5º Congresso da LCP de Rondônia: “Guerrilheiros” da LCP tomam as ruas de Porto Velho

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5º Congresso da LCP de Rondônia: “Guerrilheiros” da LCP tomam as ruas de Porto Velho

A Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia (LCP-RO) realizou nos dias 22 e 23 de agosto o seu 5º Congresso. Mil vezes atacada pelo latifúndio, odiada e temida pelas classes reacionárias, difamada pela imprensa monopolista que a acusa de "organização guerrilheira" e "subversiva", a LCP reuniu mais de 400 camponeses e apoiadores da Revolução Agrária que tomaram as ruas da capital Porto Velho em uma demonstração de vigor, massividade e disposição de luta. AND publica com exclusividade o relato deste Congresso, rompendo o silêncio sepulcral da imprensa venal de Rondônia e nacional, que preocupada em mentir e atacar a luta camponesa, se cala diante da força e organização das massas dirigidas pela LCP.

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Camponeses marcham pela principal avenida de Porto Velho

Todos que chegavam à cidade de Porto Velho no dia 22 de agosto eram recebidos por um grande painel vermelho com letras douradas: Viva a Revolução Agrária!

O 5º Congresso da Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia (LCP-RO) foi organizado com meses de antecedência através de reuniões, assembléias de áreas e encontro de delegados. Um intenso trabalho de propaganda marcou sua preparação. De acordo com a coordenação da Liga, mais de 20 mil panfletos foram distribuídos na capital Porto Velho, nas cidades de Buritis, Campo Novo, Jaru, Theobroma, Machadinho D’Oeste, Ariquemes, Cujubim, Cerejeira, Corumbiara, e demais áreas onde atua a LCP. Centenas de cartazes afixados nas ruas, escolas, universidades e locais públicos. Grandes painéis, como outdoors artesanais, foram afixados sobre cavaletes em pontos estratégicos da cidade.

Andando pelas ruas da capital Porto Velho em direção à UNIR (Universidade Federal de Rondônia) onde foi realizado o Congresso, mais de uma dezena de muros anunciavam com grandes inscrições em tinta preta: "Viva o 5º Congresso da LCP!", "A Amazônia é do povo brasileiro!", "O povo quer terra, não repressão!".

A ousadia e intrepidez da Liga dos Camponeses Pobres, que causou impacto e admiração entre o povo e apoiadores, provocou o mais intestino ódio e temor dos inimigos da luta camponesa. Às vésperas do Congresso, um bando de pistoleiros e provocadores, a mando do latifúndio, ateou fogo e fez disparos contra um dos painéis da LCP bem em frente à Universidade.

Apoio fundamental

O 5º Congresso da LCP foi realizado no ginásio poliesportivo da UNIR. A Universidade Federal de Rondônia é, desde 2005, palco de intensas lutas do movimento estudantil contra a "reforma" universitária. Seus últimos anos foram marcados por ocupações de reitoria, enfrentamentos e resistência contra as políticas do velho Estado que atacam a Universidade pública.

— A conquista deste espaço para a realização do 5º Congresso é resultado, não somente do amplo trabalho realizado pela LCP, do apoio dos estudantes e inclusive de professores e vários intelectuais honestos de Rondônia. O apoio e dedicação dos companheiros dos Centros Acadêmicos, do Diretório Central dos Estudantes da UNIR e do Movimento Estudantil Popular Revolucionário, que sempre divulgaram e participaram ativamente da luta dos camponeses, também foi fundamental. Eles acordam cedo, lutam, participam das panfletagens, pedem apoio aos professores e à direção da Universidade, visitam nossas áreas, trabalham e convivem com os camponeses. Esta juventude democrática e revolucionária é fundamental para a Revolução Agrária em nosso país—declarou um dos organizadores do Congresso.

