Malvinas – estratégias de aproximação ao tema

Publicamos uma nova colaboração de André Queiroz, ao AND

Malvinas – estratégias de aproximação ao tema

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O que sabemos sobre a guerra das Malvinas no Brasil? Passados 41 anos dos ocorridos nos limites do sudoeste da Argentina, o que restou daqueles dois meses e meio na memória social dos brasileiros? Algo solto, um fragmento de notícia, um pedaço de história recontada por sabe-se lá quantos até que alguém a reproduza em um bate-papo regado a cerveja em um botequim da vida? Quantos de nós nos colocaríamos à tarefa de preencher a um único parágrafo sobre o que se deu às nossas costas, a este país vizinho, com o qual comungamos, sob tantos aspectos, um processo histórico comum? O que sabemos desta guerra, do ajuntamento de tropas, dos telegramas de reincorporação chegados aos longes de Argentina àqueles aos que, há pouco, se havia ‘dado baixa’ da condição de recruta, depois de servir por um ano à pátria armada em seus quartéis – a cozinhar, a limpar, a varrer, e a se equilibrar sob a alcunha de Colimba? Quantos dentre nós, em Brasil, já escutou tal expressão Colimba?

O que será descreveríamos a este parágrafo imaginário sobre um ocorrido de ainda há pouco, já aos estertores do longo Século XX, no qual morreram 649 combatentes, e dentre estes, em sua esmagadora maioria, colimbas, conscritos, recrutas, chicos– quase todos provenientes dos campos onde a vista se estica ao horizonte sem fim; ou das montanhas andinas, escarpadas e geladas no interminável das cordilheiras, dos longes de Jujuy, Salta, Tucumán, ou em Corrientes, Entre Ríos, San Juan, Santiago del Estero; nas zonas de fronteiras, ou nos pueblitos em que se come o pão caseiro, amassado por mãos familiares, e sacado da fornalha,  lá onde a Argentina se mescla de imigrantes recém-chegados em busca de trabalho; ou então, talvez e ainda, aos bairros nos que ser hincha de um clube da periferia é muito mais do que torcer e vibrar com um time sem estrelas e sem chances de título? 

Será que caberia a este fabulado parágrafo, que nos exigimos, a descrição de personagens da classe (19)62, 19 anos mal completos, e que ainda ontem àquele abril de 1982 estivera nos campos plantando ou colhendo maíz, ou devotados ao minucioso trato de corte da carne vacuna, ou bailando em sonhos enamorados a uma milonga arrastada, ou dispondo à ordem do dia da tarefa dos estudos a uma escola comercial na que se pudesse aprender os quefazeres de um ofício, de uma profissão na que alguém pudesse arrancar – e tudo isto como se se estivesse retomando a vida depois do ano prestado ao serviço militar que àquela época, na Argentina, era obrigatório – será caberia a este esforçado parágrafo certa descrição que se voltasse a estes tipos? Talvez que nada – ou quiçá um recorte e outro sacado às orelhas dos fatos, tomado quando muito à sanha de algum interesse extemporâneo. Ou talvez sequer isto. Afinal estamos no Brasil e isto diz respeito aos argentinos…

Na certa que haveria quem assim justificasse, na defesa ao alheamento próprio, ou ao desconhecimento comum, afinal se trata da história de um país outro que não o nosso – e talvez, e ainda, que se viesse a acrescentar que a cada qual que lhe valha e sirva o cuidado para com as suas próprias mazelas porque não seria pouca a de que padecemos. Entretanto, será nos vale esta emenda bipartida que corrobora com o processo de balcanização de que sofremos os nossos povos e países? Deixar quieto o que não nos é nosso não seria retroalimentar as políticas que nos alienaram de um projeto comum a nossos povos na grande pátria latino-americana? Não seria a esse cruzar de fronteiras o resgate do que nos é próprio, a tarefa de revisitar a um passado que nos acerque da condição na qual ainda hoje, e de formas renovadas, estamos encalacrados, a de países periféricos e dependentes – solapados por golpes de Estado; saqueados pela voracidade vende-pátrias de atores econômicos internos; submetidos às agendas de interesses espúrios de países imperialistas e de organismos financeiros internacionais? Ou será insistiremos em afirmar que não nos diz respeito um conflito geopolítico no que se fizeram envolvidos a Argentina, país irmão de Nuestra América, e a Inglaterra (Reino Unido), uma das principais potências neocoloniais, tendo a seu lado, claro está, os aportes dos Estados Unidos na sua costumeira política voltada ao pátio traseiro

Entretanto, importante salientar que mais além de toda a ausência que nos coube, e como signo-sintoma a este parágrafo imaginário que engata e não avança uma vez a falta de informação que nos atravessa, aos brasileiros, sobre o caso Malvinas; parece pairar esquecimentos de outra ordem, fantasmas mal resolvidos e que se não nos chegam é também porque foram abortados em traumas argentinos de que não se atravessou, de que não se fez a curva. Sigamos um pouco nesta direção de análise. Afinal estamos em busca de uma aproximação ao tema.

