112 dias de paralisação na educação em Minas Gerais: A maior greve da história dos trabalhadores em educação

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112 dias de paralisação na educação em Minas Gerais: A maior greve da história dos trabalhadores em educação

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Professores apresentam os contracheques durante votação e aprovam continuidade da greve

Deflagrada no dia 08 de junho de 2011, em uma assembleia com mais de 10 mil trabalhadores em educação, a greve histórica dos educadores mineiros abalou as estruturas do estado.

A gerência Anastasia (PSDB), descaradamente a serviço das classes dominantes, nega-se a cumprir uma lei federal – 11.738/2008 (Lei do Piso), cuja constitucionalidade foi considerada pelo STF, em abril deste ano. A partir desta data, ao não pagar o piso salarial pelo menos, inicialmente, para os 153 mil educadores que optaram pelo sistema de Vencimento Básico (VB), a gerência Anastasia encontra-se em flagrante ilegalidade.

O governo, através de ampla publicidade, dissimula dizendo que oferece outro sistema de remuneração (subsídio) para cumprir a lei do piso. Contudo, 153 mil educadores não aceitaram essa política remuneratória do estado. Preferiram continuar com o antigo sistema, que é aquele que está mais adequado à Lei do Piso, por possuir salário inicial e gratificações, tal como previsto na referida lei. O subsídio não tem salário inicial e gratificações. Ele é composto de parcela única, enquanto totalidade de salário, soma de tudo, provocando enorme confisco no salário dos educadores.

De um lado, o governo diz que o subsídio é ‘mais vantajoso’ e representa até ‘mais do que o piso’; do outro, o governo diz que para pagar o piso teria que investir um volume maior de recursos. Ora, se o subsídio representasse um ganho maior para os educadores, o certo seria o governo querer pagar o piso e economizar dinheiro para o estado.

Uma combativa e coesa categoria resiste

Para os educadores, o que está em jogo, além do necessário cumprimento do que manda a lei federal, é a disputa de prioridades políticas em relação aos recursos oriundos dos impostos que são pagos pelos trabalhadores. O governo mineiro quer que sobre mais recursos para gastar com os exploradores e opressores do nosso povo; os educadores querem que estes recursos sejam investidos na melhoria da vida do povo, com a valorização dos educadores e uma educação pública de qualidade; além de saúde pública, a segurança, moradias dignas, lazer, etc.

Para isso os educadores mineiros se lançaram numa longa batalha, luta esta que não pode se restringir somente à categoria dos educadores, e nem tampouco aos limites do estado de Minas Gerais. A educação pública é uma luta nacional, é uma luta de classe. E ela está sendo atacada de morte aqui em Minas Gerais. Em nível nacional presencia-se o mesmo mal intencionado descaso. A gerência Dilma corta investimentos em educação e através do MEC e de sua autarquia (CNTE/CUT) faz cara de paisagem e segue o receituário do imperialismo na educação, tendo como porta-voz o ex-funcionário do Banco Mundial e Ministro da Educação há mais de 8 anos, Fernando Haddad.

Resistir e lutar

A semana que antecedeu a contagem regressiva dos mil dias para a Copa do Mundo foi repleta de ações combativas da categoria. Após cem dias de paralisação, apesar do corte e redução de salários; ameaças e chantagens dos capitães do mato do governo; das mentiras e manipulações veiculadas pelo vendido monopólio das comunicações; do terrorismo psicológico realizado durante todos os dias de greve, apesar de tudo isso – ou até por conta disso, milhares de educadores resistiam heroicamente.

No dia 12 de setembro, dezenas de bravas e bravos educadores amanheceram acorrentados ao “pirulito” da Praça Sete, monumento que fica bem no centro da capital mineira. Um ato inesperado, que sacudiu Minas Gerais e revelou que o segundo ou o terceiro estado mais rico da federação tem um governo que se recusa a cumprir uma lei federal. Os acorrentados passaram o dia inteiro em greve de fome, mostrando o quanto a educação em Minas estava acorrentada; o quanto a liberdade em Minas estava acorrentada.

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Professores se acorrentam na Praça da Liberdade e…

No dia 13, em uma dezena de cidades do interior, ocorreram protestos em frente às Superintendências Regionais de Ensino, onde o projeto de lei do governo do estado, que quer destruir a carreira dos educadores, foi queimado pelos bravos educadores em greve.

 Logo nas primeiras horas do dia 16, dia da inauguração do tal relógio para a contagem regressiva de mil dias para a Copa do Mundo, novamente algumas dezenas de bravos educadores se acorrentaram em frente ao Palácio da Liberdade e ali permaneceram durante todo o dia, ao mesmo tempo em que operários da construção, que reformam o Mineirão, cruzavam os braços em protesto por melhores salários e condições de trabalho. A Praça da Liberdade foi cercada por grades e policiais da tropa de choque, dando ao evento festivo um tom ameaçador.

A mando do governo, a tropa de choque agiu com truculência contra os educadores, estudantes e demais trabalhadores ali presentes. Balas de borracha, cassetetes, bombas de efeito moral e gás de pimenta foram usados em larga escala para tentar expulsar e intimidar, em vão, os valentes educadores em greve ali presentes.

Após 112 dias de lutas, termina a greve

No dia 27 de setembro, quando se completaram 112 dias de paralisação, a assembleia geral da categoria decidiu pelo encerramento do movimento.

Milhares de professores participaram da assembleia, somando-se dezenas de outros grevistas acampados na Assembleia Legislativa em protesto contra a intransigência do gerenciamento Anastasia (PSDB), que se recusava a negociar.

Os trabalhadores em educação de MG deram uma brava demonstração de firmeza e disposição de luta nessa histórica greve, com três meses e meio de lutas, enfrentando o corte dos pontos desde o primeiro mês de paralisação, sucessivas tentativas de intimidação e ameaças de exoneração, a dura repressão policial e ameaças de todo o tipo como a contratação de milhares de professores para substituir os grevistas.

Foi uma batalha sem precedentes.

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… durante ocupação da Assembléia Legislativa de Minas Gerais

A greve foi encerrada após a sinalização do gerenciamento estadual para a abertura de negociações, o que não representa, até o momento, avanço algum em direção às reivindicações da categoria.

Do saldo político dessa greve ficam a enorme repercussão, a imensa solidariedade de classe prestada pelos trabalhadores de outros setores aos professores em greve, a adesão combativa dos estudantes, o desenvolvimento de núcleos classistas de luta em diversas regiões do estado e a demonstração de uma categoria em luta que, se dependesse exclusivamente de suas forças, sustentaria o movimento até a conquista de todas as suas demandas.

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*Rômulo Radicchi é trabalhador em educação em Minas Gerais, membro do Comando Estadual de Greve e militante do Movimento Classista dos Trabalhadores em Educação – Moclate.

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