Uma caravana de pais e colegas dos 43 estudantes sequestrados e desaparecidos desde setembro do ano passado percorreu a Europa há poucos dias, acusando empresas e governos da União Europeia (UE) de serem cúmplices das violências contra o povo do México, que vem sendo cometidas pela gerência federal daquela semicolônia. Desde 2006 foram registrados ali 25 mil desaparecimentos e mais de 100 mil mortes, conforme artigo de Marta Molina publicado no sítio na internet Rebelión em 9 de maio último.
Familiares e ativistas seguem na luta por justiça aos 43 jovens assassinados
O grupo de viajantes, formado majoritariamente por camponeses da região de Ayotzinapa, esteve na Noruega, Suécia, Finlândia, Alemanha, Itália, França e Espanha, e apontou o imperialismo europeu como um dos culpados pelas violações.
De acordo com o sítio Diagonal/Diso Press, porta-vozes da caravana afirmaram que “governos europeus são responsáveis pela grave crise dos direitos humanos que se vive atualmente no país, pois assinaram convênios de colaboração com o México em matéria de comércio e segurança, que resultaram em venda de armas e capacitação/treinamento à polícia e exército”.
O caso do sequestro, cometido pela polícia municipal de Iguala (com participação de agentes federais e militares), de 43 alunos de uma escola de Ayotzinapa, é hoje um escândalo internacional, principalmente porque as “autoridades” mexicanas encerraram a busca dos jovens desaparecidos e o próprio inquérito, sem dar as devidas satisfações às famílias e às massas indignadas.
Os parentes e colegas reafirmaram, na Europa, que a palavra-de-ordem “Com vida os levaram, com vida os queremos de volta” continua vigorando e que exigem a abertura de novas investigações.
Um artigo emocionado
A jornalista Marta Molina conversou com membros da caravana na Espanha e redigiu um artigo que saiu na internet em 9 de maio, cuja síntese publicamos a seguir.
“Escuto-lhe falar em castelhano, porém sua língua materna é o mepá, um idioma que se fala na montanha de Guerrero (Nota: Estado do México onde se localiza a escola dos estudantes desaparecidos). Talvez por isso a força de suas palavras se interrompe, porque tenta expressar sua indignação em ‘castilla’ (Nota: É assim que muitos agricultores-indígenas denominam a língua espanhola) para que nós entendamos sua dor. Não lhe conheço, mas se parece a alguém que conheci no México.
Tem um filho, Mauricio, de 18 anos. Estou segura de que conheço este papá. É camponês. Estou segura de que já conversei com ele e que me falou de seu povo. Lembrava-se de 17 camponeses assassinados em Aguas Blancas em 1995, ali na Costa Grande de Guerrero, e de 11 jovens executados por soldados em El Charco, Ayutla, em 1998.
Estou segura de que conheço este papá. Falou-me do saque contra os povos indígenas do México, de como o governo quer lhes expulsar de suas terras, de como o narcotráfico também, de como as transnacionais europeias e estadunidenses também.
Estou segura de que conheço este papá, que diz ‘o governo mexicano burla-se de nós; não falou a verdade’. Contou-me de seu filho, quiçá de sua irmã, de sua mamá, de sua esposa, de sua filha, de seu papá. Tinha um familiar desaparecido, 2, 3, 43, tinha 25 mil.
Não lhe conheço mas se chama Eleucadio Ortega e faz 7 meses que não sabe nada de seu filho. Mauricio Ortega Valerio é um dos 43 normalistas desaparecidos por policiais no passado 26 de setembro.
Chama-se Eleucadio, é camponês e procura seu filho que estudava para ser professor bilíngue. Poderia ser María Herrera, Araceli Rodríguez, Berta, poderia ser a mãe de Jorge Antonio Tizapa ou o pai de Israel Jacinto Lugardo.
Poderia ser a irmã de Antonio Santana Maestro, ou o filho de José Guillermo Nava Mota González ou de Nepomuceno Moreno, que em paz descansem, que não deixaram de lutar para encontrar os seus, e que morreram sem conseguir fazê-lo.
Eleucadio viajou desde Tixtla a Barcelona. Conheço-lhe. É o papá de Mauricio e amanhã caminhará desde a Plaça Universitat rumo à Plaça St. Jaume para exigir justiça pelo desaparecimento forçado dos 43 estudantes da Normal Rural de Ayotzinapa, pelos 25 mil desaparecidos e os mais de 100 mil mortos que há no México desde 2006. Porque os levaram vivos, e vivos os queremos.”