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Será que tudo o que nos cabe evocar daqueles meses de abril/maio/junho de 1982 pode ser subsumido às encenações performáticas da última das Juntas Militares, durante o terrorismo de Estado, em seu ato derradeiro? Será que se tratava tão somente dos efeitos circenses e/ou litúrgicos de uma patriotada populista a meia bomba para tergiversar a gravidade fracionária da hora – quando os estragos neoliberais da política econômica tocada, a princípio, por José Martinez de Hoz, e tão logo por Roberto Alemann, provocavam graves fissuras nos interesses de classe da burguesia local? Será que tudo o que diz respeito às Malvinas naqueles primeiros anos da década de 80 tem de ser lido e interpretado sob esta clave analítica? Será que dentre as inumeráveis e irredutíveis vozes dos protagonistas àquele outono argentino, o que nos cabe acessar, hoje, está restrito a este enquadramento dos fatos? Será que nos cabe cerrar os olhos face ao arbítrio e a violência do colonialismo britânico sob o pretexto da desqualificação sumária da causa/pauta argentina (Las Malvinas son argentinas!) tão somente porque a estas terras hermanas o que imperava, àquela hora, era o terrorismo tocado em doses massivas pelos algozes militares e suas bandas paramilitares a soldo de um projeto antinacional? 

Mas não seria de um erro de cálculo o raciocínio que subsume por inteiro e por decalque o tema Malvinas (como se tomasse a parte pelo todo) – sobretudo porque ao elencarmos o processo causal das ditaduras empresariais militares em América Latina, haveríamos de colocar no tabuleiro das peças (do que vivíamos e padecíamos) o conluio servil do empresariado local e sua guarda pretoriana para com os atores forâneos – ou seja, os seus préstitos rebaixados às monopólicas corporações internacionais com suas matrizes situadas aos países imperialistas? E a estes países não se lhes emprestavam (às tais corporações) as artimanhas de barganha, os diversos artefatos mobilizados por seus Departamentos de Estado, suas agências de inteligência, seus lobbies de comunicação e propaganda, além de sua indústria cultural massificadora e contumaz, e no limite, mas sempre a postos, o seu complexo industrial militar? Onde e sob que pretexto a deslegitimação integral e peremptória do tema Malvinas como se de tudo o que tivéssemos que aferir fosse tão somente o efeito simulado de uma Junta Militar a operar, sob a forma de farsa uma guerra desde sempre injustificada, a fim de evitar o seu próprio e inevitável desmonte? Ou não serão argentinas as Malvinas?! Melhor então que se deixe quieto, calada a guerra, calados os fatos, sufocados os anseios, subsumidos os testemunhos, desmalvinizados até mesmo os espectros que insistem?

Não seria de um cálculo estranho este que conformou o silenciamento sob as baquetas do recalque quando do processo de redemocratização durante o governo de Raúl Alfonsín – cálculo arredondado aos ajustes de hora, cálculo-motriz de cerceamentos que procurasse justificar a ausência de luzes sobre um fato histórico porque suposto tal fato ousasse trazer consigo arestas esfarpadas; personagens híbridos com pouca aderência aos ajustes inequívocos; vozes que alentam perspectivas incompatíveis e não consensuais – como se tudo somado não passasse de inconveniências que se põe para debaixo do tapete sob o pretexto da condição pós-traumática de que se atravessa?! É que se em terras brasileiras pouco é o que se sabe acerca da guerra de reintegração do território não continental argentino, arriscamos dizer que na Argentina o que se foi plasmando logo quando da derrocada da ditadura e do terrorismo de Estado fora uma política de esquecimento para com Malvinas, e para com os seus relatos carregados de conflitos e cisões, de fraturas que não se juntam, de cristais que se corrompem à medida em que o tempo avança. São brechas o de que se trata for o caso levantar a pauta Malvinas na Argentina de hoje, ainda.          Dito isto, seria o caso ‘apagar Malvinas’ como se fora uma mancha, um borrão na história? Seria o caso se manter sitiado a certa disjuntiva tática: a de chorar a guerra ou torná-la épica como quem a redoma na evitação de qualquer proximidade que pudesse vir a cortar em sangramento o dedo de quem dela se aproxima; ou no intento de fissurar a teia narrativa vazando-a em brechas que não se comunicam; ou de barrar o gesto que (des)acobertasse o que, suposto, repousa exausto e apaziguado? Seria o caso sufocar o seu espectro que ainda paira irresolvido, fazer calar àquelas vozes múltiplas que inda agora disputam lugares na arena da memória histórica? No ensejo de quem procura tecer os argumentos de um jornalismo de ideias, tais hipóteses ou tomadas de posição é o que, de pronto, se deve descartar para que se siga adiante.