Ampliam-se as forças

O 5º Congresso da LCP foi marcado pela expansão das forças que promovem e apóiam a Revolução Agrária em nosso país. A Liga dos Camponeses Pobres, que vem sendo torpedeada constantemente pelos ataques do latifúndio e seus bandos de pistoleiros, bem como pelos monopólios de comunicação financiados e orientados pelas classes reacionárias, não se rendeu ou recuou diante das pres-sões e perseguições. Uma ampla campanha contra a criminalização do movimento camponês combativo, encabeçada pela LCP, com apoio de organizações classistas, personalidades democráticas e vários setores da sociedade, tem mobilizado um número cada vez maior de pessoas que apóiam a luta pela terra.

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Bandeiras da Liga dos Camponeses Pobres encheram as ruas

A prova material da conformação desta frente em defesa da Revolução Agrária foi na plenária de abertura do Congresso, que contou com a presença marcante de várias destas organizações classistas, democráticas e de professores e outros intelectuais da região, que manifestaram sua solidariedade e apoio à luta camponesa.

Falam os apoiadores

— Estamos honrados em poder receber este 5º Congresso em nossa Universidade, desejamos bons trabalhos a todos — representante da reitoria da UNIR.

— Este Congresso certamente será fundamental para impulsionar a luta pela terra. Saudações à LCP e a todos os estudantes presentes, que são também exemplos de luta— professora Jocélia, pró-reitora da UNIR.

— A Revolução Agrária faz parte de toda a revolução social necessária em nosso país. Somente através dela poderemos acabar com a grande diferença entre a cidade e o campo, destruir o capitalismo e construir o socialismo—professora Marilsa, Comitê de Defesa da Revolução Agrária.

— A vanguarda e grande protagonista da resistência camponesa em nosso país está aqui representada pela LCP. Também estão aqui presentes movimentos que conformam a frente de luta dos operários e camponeses de todo o país. As consignas de "fim do latifúndio" e do "socialismo", que hoje são tão vulgarizadas e atacadas, necessitam, de fato, desta firmeza e clareza em nossas palavras e ações para ganhar a consciência das massas —Eronildes, Consulta Popular.

— Saudações revolucionarias à LCP-RO e ao seu 5º Congresso! O movimento estudantil vem travando grandes lutas contra a "reforma" universitária, mas é necessário ir além. É necessário um Movimento Estudantil Popular e Revolucionário que sirva de fato à transformação radical da sociedade, e para isso os estudantes devem se colocar ao lado dos companheiros camponeses na construção do Poder Popular. O MEPR se coloca incondicionalmente em defesa dos camponeses pobres do país, e de todos os trabalhadores — Rodrigo, representante do MEPR.

— Estamos aqui para desenvolver o ensino ligado à luta pela terra, para servi-la. É necessário construir a Escola Popular no campo, que garanta que as crianças estudem, busquem o conhecimento. Para que os adultos possam aprender a ler e escrever, para desta forma participarem ainda melhor e mais ativamente na luta. Onde a LCP organizar a sua luta, lá estará a Escola Popular — Maria, alfabetizadora da Escola Popular.

— Os povos indígenas também organizam a sua resistência. Tivemos nossa cultura atacada, nossa língua, nossos costumes, mas continuamos firmes. A terra é para viver, e não para destruir. Mas quem destrói a terra são os grandes fazendeiros, o latifúndio. Os povos indígenas do Brasil devem defender suas terras, seus direitos. Esses governantes não sabem nada sobre direitos humanos. Eles dizem que defendem os direitos dos índios, dos camponeses, dos pobres, mas só defendem os dos ricos — Antenor Caritiana (Arrim), representante do Movimento Indígena.

— O Partido da Causa Operária [PCO], desde 1995, está ao lado dos camponeses de Rondônia. Estivemos durante um mês no estado de Rondônia apoiando e registrando a luta dos camponeses e denunciando a repressão do latifúndio. A luta dos camponeses é uma realidade concreta e não somente uma aspiração ideológica. Para levarmos adiante esta luta, precisamos construir uma sólida Aliança Operário-Camponesa-Estudantil-representante do PCO.

