Protesto de moradores de Presidente Dutra contra a ação covarde da polícia. Foto: Reprodução
No dia 19 de junho, moradores do município de Presidente Dutra, localizado a 350 km de São Luís, capital do estado do Maranhão, montaram uma barricada com pneus incendiados para protestar contra a execução do jovem Hamilton Bandeira, de 23 anos. Hamilton foi executado por agentes da Polícia Civil, no povoado de Calumbi, no dia 17 de junho.
De acordo com a mãe do jovem, Ana Maria Lima Dias, de 41 anos, os policiais invadiram sua residência sem qualquer mandado judicial e assassinaram seu filho na frente do seu pai, de 99 anos.
“Meu filho entrou no quarto e deitou na cama. Quando o avô dele sentou para comer, os policiais chegaram e perguntaram se tinha mais alguém na casa. Foi quando o avô levantou da cadeira e falou: ‘estou só eu e o meu neto’. Nesse momento, Hamilton se levantou da cama, abriu a cortina [o quarto não tem porta] e, sem poder dizer nada, tomou três tiros seguidos, sem ele poder nem se defender”, disse Ana Maria em entrevista ao portal Ponte do Jornalismo.
“Foi uma crueldade, ele nunca fez mal a ninguém, mataram ele na frente de um idoso de 99 anos”, afirmou a mãe.
Os policiais foram até a casa de Hamilton após receberem uma denúncia de que o jovem havia feito uma publicação na rede social Instagram “exaltando” Lázaro Barbosa, homem que está sendo procurado por agentes do velho Estado, em Goiás.
Ana Maria diz que seu filho tinha distúrbios mentais, condição que era de conhecimento de toda a comunidade.
“Ele tinha 23 anos, mas tinha mentalidade de um rapaz de 12 anos porque tinha um distúrbio mental. Ele nunca matou, nunca roubou, nunca estuprou, apenas postava essas coisas porque ele tinha problemas mentais, tenho laudos que provam isso”.
Os policiais alegaram que não precisavam de mandado judicial porque Hamilton estaria em “situação de flagrante pelo crime de apologia ao crime”.
Hamilton e sua família, o jovem foi morto na frente do avô. Foto: Reprodução
A mãe do jovem disse que ficou sabendo do assassinato do filho através da ligação de uma vizinha: “Eu não estava no local, fiquei sabendo por uma ligação da minha vizinha. Por volta das 10h, ele [Hamilton] ficou jogando bola com crianças na casa de um vizinho. Às 11h, ele foi para casa tomar banho, limpou a casa, lavou a louça, almoçou e deu almoço para o avô, para quem disse que iria descansar”, contou a mulher.
Ainda segundo informações dada pela mãe, quando recebeu o segundo tiro, Hamilton disse para seu avô (o qual o jovem chamava de pai): “Pai, está doendo demais!”. A mãe conta que os policiais pegaram o rapaz pelos braços e pernas e o jogaram na viatura como se este fosse um “animal”. “Ele até machucou o rosto porque bateu nos ferros da viatura”, relatou Ana Maria.
Os policiais levaram Hamilton para o Hospital para o Hospital Regional de Urgência e Emergência de Presidente Dutra, porém o rapaz já chegou sem vida à unidade.
A mãe contou ainda que ao saber da morte do filho, foi ao hospital e depois a delegacia para registrar um boletim de ocorrência com a versão da família sobre o ocorrido dentro da casa. Porém o delegado César Ferro se recusou a registrar o documento. O delegado afirmou que o jovem havia sido “pego em flagrante”.
“O delegado se recusou a fazer o BO. Disse que o Hamilton foi para cima dos policiais com uma faca. Só que como é que uma pessoa vai para cima de três policiais com uma faca? Quando eu perguntei se ele sabia que o meu filho tomava remédios para os problemas mentais, o delegado ficou quieto”. O delegado sequer mostrou a arma branca que teria sido utilizada por Hamilton.
“Poderiam ter chegado em casa, com mandado de prisão e levado à delegacia. Por que o meu filho não pode ter a defesa dele? Cadê a arma do crime? Cadê a faca? Qual foi o flagrante? Estar mexendo no celular na cama?”, denunciou revoltada a mãe.
Ela também denuncia que nenhuma perícia foi realizada nem no corpo nem no local do assassinato: “Não mandaram ninguém fazer a perícia, mandaram outros policiais retirarem as cápsulas das armas. Eles não me deram a declaração de óbito”, denunciou.
Os policiais presentes na ação que matou Hamilton não serão afastados pela Secretaria de Segurança Pública do Maranhão até o fim da “investigação”. O Ministério Público vai pedir a exumação do corpo do jovem, já que o mesmo foi enterrado sem passar por um exame de necrópsia, que é o procedimento a ser feito em caso de morte violenta.
Ana Maria contou que o rapaz era muito querido entre os vizinhos, mesmo com seu déficit intelectual. “Ele era muito prestativo, muito trabalhador, era ajudante de pedreiro, pintava, capinava, todo mundo aqui viu ele crescer, ele respeitava as crianças, os mais velhos e estava acabando o ensino médio. Quando estava agitado, ele passava o dia na casa dos vizinhos. Ele era conhecido, todo mundo gostava dele”, contou a mãe.
Ana Maria diz ainda que vai em busca de justiça para o seu filho: “Eu quero justiça, quero lutar pela memória do meu filho, sei que não vai trazer ele de volta. Eu sei que a batalha vai ser difícil, mas não vou desistir. Enquanto estiver viva, vou lutar pela memória do meu filho”.
Um novo protesto está sendo organizado, para o dia 23 de junho, por familiares e moradores de Presidente Dutra, que lutarão por justiça e se posicionarão contra a violência e truculência praticada pelos agentes do velho Estado brasileiro.
Fotos dos laudos indicam que o jovem tomava medicação controlada por conta de problemas mentais. Foto: Reprodução
Circo midiático
Tal perseguição cinematográfica para capturar Lázaro Barbosa já dura 15 dias e envolve mais de 200 homens de várias policiais, incluindo agentes da Polícia Federal e até mesmo da Força Nacional.
Neste tempo todo, os agentes do velho Estado se mostraram incapazes de encontrar um único homem que mesmo sozinho e sem recursos de sobrevivência está conseguindo furar o cerco das forças reacionárias e os fazendo de bobo.
Enquanto isso o monopólio de imprensa, em sua sanha sensacionalista e sede de sangue sobretudo o da população mais pobre, utiliza-se da conduta que o é característica: para vender notícia, misturam notícias verdadeiras e falsas, espalhando boatos para criar um circo midiático que gera uma histeria coletiva em parte da população, insuflando e proporcionando ações de violência como as que estão sendo vistas: perseguições, assassinatos, ameaças, espancamentos e preconceitos.