E se segue o relato do jornalismo que investiga, é no intento de levantar, sob os critérios da crítica, a poeira dos fatos sacados em perspectivas distintas – carregadas da vivência crua dos fatos; experimentadas na carne quente, frágil e valente de tantas frentes nas que se se lançou, combateu, agonizou, compartilhou, e se medrou aos gritos, e se comemorou também aos gritos, e se afundou/ e se emergiu, e se matou, e se morreu, e se sobreviveu, e se foi tocando como pode o que lhes foi cabendo. Em frente? Por vezes que sim, noutras sob a intervenção do arroubo que encerra tudo, o suicídio, ou a recomposição da vida. Eis um desafio a quem chega de fora e busca uma aproximação no intento de compreender e depois contar. Ouvir e ouvir e outra vez ouvir, procurando os jeitos discretos de inquerir, de interpelar a partir dos acúmulos de que se vai engordando e contar, contar, partilhar com tantos que quedaram de fora dos fatos e dos causos de que se escutou: compartilhar para que não quede sem eco que as reverbere as vozes dos que aí estão e as vozes dos que já não restam porque foram tiradas ao valão da história de forma inapiedada.

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Lembro que, pelos idos de 2014-15, havia uma barraca de lona armada a um canto da Plaza de Mayo, nas laterais da Casa Rosada. Uma barraca simples, com um pequenino e improvisado fogão de duas bocas, uma ou outra panela por arear e com o cabo roto, uns poucos pratos fundos de metal, e um bando de garrafas térmicas com água quente para o providencial mate tomado na cuia que se compartilhava de mão em mão. Fazia um frio de rachar os ossos, e a este turno, sob os ventos gelados de junho, experimentei do mate junto àqueles tipos. Talvez estivessem acampados ali sete, oito ou uma dezena ou uma dúzia de pessoas; no entorno, diversos cartazes que reivindicavam Malvinas e, a estes cartazes, frases, consignas que identificavam como excombatentes os que estavam ali acampados há tempos, meses, ou talvez mais do que um, dois, ou três anos. Não me recordo ao certo. Na ocasião, recolhi um par de depoimentos curtos porque me faltavam elementos de fundamentação histórica para buscar me achegar à gravidade do que era relatado àqueles testemunhos.  Em minúcias, eles descreviam a zona cinzenta, espécie de limbo, para a qual eles foram sendo tragados ao longo dos anos. A um cálculo rápido, na ponta dos dedos, àquela altura, eram 32, 33 anos passados desde os 74 dias que durou a guerra das Malvinas – entre 02 de abril e 14 de junho de 1982. Todavia, para eles, a guerra não havia terminado de todo. Ao menos no que tangia aos seus efeitos encarnados à pele sob a forma de estigmas.  Ou talvez que Malvinas não tivesse se desgarrado da teia da memória tramada tamanha a gravidade ontológica do acontecido. Mas não se tratava da exaltação ao ato heroico, tampouco da reivindicação da condição de vítima. Era algo mais concreto e tangível o que eles apontavam. Passavam fome, não tinham emprego, foram abandonados pelos antigos companheiros de bairro, e suas famílias foram fraturas no decorrer de tudo. Disseram ter sido esquecidos, apagados, por um lado. Por outro, apontados nas ruas como seres exóticos, estranhos, carregando na corcunda algo que já a ninguém interessava saber. Como retomar o trabalho, a vida entre os pares, encetar laços afetivos se pareciam portar consigo as vestes e trejeitos dos que foram os responsáveis pelo Proceso de reorganización nacional, como se autodenominava o terrorismo do Estado ditatorial? Mas não eram militares, foram colimbas. Não tinham o soldo de militares que não eram. Todavia, como civis penavam do fardamento simbólico que se lhes lançava a cara.

