Editorial semanal – Maior desordem à vista

Editorial semanal – Maior desordem à vista

Em busca de prevenir um grande levante de massas, que pode eclodir com a alta geral dos preços e em especial dos combustíveis, Bolsonaro sancionou o teto para ICMS dos combustíveis (impostos estaduais) em 17%. O projeto original previa uma compensação aos estados, através de programas coordenados para Educação e saúde, mas o governo militar de Bolsonaro e generais a vetou. Estima-se que serão subtraídos um total de R$ 30 bilhões da saúde e de 20 a 30 bilhões da Educação.

No afã eleitoreiro desesperado, Bolsonaro tem feito estripulias várias. Após a privatização lesa-pátria da Eletrobras (consta-se: a preço de banana), já se cogitou usar o montante para compensar os estados, o que seria uma aberração. Em seguida, após as altas incessantes no preço do diesel e a agitação entre caminhoneiros, Bolsonaro cogitou criar auxílio de R$ 400, até dezembro, para amansar as massas até as eleições; diante da péssima reação dos trabalhadores – que chamaram o auxílio de esmola –, passou a cogitar um auxílio de R$ 1 mil. O único compromisso e obsessão do atual mandatário é permanecer na presidência. Para tanto – quer seja por uma ruptura, quer pela eleição – Bolsonaro demanda ampliar sua minoritária base social e fazê-la sólida, tarefa que é um verdadeiro desafio quando se está comprometido em administrar a crise geral, isto é, achacar as massas populares e alienar o patrimônio e o que resta de soberania nacional.

Fato é que, mesmo com a máquina nas mãos, Bolsonaro não logra crescer nas pesquisas. A última Datafolha (22/06) praticamente repetiu os resultados do mês anterior, quando faltam 100 dias para o início da farsa eleitoral. Isso é o fator gerador do seu desespero, que se traduz, necessariamente, em mais e maiores medidas populistas eleitoreiras, por um lado, e em suas ameaças e no crescimento efetivo de sua atividade golpista, por outro. É com essas duas políticas que Bolsonaro está trabalhando no imediato.

As medidas populistas só fazem criar mais material inflamável. Se todos os auxílios e benesses derem algum resultado eleitoral, Bolsonaro sairia ganhando de imediato, nos marcos das eleições, mas encontraria nos próximos anos um rombo fiscal tão extraordinário que tornaria ainda mais difícil a tarefa de governar esse reino de exploração e opressão sobre as massas (o que, por sua vez, poderia ser-lhe útil para persuadir os núcleos mais poderosos da reação a embarcar num regime militar como única saída, embora não a melhor). Se perder as eleições, Bolsonaro jogará no colo do próximo mandatário essa bomba. Por isso, Bolsonaro não está tendo nenhuma cautela na criação de novas despesas e gastos de curto prazo: para ele, que o circo pegue fogo!

Por outro lado, a sua agitação para dividir as tropas das Forças Armadas e auxiliares, tudo por forçar uma ruptura institucional, está na contramão dos planos originais da maioria do Alto Comando das Forças Armadas (ACFA) e dos planos do imperialismo ianque para o país, que veem nisso uma precipitação. No entanto, o apaziguamento da direita hegemônica no ACFA para com a extrema-direita bolsonarista – apaziguamento expresso nos pronunciamentos do ministro da Defesa e dos comandantes, como os últimos, sobre as eleições e contra os pronunciamentos de Ciro Gomes, nos quais corroboram parcialmente com as acusações de Bolsonaro para não destoar do estado de espírito das tropas – só faz inflamar perigosamente o moral golpista em suas fileiras. O ACFA, portanto, apesar de agora manter o controle da situação, encontra-se em apuros. Só as próximas semanas dirão se a direita militar hegemônica no ACFA poderá manter o controle frente ao aproximar do torvelinho. 

Nos marcos da próxima eleição reacionária é que se decidirá qual rumo tomará a presente crise, porém é certo que só se agravará. O oportunismo faz o jogo do sistema para assegurar a farsa eleitoral a qualquer preço, para tal se empenha em desmobilizar qualquer luta e lançar jatos d’água em qualquer chama. Diante da farsa eleitoral, os democratas e revolucionários devem atuar com clareza e independência, com um boicote ativo à farsa eleitoral com suas ações revolucionárias pelas massas avançadas. Não fazê-lo é desarmar as massas populares para a situação que virá. A situação nacional e internacional é grave de tal modo que, rapidamente, a aparente ordem pode se transformar em evidente desordem de todos os lados; o aparente controle em descontrole; a aparente paz em guerra.

Ouça já o Editorial semanal de 28 de junho de 2022:

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