Sob a direção de Mao Tsetung, o Partido Comunista da China, fundado em 1922, organizou o Exército Popular de Libertação, que contou em suas fileiras com milhões de combatentes, a maioria camponeses, que varreram a velha ordem como uma torrente avassaladora, construindo uma nova China.
Foi através da guerra popular, sustentada pela frente única revolucionária, dirigida pelo proletariado em aliança principalmente com o campesinato pobre, que o povo chinês construiu o poder da Nova Democracia, exercido primeiramente nas áreas libertadas, e finalmente em toda a China. Em 1º de outubro de 1949 foi proclamada a República Popular da China .
Em 1976, após a morte de Mao Tsetung, os dirigentes revisionistas do Partido Comunista traem a revolução e desencadeiam uma onda negra de perseguições aos defensores do pensamento Mao Tsetung (como era denominado o maoísmo à época) e dão início à restauração do capitalismo na China.
Completados 61 anos da Revolução Chinesa, os revolucionários proletários e democratas de todo o mundo tem imensas lições a tirar. A gigantesca China, seguindo o luminoso caminho de outubro apontado por Lenin e Stalin, derrotou o imperialismo e todos os reacionários e transformou um país feudal e invadido em um país livre e próspero. Como isso foi possível? Todavia, como foi possível aos revisionistas dar um golpe e fazer retroceder a revolução restaurando o capitalismo?
Mao Tsetung afirmou que “a luta de classes, a luta pela produção e a experimentação científica são três grandes movimentos revolucionários para construir um poderoso país socialista. (…) Se, na ausência destes movimentos, fosse permitido que surgissem os latifundiários, camponeses ricos, contrarrevolucionários, elementos maus e ogros de todo tipo, enquanto nossos quadros fechassem os olhos a tudo isto e em muitos casos inclusive não distinguissem entre os inimigos e nós, mas sim colaborassem com eles e ficassem corrompidos e desmoralizados; se com isso nossos quadros fossem arrastados ao campo inimigo ou o inimigo lograsse colar-se em nossas filas, e se muitos de nossos operários, camponeses e intelectuais fossem deixados indefesos perante as táticas brandas e as táticas duras do inimigo, então não seria necessário muito tempo, talvez só alguns anos ou uma década, ou várias décadas no máximo, para que ocorresse inevitavelmente uma restauração contrarrevolucionária em escala nacional, o partido marxista-leninista se transformasse em partido revisionista ou partido fascista, e toda a China mudasse de cor.” (*)
AND resgata os 61 anos da Revolução Chinesa invocando a luta da aldeia de Tachai, exemplo da combatividade e intrepidez do povo chinês em sua luta por liberdade e pelo socialismo. O heroico legado da revolução chinesa, suas realizações e seus ensinamentos históricos são as armas com que o mesmo povo que lutou durante décadas para varrer imperialismo e seus lacaios, liquidará, por mais que demore, os traidores da revolução e do socialismo, e recolocará a China na esteira da revolução proletária mundial.
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(*) Mao Tsetung, Comentário sobre “Sete bons documentos da província de Sechiang acerca da participação dos quadros no trabalho manual”, 9 de maio de 1963.
Mudar o céu, mudar a terra
Luiz Carcerelli
Tachai, localizada na província de Shanxi, logo da libertação da China em 1949 era uma aldeia pobre entre as mais pobres. Situada a mil metros de altitude, todas as suas terras eram em declive. O clima rude, com invernos muito longos, frios e secos e com verões quentes, assinalados regularmente por chuvas torrenciais.
Em 1963, Tachai foi vítima de chuvas catastróficas e, justamente diante das terríveis dificuldades, atendendo ao chamamento do Partido Comunista da China para a adoção do sistema das Comunas Populares, transformou-se em um vigoroso exemplo para todos os chineses.
As fortes chuvas haviam soterrado as casas de várias famílias – simples grutas escavadas nas pedras – e os campos ficaram arrasados. Os antigos proprietários rurais ou camponeses ricos começaram a espalhar opiniões derrotistas.
Na introdução a obra As Comunas Populares, o escritor francês Charles Bettelheim, narra este quadro enfrentado pelo secretário do partido comunista na aldeia de Tachai, Chen Yong-kui, que ficara bloqueado pelas inundações na capital do distrito, só podendo regressar após uma semana.
Frente ao desespero dos camponeses que davam tudo por perdido, Chen Yong-kui organizou uma campanha de estudos dos “Três textos mais lidos”1 de Mao Tsetung e o moral dos camponeses elevou-se prontamente.
— O verdadeiro apoio é o apoio ideológico que, esse, nunca se esgota e pode ser transformado em força material. O essencial é não nos inclinarmos perante as dificuldades e considerá-las como ‘um tigre de papel’ — afirmou Chen Yong-kui, exortando os camponeses a vencer as dificuldades.
