O ministro do corrupto governo de Bolsonaro, Milton Ribeiro, teve áudio vazado recentemente. Foto: Sérgio Lima
Milton Ribeiro afirmou que o governo federal dá prioridade para liberação de verbas para aquelas prefeituras que negociarem diretamente com dois pastores. O ministro e os dois pastores (que não são funcionários do ministério) utilizam as instalações do Ministério da Educação (MEC) para organizar reuniões em que negociam propinas e favorecimentos a aliados políticos, uma prática ilegal tão comum no governo de Jair Bolsonaro.
A fala de Milton Ribeiro foi gravada e divulgada no dia 21 de março pelo monopólio de imprensa Folha de SP, tornando público mais um escândalo de corrupção envolvendo os ministros do governo militar de Bolsonaro e generais.
cobrou até ouro como propina
Os dois pastores são Gilmar Santos e Arilton Moura. Eles negociam diretamente com prefeitos a liberação de recursos federais para obras que interessam a estes últimos. Estes recursos são todos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), vinculado ao MEC.
No áudio que veio à público no dia 21 de março, o dirigente do órgão responsável pela Educação no país, afirma que sua prioridade é “atender primeiro municípios que mais precisam e, em segundo, atender a todos os que são amigos do pastor Gilmar”. Milton continua afirmando que “foi um pedido especial do presidente da República fez pra mim sobre a questão do Gilmar”. “O apoio que a gente pede, não é segredo e isso pode ser publicado, é a construção das igrejas”. O áudio se encerra neste momento.
Ministro da Educação diz priorizar amigos de pastor a pedido de Bolsonaro; ouça áudio. Em áudio de reunião com prefeitos obtido pela Folha, Milton Ribeiro fala sobre pedidos de apoio para construção de igrejas.
? Paulo Saldaña pic.twitter.com/lE9PXuJKAM
— Folha de S.Paulo (@folha) March 22, 2022
O possivelmente envergonhado prefeito de Luis Domingues (MA) Gilberto Braga admitiu que ouviu a seguinte proposta de Arilton Moura: se ele entregasse nas mãos dos pastores um quilo de ouro (que atualmente custa R$ 300 mil), receberia as verbas pedidas ao MEC. O prefeito, contudo, não disse nem que sim nem que não.
Cabide de corruptos
Segundo informações do monopólio de imprensa Estadão, os pastores ligados ao presidente Jair Bolsonaro teriam livre circulação no MEC. Esse trânsito facilitaria o fechamento de acordos com prefeitos que buscam recursos federais.
Fanfarrão, o pastor Arilton falava sem pudor que já havia enviado para alguns prefeitos “alguns milhões”. Ato contínuo, passava o número de sua conta-corrente para que todos os interessados pudessem anotar e dar a “entrada” no valor de R$ 15 mil para liberação de verbas da educação pública do País.
Atuando como lobistas, viajando em aeronaves da Aeronáutica, estes corruptos exploradores da fé alheia fazem todo tipo de negociação espúria. Desviando verbas da educação pública para obras de fachada, favorecem prefeitos que buscam nos recursos federais uma fonte de salvação para uma possível reeleição.
Somente nos últimos 15 meses, ainda segundo o Estadão, Gilmar e Arilton estiveram presentes em 22 eventos oficiais do MEC. Em um dos encontros, o gabinete do MEC recebeu Marlene Miranda, prefeita de Bom Lugar (MA) do PCdoB.
Um vídeo mostra Gilmar Santos gabando-se de ter se encontrado com o prefeito “Júnior Garimpeiro”, Centro Novo (MA), que foi preso em outubro do ano passado por extração e venda ilegal de ouro. No encontro, diz Gilmar, Milton Ribeiro também estava presente. Neste evento, até mesmo uma aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB) transportou a comitiva de corruptos. Despudorado, fala que teve um encontro para “oferecer os recursos do MEC para municípios e prefeituras”.
Nesse relato de 18/05/21 o pastor Gilmar Santos afirma que em uma reunião com o ministro Milton Ribeiro no Maranhão, foram oferecidos recursos do MEC a prefeitos que estavam lá.
Participação especial de Junior Garimpeiro! pic.twitter.com/tIpeZCrsI3
— Desmentindo Bolsonaro (@desmentindobozo) March 22, 2022
Bolsonaro e o Pastor Gilmar. Foto: Reprodução
Enquanto isso… educação em frangalhos
O orçamento do FNDE é de R$ 945 milhões. O órgão é coordenado pelo bloco de partidos do chamado “centrão” que inclui Progressistas, PL e Republicanos e é presidido por Marcelo Ponte, que é ex-assessor de Ciro Nogueira (Progressistas).
No ano passado, o ministro Milton Ribeiro esteve envolvido em uma aparente trapalhada envolvendo justamente o FNDE: ao realizar o primeiro repasse para municípios, três estados receberam mais dinheiro que deveriam e outros seis receberam a menos. A verba total que foi destinada de maneira errada foi de R$ 766 milhões. O que aparecia como um erro em verdade é indício de um esquema estruturado de corrupção em vigor no MEC.
Também não é possível evitar comparações com a lambança de Pazuello, general da ativa do Exército reacionário, que no período em que esteve à frente do ministério da Saúde enviou as vacinas que deveriam ir para o Amazonas para o Amapá. Ficou comprovado que o braço direito de Pazuello, Airton Cascavel, estava envolvido em casos de corrupção no estado do Amazonas. Cascavel é também suspeito em caso envolvendo estupro de uma jovem.
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Cortes de verba
Enquanto as finanças do esquema corrupto seguiam sem ser descobertos, o governo federal tratou de autorizar um corte de aproximadamente R$ 800 milhões no MEC. Com isso, ficou ainda mais reduzida as verbas destinadas à construção e reforma de unidades de ensino por todo o país. Os cortes do MEC atingiram ainda instituições de ensino superior (R$ 87,5 milhões), básico e médio, além de bolsas de pesquisa (como as bolsas do CNPq e da CAPES, cortados em mais de R$ 62 milhões).