Mais de 600 famílias camponesas ocupam fazenda em Goiás

Mais de 600 famílias camponesas ocupam fazenda em Goiás

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Na madrugada do dia 25 de março, mais de 600 famílias camponesas (cerca de 2.400 camponeses) ocuparam a Fazenda São Lukas, no município de Hidrolândia, em Goiás. A ação faz parte da Jornada Nacional de Luta das Mulheres Sem Terra. As informações são do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

O MST afirma que a fazenda, de cerca de 67 ha, foi comprada em 2002 pelo suíço Pietro Chiesa, que, segundo investigações, junto com mais nove pessoas, mantinha um esquema de tráfico internacional de mulheres para prostituição. Vítimas de cidades próximas a Hidrolândia (Anápolis, Goiânia e Trindade) eram levadas para a Suíça e eram submetidas a um esquema de endividamento e prostituição. O esquema foi descoberto pela Polícia Federal em conjunto com autoridades suíças na Operação Fassini, de 2006. Desde 2016, a fazenda é patrimônio da União.

Velho Estado reprime ocupação e famílias são despejadas

Mesmo a propriedade ocupada sendo de competência da União, a Polícia Militar (PM) de Ronaldo Caiado (União Brasil) reprimiu a ocupação. Segundo o MST, a PM “promoveu o despejo fora de sua jurisdição, sem pedido de reintegração de posse e, portanto, sem nenhuma notificação administrativa ou judicial”. Após tratativas entre dirigentes do MST e autoridades da Secretaria do Patrimônio da União (SPU), as mais de 600 famílias desocuparam a área. A fazenda será entregue ao Instituto de Colonização e Reforma Agŕaria (Incra).

Camponeses detém menos de 20% das terras de Goiás.

Predominam no estado de Goiás, como em todo o Brasil, as pequenas propriedades, de área menor do que 200 ha. No estado, estas terras são 81,85% das propriedades rurais, detendo, porém, apenas 19,79% das terras do estado. Já o latifúndio, 3,65% do total de estabelecimentos, detém a maior parcela de terras do estado (46,87%). Os dados, referentes à primeira década do presente século, são do estudo “Concentração nas atividades agropecuárias de Goiás entre 1996-2006: implicações para o desenvolvimento rural sustentável”. 

17 mil camponeses participaram de ocupações em 2023

Enfrentando tanto o latifúndio e sua pistolagem, como também o governo e sua demagogia, as massas camponesas apontam para o caminho de tomar as terras do latifúndio. Desde o início de 2023, segundo levantamento realizado por AND, pelo menos 17 mil camponeses (cerca de 4,4 mil famílias camponesas) participaram em tomadas de terra por todo o país. 

Dessas lutas, destacam-se as tomadas de terra da fazenda Norbrasil, em Nova Mutum-Paraná, em Rondônia, dirigida pela Liga dos Camponeses Pobres (LCP), onde mais de 800 famílias podem viver, trabalhar e lutar em cima de seus lotes já divididos. Atualmente, esses camponeses estão colhendo os frutos plantados pela luta da Revolução Agrária na Área Tiago Campin dos Santos desde o início da resistência em 2021: está em curso a construção de uma Escola Popular e colheitas das plantações das centenas de famílias. Além desta luta, também se destaca o “Carnaval vermelho”, dirigido pela Frente Nacional de Luta (FNL) e que mobilizou mais de 1,4 mil famílias camponeses, e a tomada de quatro latifúndios no extremo sul da Bahia, sendo três deles latifúndios eucalipteiros da empresa latifundiária Suzano Papel e Celulose S/A, que mobilizou cerca de 1,7 mil famílias.

Governo não entregou terras e milhares de famílias foram despejadas

Colocando-se como “braço direito” do latifúndio, que está temeroso de um grande levante camponês no país, e como inimigo dos milhares de camponeses pobres em luta por um pedaço de terra para viver e produzir dignamente, o governo Lula/Alckmin tem dado continuidade à situação de penúria dos povos do campo. Toda a sua demagogia cai por terra quando mesmo organizações que apoiaram Luiz Inácio na farsa eleitoral de 2022 criticam-no por nem sequer ter apresentado um plano de “reforma agrária”, além de ser conivente com a série de despejos de milhares de famílias por todo o Brasil. É em torno destes fatos recentes que o movimento camponês tem se levantado em denúncias e ações para resistir às ofensivas do latifúndio.

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