Manifestações exigem justiça e o fim da intervenção militar no Rio de Janeiro, 20/03. Foto: Rodrigo Duarte Baptista.
A bárbara execução da ativista Marielle Franco com quatro tiros e do motorista Anderson Pedro Gomes no bairro do Estácio, zona norte do Rio de Janeiro, gerou ampla comoção social no país e fora dele.
O crime, ocorrido em meio à intervenção militar das Forças Armadas no Rio de Janeiro, causou profunda indignação nas massas. Protestos foram organizados em mais de dez capitais do país nos dias seguintes ao assassinato. Foram registradas manifestações no Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Salvador, Recife, Natal, Fortaleza, Belém, Manaus, Curitiba e Porto Alegre, além de outras cidades no interior.
No dia 20 de março, uma semana após o assassinato de Marielle, milhares de pessoas tomaram a Avenida Rio Branco, no centro do Rio de Janeiro, em protesto por justiça. Durante a manifestação, ativistas, democratas, movimentos populares e revolucionários se levantaram e denunciaram o assassinato de Marielle como obra da intervenção militar no Rio.
Um bloco vermelho formado por militantes do Movimento Estudantil Popular Revolucionário (MEPR), Movimento Feminino Popular (MFP) e Unidade Vermelha – Liga da Juventude Revolucionária (UV-LJR) ergueram uma faixa com a consigna: Abaixo a intervenção militar! Rebelar-se é justo!
Entoando palavras de ordem contra os aparatos de repressão do velho Estado como Não acabou, tem que acabar, eu quero o fim da Polícia Militar! e exigindo o fim da intervenção militar, os manifestantes marcharam em ato até a praça da Cinelândia. Boletins informativos do MFP denunciando a intervenção militar e saudando a luta classista das mulheres do povo também foram distribuídos.
Manifestação fecha ruas no entorno da favela da Maré no dia 18/03. Foto: Ellan Lustosa/AND
Movimentos democráticos e populares denunciam o crime
Dezenas de entidades democráticas se manifestaram sobre a execução de Marielle, dentre elas o Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos (Cebraspo), que emitiu uma nota intitulada Assassinato de Marielle é de inteira responsabilidade do Estado e da Intervenção militar.
No referido documento apontam: “A responsabilidade dessa morte é inteiramente do Estado. Acontece um mês depois do início, portanto já no período de responsabilidade da intervenção militar.”. E seguem afirmando: “O assassinato [de Marielle] é político, dirigido contra aqueles que são contra a criminalização da luta do povo. É uma ação de terrorismo de Estado contra defensores da luta popular. Foi execução política, um ataque dirigido às claras com esse objetivo. Contra todos que, como Marielle, tinham compromisso com a defesa dos direitos do povo.”
Centenas de cópias do documento foram panfletadas durante o ato do dia 20/03.
Também o MEPR publicou uma nota de repúdio em sua página na internet contra o brutal assassinato da vereadora Marielle Franco.
Na nota, o movimento manifesta sua solidariedade: “Colocamo-nos ao lado das massas em luta que, nas sucessivas manifestações nacionais e internacionais que se sucederam a este episódio, têm exigido não apenas apuração e punição para os mandantes e executores deste crime, como também o fim da política genocida aplicada pelas forças policiais e militares contra a juventude pobre e favelada.”
Também afirmam: “Este crime odioso faz parte da guerra civil reacionária movida pelo velho Estado brasileiro contra o povo e só pode ser entendido no seu contexto. Neste sentido, não é um caso isolado: apenas em 2017 mais de mil pessoas foram assassinadas pelas policias apenas no Rio de Janeiro, a imensa maioria nos grandes complexos de favelas. Nelas, não existe, de fato, direito de reunião e manifestação, nem liberdade de ir e vir: seus moradores vivem sob um estado de sítio permanente, decretado pelo Estado ou grupos paramilitares dele auxiliares, e quando protestam logo são tachados pela Rede Globo como “bandidos”.”.
E concluem: “Nós do MEPR exigimos a punição de todos os mandantes e executores do brutal assassinato de Marielle, e responsabilizamos o Exército por esse crime e por todos os outros que ocorrerem no rastro da intervenção militar. Conclamamos todos os jovens a assumirem a primeira linha na luta contra o genocídio do povo pobre e preto. E, finalmente, convocamos a juventude e os trabalhadores a participar decididamente da Grande Revolução Democrática, Agrária e Antiimperialista, a construir a aliança operário-camponesa que a sustentará, pois este é o único instrumento capaz de derrubar esta velha ordem e construir o Brasil Novo.”
MAIS Protestos no Rio de Janeiro
Os protestos em repúdio ao assassinato de Marielle ocorreram no Rio de Janeiro desde o dia seguinte ao assassinato da ativista (15), marcado por uma grande vigília em frente ao prédio da Câmara dos Vereadores. No mesmo dia uma manifestação com milhares de pessoas ocorreu no centro da cidade. Outro grande protesto ocorreu em 18 de março, nos arredores do Complexo da Maré, favela onde a ativista nasceu, localizada na zona norte.
Na Maré, cerca de 5 mil manifestantes concentraram-se na Vila do Pinheiro e seguiram pela Linha Amarela e Avenida Brasil. Faixas e cartazes com dizeres O Diabo veste farda e Quem mandou matar Marielle? foram levantados por manifestantes presentes. A equipe de AND estava presente e registrou o protesto.
Manifestação ocorrida no dia 18/03 no Complexo da Maré. Fotos: Ellan Lustosa/AND
Mais informações sobre o caso e as manifestações por justiça para Marielle poderão ser lidas na próxima edição de AND (nº 207). Acompanhe em nosso portal e adquira seu exemplar nas bancas ou com o Comitê de Apoio mais próximo de você.