— O Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários de Belo Horizonte e Região traz uma combativa saudação aos companheiros da LCP. O nosso Sindicato, junto com a Liga Operaria, há anos decidiu romper com o eleitoralismo e construir a Aliança Operário-Camponesa para promover uma verdadeira transformação em nosso país. É necessário apoiar e desenvolver a luta pela terra como parte fundamental da construção de uma nova sociedade — Dêja, representante do STTR-BH.

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Homenagem aos companheiros tombados na luta contra o latifúndio

— O Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção Civil de Belo Horizonte e Região também está ao lado da LCP. É necessário intensificar mais a aliança dos trabalhadores da cidade e do campo para impulsionarmos nossa luta. Há alguns dias, o nosso Sindicato enviou vários companheiros para as áreas onde a LCP atua no Norte de Minas Gerais para construirmos casas e realizarmos obras nas áreas tomadas dos latifundiários pelos camponeses. Esta é uma das formas como buscamos fortalecer e ampliar a Aliança Operário-Camponesa. Não devemos nos iludir com promessas do velho Estado e de políticos eleitoreiros, devemos nos apoiar em nossas forças e aumentar a luta—Valdez, representante do STIC Marreta.

— Saudamos todas as forças presentes nesse já vitorioso Congresso. É uma honra para o Diretório Central dos Estudantes da UNIR receber em nossa Universidade a organização mais combativa de luta pela terra do nosso país — Vinícius, representante do DCE da UNIR.

— Calorosas saudações a todos os camponeses e movimentos presentes. Esse 5º Congresso culminou em grandes debates e discussões por todo país. Ele traz para nós a confirmação de que os camponeses de Rondônia não têm nenhuma ilusão com a "reforma agrária" do governo federal e vêm seguindo corretamente o caminho de tomadas de terra e do impulsionamento da Revolução Agrária. Esse governo corrupto, que ataca a Liga, através do monopólio de imprensa, que taxa de bandidos os camponeses que lutam, pretende desfigurar a luta pela terra. Venho em nome do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e da Liga Internacional de Luta dos Povos prestar apoio à luta dos camponeses pobres de Rondônia. Essa luta é de todo o povo brasileiro, portanto, a nossa principal luta — Raquel Scarlatelii, representante do Cebraspo (Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos) e ILPS (International League of Peoples’ Struggle).

— Gostaria de saudar todos os camponeses presentes, que livraram-se da ilusão com a farsa da "reforma agrária" do velho Estado. Em nome do Núcleo dos Advogados do Povo, trago o apoio dos advogados democráticos à justa luta pela terra. O NAP atua no meio jurídico buscando utilizar as próprias leis da burguesia e do latifúndio contra eles mesmos, em benefício do povo pobre e trabalhador. Hoje, a lei é usada contra o povo. É a lei do crime e da cadeia, e que relaxa a prisão para os grandes burgueses, como fez com o latifundiário e banqueiro Daniel Dantas. Isso deixa bem claro o caráter de classe do Judiciário e do Estado. Gostaria também de saudar um companheiro Advogado do Povo e dos camponeses de Rondônia, o Dr. Ermógenes, pela sua dedicação e abnegação, pela sua persistência e que mesmo diante das perseguições e ameaças do latifúndio, continua firme na defesa da causa dos camponeses pobres de Rondônia e do Brasil— Felipe Nicolau, representante do NAP.

— Desde 1995 a luta pela fazenda Santa Elina continua. Ela só vai cessar quando tivermos conquistado todas as terras do latifúndio. No ano passado o Comitê de Defesa das Vítimas de Santa Elina esteve presente em Brasília, obteve promessas do governo Lula que não foram cumpridas. Assim como o próprio Lula veio até aqui logo após a luta de Corumbiara, prometeu terras, prometeu justiça, e também não cumpriu. Decidimos retomar aquelas terras que são nossas, e retomamos! Com nossas mãos e nossa organização! Nosso acampamento sofre perseguições e mais de 150 disparos de armas de grosso calibre por dia, somos perseguidos pelos pistoleiros e pela polícia. O INCRA não cumpre com a palavra, não corta a terra, quem corta terra é a LCP, que entrega a terra para os camponeses e constrói a Revolução Agrária. Vamos nos manter firmes e a Santa Elina será dos camponeses — representante do CODEVISE (Comitê de Defesa das Vítimas de Santa Elina).

