No marco dos grandes crimes cometidos pela mineradora Vale e outros conglomerados imperialistas contra a nação devido ao rompimento das barragens em Mariana (2015) e Brumadinho (2019) e diante da impunidade que se perpetua, milhares de famílias realizam protestos e exigem justiça. Assim também se desdobram as ações das massas em toda América Latina contra as atividades extrativistas praticadas por monopólios imperialistas que levam à miséria e exploram os povos latino-americanos secularmente.
Indígenas ocupam linha férrea em Brumadinho
No dia 25 de janeiro, indígenas Pataxó e Pataxó Hã-hã-hãe ocuparam e bloquearam a linha férrea e a rodovia estadual MG-040 nas proximidades da aldeia Naô Xohã, em São Joaquim de Bicas, Minas Gerais (MG). A aldeia está localizada às margens do Rio Paraopeba e foi contaminada pelos rejeitos de minério após o rompimento da barragem Córrego do Feijão, em Brumadinho. Os manifestantes exigem da mineradora Vale S.A. uma nova terra para serem realocados e reparação justa.
Os indígenas ficaram desabrigados após, com a recente onda de chuvas e enchentes, uma nova inundação atingir a aldeia levando outra vez lama contaminada às terras indígenas, destruindo casas, postos de saúde, produções e os deixando ilhados. Os pataxó estão abrigados desde 09/01 em uma escola da cidade de São Joaquim de Bicas após resgate do corpo de bombeiros.
Indígenas Pataxó e Pataxó Hã-hã-hãe ocupam linha férrea e fecham a rodovia MG-040, em Brumadinho. Foto: Juarez Rodrigues
Barricadas com fogo foram erguidas no local do protesto. As faixas levadas pelos indígenas, diziam: “Vale assassina!”, “Nunca esqueceremos!”, “Três anos de impunidade”.
No dia do protesto completaram-se também três anos desde o rompimento da barragem Córrego do Feijão, crime contra a nação que ceifou a vida de mais de 330 pessoas e devastou parte da região metropolitana de Minas Gerais. Recentemente veio à tona que a consultoria alemã Tüv Süd atestou remotamente a estabilidade da barragem do Córrego do Feijão pouco antes do rompimento.
Mesmo diante das inúmeras manifestações das famílias exigindo justiça e punição pelos crimes, até hoje ninguém foi preso ou julgado.
Já a Vale, no terceiro trimestre de 2021, apresentou um lucro líquido de R$ 20,2 bilhões, em um total de 29,5% a mais que o mesmo período do ano anterior.
Manifestantes exigem justiça por Mariana
No dia 01/12/21, dezenas de pessoas da comunidade de Antônio Pereira, localizada na cidade de Ouro Preto, MG, realizaram uma manifestação para denunciar os danos causados pela Vale e cobrar ações de reparação na região. As famílias são parte da população atingida pelo rompimento de barragens. O protesto bloqueou a rodovia estadual MG-129, que dá acesso a Bento Rodrigues, na altura do subdistrito de Santa Rita Durão.
A região foi a primeira a ser atingida pelo rompimento da barragem de Fundão (Mariana), em 5 de novembro de 2015. Desde então, os moradores têm se organizado para lutar contra a mineradora Vale, conhecida entre os trabalhadores como assassina e terrorista.
A manifestação começou pela manhã mesmo com muita chuva. Uma moradora responsabilizou a mineradora pelos crimes cometidos: “A Vale fez um vertedouro que qualquer pessoa com um pouquinho de conhecimento de solo (e não precisa ser nenhum engenheiro) saberia que simplesmente um desvio de água, uma primeira chuvinha que viria levaria tudo”, denunciou. “É por isso que quando as barragens rebentam acontece o que aconteceu em Brumadinho. Mata filho, mata pai, mata mãe. Pessoas que nunca mais voltam para casa. A Vale mata!”, concluiu a manifestante.
O protesto também cobrou a remoção das famílias em risco e respostas da Vale sobre a estabilidade das estruturas da barragem. Os policiais militares chegaram ao local e tentaram impedir o protesto. Porém, se mantendo firmes, os manifestantes declararam que realizarão outras ações.
Assista o vídeo:
Manifestantes bloqueiam rodovias em Minas Gerais e denunciam: Vale assassina!https://t.co/T6nLOsuIjl
No dia 01/12, dezenas de pessoas da comunidade de Antônio Pereira, em Ouro Preto/MG, em protesto contra a Vale, bloquearam a rodovia estadual MG-129. pic.twitter.com/ALsIi1j595
— A Nova Democracia (@jornaland) January 26, 2022
Cerca de um mês antes da manifestação, em 05/12/21 completaram-se seis anos desde o rompimento da barragem da Samarco em Antônio Pereira, comarca no município de Mariana (MG), crime premeditado e cometido pela Vale S.A., a laranja Samarco Mineração S.A e o monopólio imperialista anglo-australiano BHP Billiton.
Dezenove vidas foram ceifadas com o rompimento da barragem. A reconstrução das casas das massas populares da região que foram destruídas em meio ao crime, continuam apenas no projeto.
Os monopólios da mineração têm proeminência na economia local devido ao fato de se desenvolver o capitalismo burocrático em nosso país. Durante o gerenciamento dos petistas Fernando Pimentel no estado de Minas Gerais e Dilma Rousseff na presidência da república, ambos bem serviram aos interesses imperialistas, da grande burguesia e dos latifundiários com concessões e benefícios aos monopólios mesmo após o crime em Mariana, como, por exemplo, ocorreu devido ao sancionamento da lei 2.946/2015 durante governo Fernando de Pimentel que flexibilizou o licenciamento ambiental para a exploração das mineradoras.
