Foto ilustrativa. Reprodução
A poderosa companhia alemã Hochtief, que construiu o bunker (esconderijo subterrâneo) para Adolf Hitler e usou trabalho escravo em favor do nazismo na Segunda Guerra Mundial, é a atual dona das estradas Fernão Dias (BR-381, SP-MG), Regis Bittencourt (BR-116, CE-RS), Planalto Sul (BR-116, trecho PR-SC), Litoral Sul (BR-101, trecho PR-SC) e do segmento fluminense da BR-101, entre Niterói e a fronteira com o Espírito Santo.
A concessão feita pelo governo federal ao grupo germânico foi publicada no Diário Oficial em 9 de fevereiro de 2018, estranhamente na véspera de um carnaval (o do ano passado). Conforme o jornal catarinense Bom Dia Floripa (BDF), o sistema de concessões nesse setor dos transportes, no país, tem se transformado num jogo entre megagrupos internacionais, com um troca-troca constante dos detentores dos pacotes de rodovias, envolvendo volumes astronômicos de dinheiro.
Na edição do BDF de março de 2019, o jornalista Jurandir Camargo informou que com a compra e venda de ações, remuneração de ativos e dívidas assumidas, esses troca-trocas já movimentaram, nos últimos tempos, nada menos que uma fortuna escandalosa: 66 bilhões de reais.
E observou: “Por que será que a coisa muda tanto de donos? Pela soma das transações realizadas, se vê que o negócio não deve ser ruim”. Em seguida apontou um grave (e já suspeito) problema regional e criticou: “No caso específico catarinense, é ridículo que 58 km de pistas da Alça de Contorno da Grande Florianópolis não tenham perspectiva de conclusão depois de 11 anos de obras. O atraso prolonga o caos na Região Metropolitana, que tem uma frota de 673 mil veículos e população de quase 1 milhão de habitantes”. Finalizando, o repórter aproveitou para ironizar: “A concessionária não se mexe, troca de dono a toda hora, e nós ficamos com a alça na mão”.
O bunker do suicídio
A empresa Hochtief devia contar com total confiança de Hitler, pois, em 1933, o führer entregou a ela um dos mais bem guardados segredos do mundo da época: a construção de um abrigo contra ataques aéreos na parte subterrânea da sede do governo alemão, na capital Berlim. Tal lugar ficou afamado como o “bunker de Hitler”.
Quando descoberto pelas tropas soviéticas (que, do grupo dos Aliados, foram as primeiras a conseguir entrar em Berlim), o bunker possuía 16 cômodos em que se espalhavam salas de jogos, dormitórios, cozinha, refeitório, quartos de empregados e salas de reunião e até um hospital. Ao contrário do se podia pensar, o abrigo subterrâneo era muito bem ventilado e proporcionava razoável conforto.
Nos meses que antecederam o fim da guerra, Hitler transformou aquele abrigo em um quartel general de onde conduzia as ações militares de suas tropas. O acirramento dos conflitos acabou atraindo os principais dirigentes do regime hitlerista, junto de seus familiares, para os porões do bunker.
Mas aquela estrutura defensiva só funcionou até 30 de abril de 1945. Naquela ocasião, Hitler realizou uma despedida de seus comandados mais próximos com um almoço. Depois disso, recolheu-se em seus aposentos com sua esposa Eva Braun. De repente, o barulho de um tiro irrompeu no quarto.
Os comandados encontraram seu líder com a cabeça estraçalhada por um projétil de pistola. Eva Braun, sem sinal de ferimento, tinha falecido depois de ingerir uma pequena cápsula de cianureto.
Em pouco tempo, os boatos sobre o suicídio do führer levaram outros dirigentes militares nazistas a se matarem também ou a tentarem fugir, frente ao avanço soviético. Dessa maneira, no dia 2 de maio de 1945 os russos tomaram a última morada de Hitler*.
Trabalhadores escravizados por empresários alemães
Com o início da Segunda Guerra Mundial, em 1º de setembro de 1939, a mão de obra foi ficando cada vez mais escassa na Alemanha. Os milhões de soldados que lutavam nos diferentes fronts europeus deixaram uma grande lacuna no mercado de trabalho. A solução nazista tem sido chamada de “monstruosa” por historiadores: entre 8 e 12 milhões de mulheres e homens, de várias origens, foram forçados a trabalhar de graça para empresas capitalistas vinculadas ao direitista Reich alemão, entre elas a empreiteira Hochtief, proprietária atual de grandes estradas brasileiras.
Poloneses, holandeses, belgas, lituanos, russos, franceses, judeus de várias nacionalidades, e muitos outros. Homens e mulheres foram arrebanhados e deportados para a Alemanha, sem qualquer consideração por suas famílias. O encarregado da escravatura proletária foi Hermann Göring, supremo comandante militar bastante próximo de Adolf Hitler.
A indústria alemã passou a depender bastante da mão de obra forçada, em 1942. Em 1944 mais de um quarto de todas as vagas de trabalho era ocupado por fremdvölkische (pessoas pertencentes a povos estrangeiros), muitos dos quais confinados nas instalações externas dos campos de concentração. Só em Buchenwald havia 136 dessas instalações.
Além disso, foram criados 30 mil campos específicos para trabalhadores estrangeiros, nos quais homens e mulheres viviam em condições terríveis. Isolados da vida pública, eles eram empregados em todos os ramos da indústria, expostos a desnutrição, jornadas prolongadas e maus tratos, por vezes fatais, no próprio local de trabalho.