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— A UNIR é um espaço importante para a luta do povo de Rondônia e também precisa ser tomada pelos camponeses. Gosto muito da luta de vocês, vocês representam milhões e todos nós temos o dever de lutar contra o latifúndio. É preciso unir mais camponeses nessa luta, e o espaço da Universidade deve ser mais utilizado para servir ao povo. Temos cursos de formação que servem para impulsionar isso e devemos servir a isso. Assim estaremos mais preparados para enfrentar nossos grandes desafios — Neldon, professor de Pedagogia da UNIR.

— Gostaria de ressaltar a presença das mulheres neste Congresso que, apesar das dificuldades, trouxeram seus filhos e estão presentes. São todas guerreiras. As mães aqui presentes, com seus filhos no colo, demonstram a garra e a firmeza em realizar esse Congresso. Os companheiros estão de parabéns —Julia, representante do Socorro Popular.

— Gostaria de reforçar a importância da participação da mulher na luta. As mulheres são as que mais sofrem nesta sociedade machista, pois são submetidas a uma forma de opressão a mais que os homens. A opressão da mulher só pode ser vencida com a união de todo o povo e a destruição desta velha sociedade. Somos a metade da classe e, ao lado dos companheiros, vamos ingressar na Revolução Agrária — Conceição, representante do MFP (Movimento Feminino Popular).

— Fico feliz em ver a vibração, decisão e coragem dos companheiros. No mundo hoje não existe nada tão belo como o homem e a mulher cheios de coragem, humildade e disposição. Os camponeses não têm dinheiro, casa e carro, mas têm a maior riqueza do ser humano: simplicidade, bondade e coragem. Estive presente no assentamento Flor do Amazonas. Cortou meu coração ver aquele povo que luta pela terra atacado covardemente pela polícia, que queima os barracos e maltrata o povo. Mas os camponeses reconstruíram suas casas e se mantêm na luta! Parabéns a todos vocês por este Congresso — Irmã Zezé, do CPT (Comissão Pastoral da Terra).

— A Liga Operária saúda os companheiros da LCP em nome da Aliança Operário-Camponesa. É fundamental impulsionar a Revolução Agrária como parte da Revolução de Nova Democracia em nosso país. Na cidade, além de divulgar e defender a luta dos companheiros camponeses, a Liga Operária conclama todos os trabalhadores para uma Greve Geral contra as medidas antipovo do velho Estado, que massacra e explora a classe trabalhadora. Trazemos as saudações classistas e combativas dos companheiros dos núcleos da Liga Operária em todo o país. Lutamos por fortalecer e aumentar nossa luta, para desta forma, fortalecer ainda mais a Aliança Operário-Camponesa — Natal, representante da Liga Operária.

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— A força demonstrada nesse Congresso é algo muito importante. Destaco principalmente a luta dos camponeses pela sua realização e combatividade indobrável. Em 1995 os camponeses romperam com a direção oportunista e enfrentaram uma das maiores batalhas pela terra na história do Brasil, a Batalha de Santa Elina. Mais uma vez o movimento camponês de Rondônia é atacado, através de acusações de guerrilha, e mais uma vez a questão agrária aparece como uma força de contradição antiga e forte. Os ianques querem controlar a Amazônia, eles dominam esse velho Estado semicolonial e precisam dominar a Amazônia para se manterem vivos. Mas os camponeses lutam, e eles organizam sua luta. Aqueles que falam que as massas não lutam, devem ter vergonha quando vêem a união e combatividade dos camponeses. A Revolução Agrária em nosso país é mais que necessidade; é uma força. A Comissão Nacional das Ligas de Camponeses Pobres se sente orgulhosa desta imensa luta— Nilo Ibrahin, representante da Comissão Nacional das Ligas de Camponeses Pobres.

