pela agência Repórter Brasil podem ser vistas imagens das ações de autodefesa dos indígenas como a queima de uma ponte construída para o transporte de madeira dentro da TI Alto Turiaçu, além da detenção de trabalhadores a serviço das madeireiras.
A organização dos ka’apor
Os ka’apor, que acabaram com o sistema do cacicado, se organizam por meio do Conselho dos Tuxás, que reúne as lideranças de 14 das 17 aldeias da TI Alto Turiaçu, no qual as decisões do conselho são tomadas coletivamente. Além do Conselho dos Tuxás, cada aldeia tem o seu próprio conselho.
A educação dentro da TI Alto Turiaçu é de responsabilidade dos próprios ka’apor, sendo compreendida como uma das chaves para se preservar a sua cultura. As crianças e os adolescentes são escolarizados na língua ka’apor, sendo que até os onze anos de idade a escolarização é realizada apenas neste idioma e depois em ka’apor e português.
Cansados de serem negligenciados pela Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), os ka’apor têm buscado uma nova forma de organizar a saúde indígena, conciliando a medicina tradicional com a medicina dos “karaís” (não indígenas).
Nota:
[1] Os sete municípios são Araguanã, Centro do Guilherme, Centro Novo do Maranhão, Maranhãozinho, Nova Olinda do Maranhão, Santa Luzia do Paruá e Zé Doca.