A Vale, com a sanção desta lei em 2016, foi a principal mineradora beneficiada, uma vez que entrou na categoria de “projetos prioritários” escolhidos pelo governo para acelerar concessões ambientais – entre eles estava o projeto de alterações na barragem de Brumadinho. Cerca de 30% destes projetos pertenciam à mineradora que, segundo o judiciário eleitoral, fez uma doação de R$ 1,5 milhões para o governador em 2014.
No mesmo ano da aprovação da lei, o lucro líquido da Vale totalizou o equivalente a R$ 13,3 bilhões.
A resistência popular avança
A configuração territorial ao longo da história do Brasil se desenvolveu mediante os interesses imperialistas de dominação das riquezas naturais e da exploração da força de trabalho e ainda hoje se expressa com salários miseráveis e com subjacentes de relações pré-capitalistas.
A mineração, como parte deste processo onde os reacionários nunca cessaram sua sanha, atualmente segue sendo realizada por grandes monopólios imperialistas. Este continua sendo um grande projeto de saqueio da nação que transforma o país apenas em um mero exportador.
Porém, atos de resistência são contínuos e tomam cada vez mais força, elevando-se do patamar de exigir reparações para uma justa reivindicação contra a implantação de novos pólos de saqueio imperialista.
No dia 25/09/21, manifestantes organizaram um protesto contra a expansão das atividades da mineradora Vale S.A, na cidade de Nova Lima, na região metropolitana de MG. Alguns cartazes continham dizeres como: “Deixem-nos em paz” e “Mar de lama nunca mais”.
América Latina se levanta contra extrativismo dos monopólios imperialistas
Não somente no Brasil, mas em toda a América Latina, a exploração do minério realizada por monopólios imperialistas e setores das classes dominantes tem como resposta das massas populares, diante de séculos de exploração, a resistência e a combatividade.
Nestes países as grandes mineradoras e outros monopólios com atividades extrativistas são responsáveis pela miséria que assola milhares de camponeses e indígenas.
Conforme noticiado por AND, entre outubro e novembro de 2021, a América Latina foi sacudida por novas rebeliões camponesas.
A matéria declara que a revolta camponesa contra a mineração ocorre “pois tal atividade econômica monopolista despeja os pequenos camponeses de suas terras, obrigando-os a trabalhar em troca de salários miseráveis, em relações, muitas vezes, pré-capitalistas”.
Segue dizendo ainda que “a exploração de minérios, além de tudo, devasta o meio geográfico e impede que as terras vizinhas sejam cultivadas, aumentando a parcela de camponeses que são forçados a vender seu pedaço de chão e engrossar as fileiras da massa de assalariados. Tudo com o objetivo de enviar em grandes remessas de lucros, oriundas da exploração da força de trabalho na extração das riquezas naturais para os países imperialistas, sedes das empresas mineradoras”.
No Peru, em 29/10, exigindo o fechamento das minas Apumayo que fica localizada em Yacucho, 500 camponeses invadiram as instalações da empresa monopolista mineradora de ouro Apumayo, incendiaram os escritórios administrativos, além de 20 veículos da empresa, uma bomba de mineração, uma cantina e uma fábrica de processamento. Além disso, a eletricidade foi cortada e alguns objetos, incluindo explosivos, foram confiscados pelas massas.
No dia 04/10 até o final de novembro, mais de 200 camponeses e indígenas peruanos, em protesto controlaram e impediram o funcionamento da Estação 5 do Oleoduto Norperuviano, do monopólio burocrático estatal Petroperú. Os manifestantes exigiam a descontaminação de áreas impactadas pelo derramamento de petróleo, construção de infraestruturas básicas e saúde e educação.
No Chile as lutas pela terra organizadas pelos camponeses mapuche se intensificaram, mobilizando ofensivas ações e protestos contra latifundiários e monopólios imperialistas. Os mapuche repudiaram a intervenção militar em curso no sul do país, decretada 12/10 pelo presidente reacionário Sebastián Piñera. Em uma das ações, foi deixada uma faixa com os escritos: Fora milicos! Liberdade aos P.P.M.! [Presos Políticos Mapuche].
No dia 02/11, na cidade de Victoria (La Araucanía) no Chile, camponeses mapuche descarrilharam um trem carregado de celulose e em seguida o incendiaram a produção do latifúndio.
Após o assassinato de um camponês com um tiro de queima roupa efetuado por um militar da marinha chilena ocorrido no dia 04/11, os camponeses incendiaram uma casa, três galpões, maquinários e veículos do deputado Jorge Rathgeb. No mesmo dia, nas terras da Florestal Hancock, em Los Ríos, camponeses mapuche armados queimaram ainda outras duas máquinas e um galpão de ferramentas.
No Equador, em 18/10, cerca de 50 camponeses em Los Ríos, na cidade de Babahoyo, realizaram manifestações contra o preço da gasolina, a reforma trabalhista e contra as condições de venda da sua produção. Eles também exigiam a devolução de vários instrumentos de trabalho que foram confiscados pela reação.
No dia 22/10, o reacionário presidente equatoriano, Guilherme Lasso, ordenou o aumento de até 12% dos preços dos combustíveis. No dia 26/10, milhares de operários, camponeses e estudantes realizaram manifestações por todo o país protestando contra os aumentos nos preços da gasolina e uma nova reforma trabalhista antipovo.