Também estiveram presentes e apoiaram o Congresso: representantes das Ligas dos Camponeses Pobres do Norte de Minas, do Centro Oeste, do Pará e do Nordeste; Fórum Independente e Popular do Madeira; Movimento dos Atingidos por Barragens; Movimentos Camponeses Flor do Amazonas; Comissão de Justiça e Paz e o Comitê Popular de Lutas.

Camponeses tomam as ruas

Com a realização do 5º Congresso da LCP, a Revolução Agrária tomou as ruas de Porto Velho. Caravanas de várias regiões do estado, observadores de diversas regiões do país, operários, estudantes, professores, dirigentes sindicais e representantes de entidades democráticas estiveram presentes. Mais de 400 pessoas compareceram ao Congresso. Os olhos da capital rondoniense voltaram-se para a UNIR, onde a reconhecida protagonista da luta pela terra e contra a criminalização da luta camponesa na região realizava importantes debates. Bandeiras vermelhas, faixas e palavras de ordem povoaram a cidade, a expectativa em torno da grande manifestação, anunciada para a manhã do segundo dia, pairava pelas ruas e entre os participantes.

Às oito da manhã começou a preparação para a manifestação no centro da cidade. A comissão de agitação ensaiava as palavras de ordem. Uma creche foi organizada para cuidar das crianças menores enquanto os pais iam até o ato.

Os camponeses partiram em ônibus até o centro de Porto Velho, desembarcaram formando quatro longas colunas de bandeiras vermelhas. A combativa manifestação da LCP teve como tema o "Boicote à farsa das eleições", "Contra a corrupção", "Contra a criminalização do movimento camponês", "Em defesa da Amazônia", e percorreu toda a Avenida Sete de Setembro. Propagandistas e agitadores da LCP distribuíam panfletos, gritavam palavras de ordem e conversavam com o povo.

A população nas ruas e os comerciantes se aproximavam para ver a passeata de camponeses que, orgulhosos de sua organização, marchavam ao som do tarol e das palavras de ordem. O protesto foi uma grande demonstração de força, organização, disciplina e disposição de luta dos camponeses, que denunciaram políticos corruptos, latifundiários, os bandos de pistoleiros, a perseguição ao movimento camponês combativo e as campanhas desinformativas e difamatórias dos monopólios de comunicação.

Aos nossos mártires

Um dos momentos mais emocionantes e vibrantes do Congresso foi o reservado às homenagens aos companheiros tombados na luta.

O primeiro a ser recordado foi Francisco Pereira do Nascimento, conhecido por todos como "Zé Bentão", assassinado em uma emboscada. Um dirigente da LCP resgatou sua história de lutas pela construção da Liga e sua decisão pela Revolução Agrária. Quando ele começou a falar, até mesmo as crianças interromperam suas brincadeiras para prestar atenção. Sua viúva foi chamada à frente da plenária para receber um ramalhete de flores e um quadro com a imagem de Bentão.

Na sequência foram homenageados os camponeses "Carequinha", Oziel, José e Nélio, todos assassinados por pistoleiros.

Também foi feita uma emocionante homenagem ao líder camponês nordestino José Ricardo [ver AND nº 42, abril de 2008 — Pressão popular liberta José Ricardo Rodrigues], falecido em acidente de moto quando se dirigia ao acampamento Riachão. Um representante da Liga dos Camponeses Pobres do Nordeste falou de sua luta e resistência, da ruptura de José Ricardo com o MST e a sua luta enquanto esteve preso. José Ricardo dedicou o último período de sua vida à construção da Liga dos Camponeses Pobres do Nordeste, e trabalhava ardorosamente para o congresso de fundação da LCP em sua região marcado para outubro próximo.

A Comissão Nacional das Ligas de Camponeses Pobres recebeu um quadro com a imagem de Zé Ricardo e um dirigente da Liga ressaltou o papel do líder nordestino, que dirigiu lutas ousadas e combativas no estado de Pernambuco e foi traído pela direção oportunista do MST do estado.

