Reproduzimos abaixo uma matéria do portal de notícias Red Herald (“O Arauto Vermelho”) sobre os protestos que atualmente ocorrem no Quênia contra as medidas antipovo aplicadas pelo governo de William Ruto.
No dia 7 de julho, protestos em massa ocorreram na capital do Quênia, Nairóbi, e também nas importantes cidades de Mombaça e Kisumu. Os protestos sofreram dura repressão pela polícia e diversos comércios foram fechados pela mobilização. Após o primeiro dia de confrontos entre manifestantes e a polícia, mais de 20 pessoas foram detidas, de acordo com os números oficiais fornecidos pela polícia. Esses protestos ocorreram porque o governo liderado por Ruto [Nota de Tradução (NT): William Ruto, presidente do Quênia] decidiu aumentar os impostos, incluindo a duplicação dos impostos sobre o combustível e a aplicação de novos impostos sobre a moradia dos trabalhadores. Um trabalhador queniano, Wafula, declarou: “Ele [Nota do autor: Presidente Ruto] quer taxar o pouco dinheiro que temos em nossos bolsos. O que vamos comer?”.
Esses novos protestos mostram uma realidade crua: o povo e a classe trabalhadora não podem confiar nos políticos do capitalismo burocrático. No caso do Quênia, o presidente Ruto anunciou em setembro de 2022 que fará uma reforma tributária para torná-la “mais justa” e disse que “a carga tributária deve refletir a capacidade de pagamento”, ou seja, os ricos devem pagar mais. Mas depois dessas promessas, a situação logo se tornou contra a classe trabalhadora e o povo do Quênia, e a luta das massas começou com grandes protestos em março e uma brutal repressão policial foi desencadeada pelo velho Estado queniano.
Em relação ao Quênia, em 2022, Ruto já havia declarado que a situação econômica era ruim. Na verdade, o Quênia é um dos países semicoloniais e semifeudais em que a dívida está sufocando a economia do Estado e causando graves problemas ao capitalismo burocrático. Já falamos anteriormente sobre a dívida e como ela funciona. O Quênia está subjugado principalmente ao imperialismo ianque, que está constantemente tentando manter vivo o velho Estado queniano e decidir o que deve ser feito. Isso é demonstrado, por exemplo, com o empréstimo de 1 bilhão de dólares [NT: R$ 4,7 bilhões] feito pelo Banco Mundial em maio deste ano. Essa instituição econômica também enfatizou que esse empréstimo também comprometeu o Quênia a fazer reformas tributárias, por exemplo, vários aumentos de impostos. Em julho, o Fundo Monetário Internacional (FMI) também aprovou outro empréstimo de 1 bilhão de dólares para o Quênia e, mais uma vez, enfatizou a necessidade de medidas econômicas a serem tomadas no país. Enquanto a repressão brutal era desencadeada no Quênia durante essas semanas, o imperialismo ianque, por meio de seu embaixador no Quênia, saudou Ruto por causa das reformas, afirmando que elas “dão aos americanos segurança para investir no país”. O FMI também saudou Ruto devido a essas medidas aplicadas no Quênia, afirmando que agora “o Quênia está aberto para negócios”.
Durante semanas, as massas tomaram as ruas e protestaram, mesmo sabendo que estavam arriscando suas vidas durante esses protestos. Após a primeira semana de protestos, os últimos se intensificaram, especialmente a partir da sexta-feira, 14 de julho, quando foram realizados mais três dias de protestos contra as ameaças de Ruto e as forças repressivas do velho Estado queniano. Os estudos mais recentes mostram que pelo menos 35 pessoas foram mortas pela polícia desde o início dos protestos, e mais de 300 pessoas foram detidas na última semana e aguardam julgamento devido à sua luta contra a polícia. A brutalidade policial está sendo uma situação comum durante essas semanas de protestos, mas, mesmo com essa situação, as massas continuam tomando as ruas e enfrentando a polícia. Na verdade, as forças repressivas estão demonstrando fraqueza, pois houve reuniões entre policiais de alto escalão, que estão muito preocupados e até temerosos com a situação atual, especialmente devido à falta de fundos e recursos para lidar com os protestos e a crescente organização dos manifestantes.
A oposição parlamentar a Ruto também está sendo dominada pelas massas. A oposição a Ruto realizou as primeiras manifestações contra o atual governo, tentou tirar proveito da situação e também tentou fazer com que as massas participassem de uma iniciativa parlamentar contra o governo para mudar o presidente. Eles também tentaram realizar manifestações pacíficas. Mas as massas superaram claramente essas limitações, ignoraram as propostas e enfrentaram a polícia. Recentemente, o líder da oposição, Raila Odinga, esteve ausente nas últimas mobilizações, e o principal partido da oposição, Azimio La Umoja, decidiu cancelar todas as manifestações desta semana, exceto a de quarta-feira, 26 de julho.
Apesar das ameaças ou das manobras da oposição parlamentar a Ruto, a única coisa que o imperialismo e o velho Estado queniano conseguiram foi tornar o proletariado e o povo do Quênia mais combativos. Eles estão confrontando diretamente as forças repressivas do Estado e, com certeza, continuarão fazendo isso.