Em 2022, o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) registrou 1.067 greves, que contabilizaram 54 mil horas paradas. A maioria dessas greves foi no intuito de combater ataques a direitos já estabelecidos. O departamento afirma que, em 2022, o número de greves se equiparou ao de 2019, antes da pandemia da Covi-19, destacando que nesse intermédio, as grandes empresas se utilizaram da relativa desmobilização dos trabalhadores para aprofundar a precarização no trabalho, promovendo cortes de direitos e terceirizações em massa.
As reivindicações de 81% das greves se relacionavam aos ataques contra direitos trabalhistas, representando um total de 866 greves. Dentro desse número, mais da metade (51%), referia-se à denúncia de descumprimento de direitos, cerca de 547 greves. Outros 46% foram de greves contra a degradação de condições de trabalho, com 493 greves.
Muitas das greves também tiveram como pautas a conquista ou amplicação de direitos e benefícios. A porcentagem foi de 49,6%, cerca de 529 greves.
Além disso, cerca de 15,5%, ou 165 greves, foram greves de “protesto”, descritas pelo Dieese como greve que “visam ao atendimento de reivindicações que ultrapassam o âmbito das relações de trabalho”.
De cada 5 greves, 2 foram por salários
Entre as maiores reivindicações estavam questões salariais como reajuste (42%) e pagamento do piso (27%), as mais frequentes. Itens relacionados à alimentação (tíquetes, cestas básicas) e ao pagamento de vencimentos em atraso (salários, 13º, férias) vieram em seguida, com a participação de 20%.
Do total das greves, cerca de 54% foram promovidas pelo funcionalismo público, o que correspondeu a 70% das horas paradas. Além disso, em 2022, 45% das greves duraram mais que um dia, 14% duraram mais de 10 dias e cinco greves também ocorreram por mais de 100 dias.
Greves que abrangeram categorias profissionais inteiras (53%) foram preponderantes em relação àqueles realizadas isoladamente por empresas (privadas ou estatais) ou unidades (47%).
De acordo com o Dieese, o quadro de greves de 2022 é mais semelhante ao do ano de 2019, uma vez que nos anos de 2020 e 2021, devido à pandemia, houve um refluxo na mobilização. Traçando um comparativo, de 2021 a 2022, a participação de greves deflagradas por funcionários públicos aumentou 196%.
Além disso, sobre a precarização do trabalho nesse meio tempo, o departamento discorre que a “flexibilização forçada que a pandemia inaugurou/acentuou em muitas organizações passaria a ser utilizada sistematicamente como um meio eficaz de precarização do trabalho, cujas possibilidades, é verdade, já estavam dadas antes de 2019, mas que não haviam sido testadas em tal amplitude”.
Para exemplificar, pega-se o caso do Santander, que segundo denúncia dos sindicatos, funcionários diretos estavam sendo transferidos em número cada vez maior para empresas prestadoras de serviço que, mesmo sob a administração do banco, não assinam a Convenção Coletiva dos Bancários. Terceirizados à força, os trabalhadores estão, dessa forma, sujeitos a uma grande perda de direitos.
Bomba relógio
A luta classista no Brasil é, constantemente, uma bomba prestes a explodir. A exploração e opressão sobre os trabalhadores são particularmente graves em nosso país, devido sua condição de semicolonial, dependente e subjugado ao imperialismo, que a cada crise aprofunda a rapina sobre nosso povo. Esse cenário foi profundamente agravado após a reforma da previdência apresentada por Temer em 2016, seguida da reforma trabalhista em 2017.
As mobilizações dos trabalhadores são reflexo direto do ataque aos direitos pela reforma trabalhista. Nela, foram aprovados pontos como: autorização da dispensa coletiva sem intervenção sindical; permissão para negociação “coletiva” de condições menos benéficas ao trabalhador do que as previstas em lei (por exemplo, a prorrogação da jornada de trabalho em ambiente insalubre); horas extras sem pagamento em “home office”, entre outros ataques.
Desde então, somam-se aos ataques cada vez mais insuportáveis aos direitos dos trabalhadores, que já se encontram na míngua, a crise econômica agonizante e a pandemia da Covid-19.
Quanto ao novo governo, o diretório nacional do Partido dos Trabalhadores (PT) aprova “para inglês ver” documentos que dizem “defender a revogação da contrarreforma trabalhista feita no governo Temer”, enquanto Luiz Inácio deixa claro que rejeita a ideia de “mudar tudo e voltar ao que era antes”, ou seja, revogar de fato a reforma.
Por sua vez, Rui Costa, seu ministro da Casa Civil, afirma que “Não há nenhuma proposta de revisão da reforma da Previdência em curso”.
Diante disso, ingressa-se em 2023 com milhares de greves por todo o país, expressando essa situação explosiva. Apenas entre janeiro e o início de março, ocorreram greves de professores, dos enfermeiros, de operários metalúrgicos, metroviários, motoristas de ônibus, entregadores e motoristas de aplicativo e de servidores públicos.