Conta Uri Chanoch, que foi recrutado à força em 1941 na Lituânia e deportado mais tarde para a Alemanha, onde trabalhou em instalações bélicas e na produção do caça a jato Me 262, anunciado como arma-prodígio:
“As condições eram cruéis: é o que se chamava de ‘extermínio através do trabalho’. Nossas jornadas eram de 12 horas. O sadismo dominava, éramos espancados, sempre espancados, espancados sem cessar. Centenas de pessoas caíam no concreto e eram soterradas. Era um ritual normal: ser enterrado no concreto.”
Entre as empresas do capitalismo alemão que, como a Hochtief, também lucraram com o nazismo estão as seguintes, de acordo com a repórter Mariana Ribas da revista Aventuras da História: Volkswagen e Porsche (criadas especialmente para atender a pedidos/encomendas do governo de Hitler), Bayer (produção de gás para matar prisioneiros dos campos de concentração), Siemens, Hugo Boss (uniformes dos militares), BMW (veículos de guerra) e Daimler-Benz (material bélico, como motores para aviões/veículos de combate/embarcações ligeiras).
No ano 2000, segundo a agência de notícias France Presse, uma porta-voz da Hochtief admitiu que a companhia usou mão de obra de pessoas escravizadas e declarou que a empresa “não esconde seu passado e há tempos seus arquivos são acessíveis”, insistindo ainda em que a empresa havia contribuído para o fundo de indenização das pessoas submetidas a trabalho forçado pelos nazistas.
Pega na mentira
Conforme o jornal O Estado de S. Paulo, depois de ter R$ 12 milhões bloqueados pela Justiça Federal no Paraná em uma das ações de improbidade da operação Lava Jato, a multinacional alemã Hochtief anunciou, por meio de nota divulgada no dia 4 de fevereiro de 2017 (portanto um ano antes de entrar na concessão das maiores rodovias do país, para obras de construção e manutenção), que não participaria mais de obras públicas no Brasil. A empresa afirmou ainda que sofreu um prejuízo auditado de quase R$ 30 milhões em um contrato com a Petrobras.
Segundo a mídia monopolista, atuando há mais de 50 anos no país, a empresa recentemente mudou seu nome para HTB, e responde a uma ação civil na Lava Jato, acusada de improbidade em um contrato para a construção da sede administrativa da Petrobras em Vitória (ES).
As investigações da Procuradoria da República apontaram que a Hochtief (HTB) teria pago cerca de R$ 3 milhões ao então gerente da Petrobrás responsável pela obra da sede administrativa em Vitória, Celso Araripe, também réu na ação. O pagamento teria ocorrido, segundo o MPF, por meio de um contrato de consultoria de fachada firmado pelo consórcio formado pela Odebrecht, Hochtief e Camargo Correa com a empresa Sul Brasil Construção em 2010, e que teve um aditivo em 2013. A HTB afirmou em sua nota que a participação dela no consórcio era “minoritária”.
O truque engenhoso
O jornal BDF comentou que as fusões e trocas societárias entre as concessionárias internacionais de estradas brasileiras “parecem ser o elo de um engenhoso método” de ganhar muito dinheiro no país.
E exemplificou com o caso da Autopista Litoral Sul (que detém o domínio de parcela da BR-101 e da Alça de Contorno da Grande Florianópolis). Junto com outras 8 importantes concessões de rodovias, a Litoral Sul fazia parte de um mesmo pacote vencido pela espanhola OHL em 2008.
Um ano antes, 2007, ela tinha recebido concessões de grandes vias em outros estados. Não cumpriu aquelas obras no prazo e ainda retirou R$ 310 milhões de pedágios, antes de vender tudo e deixar o Brasil. O TCU, conforme ainda o jornal, investigou o favorecimento financeiro ao grupo e descobriu que a empresa chegaria ao final da concessão da BR-101 (trecho Curitiba-Florianópolis) com lucro indevido de R$790 milhões. “Mas o TCU chegou tarde: a OHL já tinha vendido suas ações e caído fora”, disse o BDF.
E prosseguiu: quem comprou o butim da OHL foi a Arteris, empresa nova pertencente ao megagrupo também espanhol Abertis, que depois desse negócio virou a maior operadora de rodovias do mundo (Obs: E não tem condições de terminar a tão necessária Alça de Contorno??).
Houve detalhes muito esquisitos nessa compra e, por isso, a negociação OHL-Abertis foi considerada pela Bolsa de Valores de Madri, em 2014, como a mais complicada operação do mercado acionário espanhol.
Mas a Arteris atuou só por 3 anos. Foi vendida em 2018. “É o método dos espanhóis”, afirmou o BDF. “Cobram pedágio, faturam e depois vendem a concessão”. Foi a Hochtief que assumiu a parte majoritária da Arteris/Abertis.
Em 2018, o balanço da Arteris apresentou uma receita bruta de R$ 4,1 bilhões. Desse resultado, 69% vieram de pedágios, notadamente pagos por veículos pesados (e os caminhoneiros padecendo para sobreviver…).
Nota
*Esses importantes acontecimentos históricos, da presença russa comunista/esquerdista na luta contra Hitler na Guerra, e inclusive de terem sido os soviéticos os que realizaram a ação militar final contra a chefia hitlerista são vergonhosamente ignorados pelo atual gerente brasileiro, o patético Jair Bolsonaro, que sempre insiste em dizer que o nazismo foi “de esquerda”).