É que com a retomada do processo democrático depois do trauma provocado por uma política planificada de perseguição, tortura, assassinato de militantes das organizações político-militares de libertação nacional, ou de sindicalistas e de trabalhadores urbanos ou camponeses, de sacerdotes devotados às lutas populares, de jornalistas e escritores, artistas e produtores culturais, estudantes, familiares e conhecidos, quaisquer que fossem os tipos escolhidos sob o pente fino do arbítrio, e então, os voos da morte, o desaparecimento de cadáveres, o sequestro de bebês nascidos em cárceres clandestinos – práxis contumaz operada pelas Forças Armadas entre os anos de 1976-1983, e isto tudo somado, onde colocar àqueles recrutas que sobreviveram ao conflito de Malvinas? Onde depositar a luta encarniçada contra o colonialismo e a sanha do imperialismo britânico? Segundo os depoimentos dos colimbas, lhes coube a pecha de terem participado do festim de horrores do terrorismo de Estado, mas não fora o caso. Eram recrutas que ainda ontem, às vésperas da convocação, estavam semeando, pastoreando, estudando, bailando, tocando os acordes de uma vida comum. Esta uma das rachaduras a que Malvinas se foi me apresentando.

Mas não apenas. É que agora, no avançado da hora deste novembro de 2023, disposto a evocar a estes testemunhos sobre o conflito bélico que mobilizou grande parte da sociedade argentina àqueles meses de 1982, e então poder aportar algo do que se dera aos leitores brasileiros, resolvi elencar um dispositivo de aproximação e me enfurnar sobre o tema das brechas e rachaduras por onde costuma escoar o que não convém que se ponha aos debates da arena política. Comecei a recolher o que podia nas giras pelos sebos, feiras de livros, bibliotecas e arquivos de internet – documentos de época veiculados em jornais e revistas; livros escritos por correspondentes; livros com os testemunhos dos colimbas excombatentes; livros de ensaios analíticos; livros de contos e narrativas literárias; fotografias sacadas por profissionais e por não profissionais; arquivos de familiares; arquivos de investigadores.  Trata-se de chegar o mais perto possível dos relatos que presentifiquem àqueles meses de um já distante ano de 1982. 

 E segui, venho seguindo nos interstícios destas notas que vou escrevendo as estratégias acumuladas em dez anos de trabalho como documentarista: a tarefa de contatar, de chegar às gentes que possam testemunhar, de expor a elas as minhas intenções, de marcar encontros para conversas e entrevistas, de fuçar aqui e ali a agenda do que se vai apresentando sobre o tema. E no que tange a estas atividades, estive a duas sessões imenso distintas, nas que o recorte do relato a que se evoca parece contar a guerra de Malvinas de quadraturas analíticas que não se cruzam e, no limite, se chocam. 

Um destes eventos em que estive se chamava Jornadas Malvinas 41 anos programado pelo Centro Naval, na esquina da Calle Florida com a Avenida Córdoba. No salão repleto de militares fardados da Marinha de Guerra Argentina, com direito à banda militar com seus instrumentos de sopro, duas mesas de livros convidavam ao escrutínio voraz destes olhos de leitor. Um evento em três dias nos quais, entre outros, conferenciaria Nicolas Kasanzew, jornalista correspondente de guerra e da bancada de apresentadores no famoso, e mal falado, 60 minutos, um jornal televisivo de notícias da ATC (Argentina Televisora Color) que fora criada em 03 de maio de 1979, da fusão de outros grupos de comunicação e que recebera volumosos aportes financeiros do governo militar, tendo à frente de sua programação a gerência de Carlos Monteiro em profícua parceria com o interventor Coronel Enrique Santos Paradelo. O montante de recursos investido pelos militares, assim como o aporte de recursos proveniente do patrocínio dos anunciantes sobrelevaram o veículo de comunicação ao primeiro lugar no ranking de audiência1. De forma panorâmica, sem ingressar nos senões do fato, podemos afirmar que a este espaço prepondera o relato de extração épica acerca da guerra de Malvinas.