— A Liga dos Camponeses Pobres o defendeu e organizou uma campanha nacional pela sua libertação, da qual participaram vários companheiros e organizações aqui presentes. Assim, sua libertação foi uma vitória da luta do povo. Após isso o companheiro voltou para a sua região e, junto com os companheiros e companheiras de Alagoas, defendeu a construção da LCP, rompeu com a direção oportunista do MST e passou a defender a Revolução Agrária—destacou emocionado o dirigente nacional da LCP que acrescentou — esses nossos companheiros tombados na luta, sua memória, nos dão a compreensão e o exemplo de que, apesar da imensa dor de perdermos companheiros, devemos prosseguir na luta e a Revolução Agrária honrará seu sangue! Como diz um ditado da luta: "o risco que corre o pau, corre o machado!".

Poder das massas

O Congresso foi encerrado com uma Assembléia para a apresentação e aprovação da nova coordenação da LCP-RO.

A proposta de composição da nova coordenação foi apresentada, mas seus integrantes não foram para a frente da plenária por medida de segurança, devido à intensa perseguição às lideranças camponesas na região. Cada região indicou sua proposta de membros para a coordenação, e após a apresentação, vários camponeses inscreveram-se para defender a participação e até mesmo a saída de membros da coordenação. Todo o processo foi decidido pelas massas, que debateram e votaram as propostas polêmicas. Os camponeses esclareciam suas divergências. A mesa conduziu a votação e os camponeses elegeram sua nova coordenação.

Um membro da direção nacional da Liga ressaltou que um coordenador da LCP tem mandato revogável a qualquer momento. Esclareceu que a coordenação da Liga dos Camponeses Pobres é política e que cada área tem a sua própria organização, portanto é importante que em cada área se fortaleçam as Assembléias do Poder Popular para construírem o poder local.

As resoluções do 5º Congresso da LCP

O Congresso decidiu prosseguir com a campanha contra a criminalização do movimento camponês combativo e em defesa da Amazônia, condenando a ação predatória dos latifundiários, grandes empresas madeireiras e mineradoras nacionais e transnacionais, a presença insidiosa de agentes das potências estrangeiras, bem como das ações repressivas do IBAMA e outros órgãos contra os camponeses, indígenas e ribeirinhos. Além dessas decisões foram aprovadas resoluções que nortearão as lutas da Liga sob a direção de sua nova coordenação:

1Unificar todo o movimento camponês para prosseguir com as tomadas de todas as terras do latifúndio;

2 Aprofundar a luta em torno da criação e funcionamento das APP (Assembléias do Poder Popular);

3 Realizar um grande trabalho de agitação da Revolução Agrária com panfletagens e manifestações nas áreas, vilas e povoados;

4 Apoiar a luta dos povos indígenas pela demarcação de suas terras e pelo direito a autodeterminação;

5 Unificar todos os trabalhadores da Amazônia na luta pelos seus direitos.

Os trabalhos do 5º Congresso foram encerrados com um balanço político:

"Companheiros, nossa manifestação hoje foi muito vitoriosa. Demonstramos organização e firmeza. Os companheiros notaram a ausência de tropas de repressão do Estado, mas isto é porque o governo temeu reprimir, pois sabe que a polícia não seria capaz de deter os camponeses! A LCP vem desenvolvendo trabalhos nunca antes vistos no movimento camponês do Brasil.

A coordenação da Liga dos Camponeses Pobres saúda todos os acampamentos presentes. Agradecemos o importante trabalho de apoio desenvolvido pelo MEPR e pelos professores que foi fundamental para o sucesso do nosso Congresso.

O levante de massas de camponeses no país está crescendo e temos Santa Elina como um grande compromisso de honra. Foi justamente lá onde se deu a grande traição dos falsos defensores dos camponeses, o PT estava no governo do genocida Valdir Raupp, e exatamente a partir daí, os companheiros e companheiras que fundaram a Liga dos Camponeses Pobres, rompem com toda direção oportunista, com todo o eleitoralismo, e vêm trilhando o caminho da Revolução Agrária. Viva a Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia! Viva o 5º Congresso da LCP!

Solenemente, todos repetiram o Juramento da Liga dos Camponeses Pobres e entoaram A Internacional.

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