270 funcionários são demitidos da USP

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270 funcionários são demitidos da USP

No inicio do mês de janeiro de 2011, sem qualquer aviso prévio, 270 funcionários aposentados foram sumariamente demitidos da Universidade de São Paulo – USP, sendo 190 do campus da capital e os 80 demais do interior.

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Protesto contra a demissão de funcionários na USP

Sob a alegação de permitir que o funcionário planeje melhor  sua aposentadoria, tanto financeira como pessoal, o professor Joel Dutra, diretor do Departamento de Recursos Humanos, afirmou em declaração à rádio Bandeirantes no dia 06/01 que “esta medida era para garantir que no futuro próximo entre 3 ou 4 anos o numero de funcionários nessas condições não  passem de 10% atuais para 25%”. Além disso, ele afirma que “esta medida também é para garantir que os funcionários não caiam na dependência financeira” e que “também não continuem trabalhando sem condições de saúde ou física, e que funcionários aposentados com o tempo se tornam menos eficiente e indolentes”.

Esses funcionários se aposentaram baseados num acordo firmado pela USP que assegurava a sua permanência em seus respectivos cargos na universidade. Esse documento foi assinado pela professora Maria de Lourdes e encaminhado aos diretores das unidades da universidade, e normatizava a aposentadoria voluntária dos trabalhadores celetistas, passando a depender apenas do trabalhador, a sua manifestação para continuar ou não a trabalhar na universidade. Com isso muito deles aposentaram antes do prazo da aposentadoria integral, pois sentiam-se seguros mesmo com o salário menor de aposentado, porque tinham o recurso do emprego. Muitos adquiriram empréstimos consignados para aquisição de imóveis e outros projetos, e agora se veem endividados e com sua renda reduzida à metade.

Dona Alzira, bibliotecária demitida do campus São Carlos declarou:

— Eu pago prestação de um apartamento. As pessoas que continuaram trabalhando porque tinham planos para o futuro, coisas que não puderam ter durante a vida toda. Agora são demitidas por terem dois salários. Mas o salário da aposentadoria não garante a sobrevivência de ninguém, quem ganha R$1.500,00 ou R$ 1.600,00 passa a ganhar R$800,00 ou R$900,00. Quando a pessoa é demitida ela perde o vale-alimentação e tem de passar a viver com menos da metade do salário. Como vamos sobreviver? Eu entrei na USP em 2000,  em São Paulo, e trabalhei até 2008, quando pedi transferência para São Carlos e fui trabalhar na biblioteca. Eu trabalhava sozinha e agora ainda não tem outra pessoa ocupando minha função, mas isso não tem importância para o reitor. Eu era responsável por atender mil alunos no campus II. O que mais me chateou  foi a falta de consideração com o trabalho que eu vinha desempenhando, eles não tiveram consideração com a gente nem como profissional nem como ser humano! Quando chegamos para trabalhar voltando de férias, o chefe do departamento pessoal nos entregou o documento dizendo que estávamos sendo despedidos!

Em Bauru foram demitidos dois renomados médicos especialistas em pesquisas crânio-faciais do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais — HRAC/USP. Estes médicos trabalhavam na pesquisa de uma doença rara, a Síndrome de Pierre Robin*.   

Após esses acontecimentos foi dado início a uma série de mobilizações pela revogação das demissões arbitrárias, impetradas pelo interventor do governo do estado, o Reitor João Grandino Rodas.

No dia 5 de janeiro, os trabalhadores da USP deram uma importante demonstração de força e solidariedade e se reuniram numa assembleia no Sindicato dos Trabalhadores da USP — SINTUSP, e nomearam uma comissão e debateram a luta pela revogação das demissões.

Os professores demitidos denunciam que a reitoria e o departamento pessoal da USP planejam demitir mais funcionários. O próprio reitor Rodas havia afirmado em maio de 2010 à rádio Bandeirantes que não haveria demissões, e descumpriu sua palavra.

Os professores ainda denunciam que desde que foi nomeado reitor da USP, em 26 de novembro de 2009, Rodas vem aplicando uma série de medidas antidemocráticas:

São pressões e chantagens contra dirigentes sindicais de unidades, perseguição e repressão aos ativistas sindicais e estudantis. Mentiras desqualificações e difamação contra funcionários se tornaram os métodos mais empregados pela reitoria nas suas relações com o conjunto da universidade, quebra de isonomia de reajustes salariais entre funcionários e professores, implantação do processo de precarização do ensino através do UNIVESP(universidade virtual), fortalecimento do domínio das fundações de direito privado e surgimento do primeiro curso de graduação pago, aumento das verbas destinadas  ao financiamento das terceirizações em mais de 85% e redução de 8% no comprometimento da quota do ICMS repassado para universidade com a folha de pagamento, aprovação no conselho orçamentário de um conjunto de diretrizes que não são mais que  prioridades a pesquisas aplicadas que atendam às necessidades de grandes empresas em detrimento das pesquisas em ciências básicas com a ameaça de supressão de verbas dos cursos ‘que não se adaptarem ao novo paradigma’, entre outras — denunciou uma professora após a assembleia de 5 de janeiro à reportagem de AND.

No dia 13 de janeiro ocorreu um novo ato dos trabalhadores em frente a reitoria. Durante o ato os manifestantes decidiram que assim que os trabalhadores e estudantes da USP retornem das férias serão retomadas as mobilizações.

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* A síndrome de Pierre Robin é uma rara anomalia de desenvolvimento causada por mau posicionamento fetal. Pode provocar problemas de ordem sistêmica, como obstrução das vias aéreas superiores, desnutrição, refluxo gastroesofágico, broncopneumonia e exaustão. Seu tratamento deve ser supervisionado por uma equipe médica multidisciplinar e deve ser realizado imediatamente após o diagnóstico. [Fonte: Síndrome de Pierre Robin: relato de caso e sequência terapêutica – Revista da Associação Paulista de Cirurgiões Dentistas]

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