O outro dos eventos a que me fiz presente foi a abertura da Mostra Malvinas: Memoria de la espera, resultado de um cuidadoso trabalho de investigação, levantamento e catalogação de fotografias e depoimentos de soldados conscritos (colimbas) durante a Guerra de Malvinas. Tal pesquisa foi realizada pelos fotógrafos e investigadores Diego Sandstede e Martín Felipe, e se realizava na espaço cultural da CTA (Central de Trabajodores y Trabajadoras de la Argentina), situada a Calle Bartolomé Mitre. Durante o evento, organizou-se uma roda de debates com a apresentação dos investigadores e também do professor da Facultad de Comunicación Social de la Universidad Nacional de Quilmes, Daniel González2

De forma aleatória, ousei tirar fotografias de parte do que nos era exposto às paredes do Espaço Cultural. Entretanto, como absolutamente nada acaba por se (nos) manter gratuito e vago ao olhar de quem documenta, fui sendo apresentado a outras brechas de investigação, a outros ingressos no tema Malvinas – o que devo de forma quase que integral ao genial trabalho de Diego e Martín, assim como aos aportes analíticos disponibilizados por Daniel. 

A este tríptico fotográfico, vemos o regresso do combatente ferido, o reencontro com os familiares, e o destacamento de mulheres-enfermeiras, instrumentistas cirúrgicas, entre outras atividades executadas por mãos femininas.

Mas para que não incorramos no risco de nos distanciar aos modos habituais dos acadêmicos face à nervura do real que se encarna em sujeitos concretos de carne e osso, decidi nomear a estas brechas e rachaduras pela condição a que se esteve ou a que se rebateram os diversos agentes implicados no conflito de Malvinas. E,  na medida em que a massa de informação me crescia e segue crescendo, começo por nomear a tais brechas ou sujeitos coletivos aos quais devotarei uma matéria a cada um. Eis as senhas de ingresso: 

  1. Colimbas e/ou excombatentes;
  2. Familiares de caídos (mortos) durante a guerra;
  3. Excombatentes portadores de ferimentos de guerra;
  4. Familiares de suicidados no pós guerra;
  5. Mulheres recrutadas/voluntárias que atuaram na retaguarda.

Nem épica da ação gloriosa e inalcançável ao permeio da função crítica, nem a dinâmica vitimocêntrica que também acaba por limitar e paralisar o ensejo analítico sob o pretexto de um juízo categórico e universal que faz flamear as bandeiras do nunca mais! como se os processos causais e seus agentes históricos não continuassem a operar os seus desmandos e arbítrios que se depositam sobre a miséria crescente da massa de trabalhadores ainda hoje – eis o cuidado a ser tomado por este que se aproxima de tema delicado e atualíssimo, o da guerra como forma outra e contumaz de fazer tocar de outro modo os embates da política. Talvez que certas destas guerras tragam consigo os avanços do terrorismo financeiro operado pela máquina de guerra dos Estados nacionais que representa a sede e a fome voraz de carniça de que prima os modos do estar aí dos conglomerados monopólicos transnacionais. O massacre da Faixa de Gaza está na ordem do dia para que não nos deixemos embriagar por máximas pacifistas sem terra e condição. Talvez que certas das guerras anticoloniais tragam consigo a urgência urgentíssima da libertação nacional e continental de blocos de países periféricos e subalternizados, que se lançam cheios de bravura aos campos de batalha ainda que uma sua convocatória possa aqui e ali atender a graves contradições internas que exprimem a luta de classes em seus estágios os mais acirrados tais como vivenciara a Argentina quando do conflito em Malvinas.

O ingresso ao vozerio destes sujeitos anônimos e coletivos é forma de equacionar tais demandas, e lançar para frente novas frestas pelas quais se nos cheguem os ventos da emancipação política econômica social de nosso povos. Ventos que toquem forte e profundo os nossos corações e mentes em América Latina.


Esse texto reflete a opinião do autor.

Notas:

  1.  Link de acesso ao programa 60 minutos exibido em 02 de abril de 1982 – primeiro dia do conflito de Malvinas: https://www.youtube.com/watch?v=QzcgExhuCIQ&t=16s&ab_channel=Televisi%C3%B3nP%C3%BAblica
    Sobre a fusão que resultou na ATC, cf. https://es.wikipedia.org/wiki/Televisi%C3%B3n_P%C3%BAblica_(Argentina) ↩︎
  2. Imprescindível visitar ao site do Projeto Memória de la Espera: https://memoriadelaespera.com.ar/
    As duas últimas fotografias deste ensaio foram reproduzidas deste magistral trabalho. ↩︎
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