Mais uma vez os camponeses se lançaram ao trabalho. Em primeiro lugar, salvaram a colheita. Através de trabalho árduo, obtiveram nesse ano aproximadamente duzentas toneladas de cereais. Os camponeses britaram pedras na montanha e fabricaram cal. Só a madeira e as telhas para as casas foram compradas fora. Durante esse trabalho, os camponeses de Tachai recusaram os créditos oferecidos pelo Estado por quatro vezes seguidas.
Foi assim que Tachai se tornou símbolo da luta pela produção e superação do atraso na China e ainda desperta o ódio da contrapropaganda reacionária.
Aprender com Tachai
Em 1964, Mao Tsetung desfraldou a consigna “Em agricultura, aprender com Tachai”, deflagrando uma campanha que transformou radicalmente a situação no campo na China durante mais de uma década. Cartazes com essa consigna surgiram nos muros, nas barrancas dos rios e em todo o campo, emulando a campanha de romper com o atraso na agricultura. Durante este período, mais de 15 milhões de chineses visitaram Tachai, além de visitantes estrangeiros, que incluíam chefes de Estado.
Em 1975 e 1976 foram realizadas duas conferências nacionais para discutir e aprender com o exemplo de Tachai. Mas o que aprender de uma pequena brigada de produção agrícola — 83 famílias, totalizando 450 pessoas, lavrando 143 acres de terras (aproximadamente 60 campos de futebol) — isolada no noroeste da China?
Ainda assim Tachai tornou-se modelo conseguindo seis êxitos importantes que se tornaram critérios para “brigadas tipo Tachai”, quais sejam:
- O comitê do Partido deve ser um núcleo dirigente que adere firmemente à linha e às políticas do Partido e deve estar unido na luta;
- Deve ser estabelecida a dominação dos camponeses pobres e médios da camada inferior, como classe;
- Quadros nos níveis de comuna município e brigada devem participar regularmente nos trabalhos produtivos coletivos;
- O rápido progresso e resultados significativos devem ser alcançados na construção da “capital local” (sede do poder local), mecanização e agricultura científica;
- A economia coletiva deve ser progressivamente alargada;
- Todo o desenvolvimento técnico deve ser empreendido, com aumentos consideráveis na produção, representando grandes contribuições para o Estado e a melhoria constante da qualidade de vida dos membros da comunidade. (Periódico Pequim Informa, 7 de janeiro de 1977, p. 17).
O triunfo da coletivização
Tachai tronou-se exemplo pela luta incansável dos camponeses para, com seus próprios esforços, conseguirem soluções para os problemas da organização social e da produção.
A Grande Revolução Cultural Proletária foi uma luta titânica contra a restauração capitalista. Quando do seu início, já havia sido restaurado o capitalismo na URSS e o socialismo chinês já estava ameaçado. Liu Chaochi tentara estabelecer o caminho capitalista na China e diversos postos chave do Estado e do Partido Comunista eram ocupados por toda sorte de oportunistas e revisionistas. Devido a isso, em aproximadamente 2 mil municípios da China, somente uns 300 seguiram o caminho de Tachai.
Esse caminho que não se limitava ao aumento grandioso da produção, mas também a ampla integração entre a indústria e a agricultura como o fornecimento de cimento para a construção agrícola (muros de terraceamento, poços, canais de irrigação, edifícios, etc.) e máquinas agrícolas. A propriedade de todas as coisas em Tachai, incluindo animais, era coletiva. Os camponeses já haviam sido convencidos da superioridade do trabalho cooperado e haviam desistido da propriedade privada de parcelas de terra. Por outro lado, a grande maioria do campesinato chinês ainda cultivava para a venda e mantinha propriedade privada de animais. Existiam portanto contradições importantes no agrário da China e a luta de classes permanecia latente. Pessoas que cultivavam para venda com lucro eram suscetíveis a apoiar o caminho capitalista. Tachai simbolizava a construção socialista.
As comunas na China já há 20 anos utilizavam o sistema de pontos por trabalho realizado, ou seja, de acordo com o princípio socialista “de cada um segundo sua capacidade e acada um segundo seu trabalho”. Em Tachai isso mudou. Considerava-se que este sistema prejudicava os membros mais velhos, mais fracos e as mulheres, que tendiam a ser menos produtivos. Assim sendo, passou-se a um sistema caracterizado por encontros anuais nos quais os camponeses faziam uma autoavaliação de suas contribuições, que eram discutidas coletivamente e transformadas em pontos. Era um passo à frente para o princípio comunista “de cada um segundo suas possibilidades, a cada um segundo suas necessidades”.
Antes da II guerra Mundial, Tachai sofria muito com a seca, ao ponto que os camponeses pobres eram forçados a vender suas crianças para sobreviverem. Durante a ocupação japonesa, a vila foi queimada e 42 jovens foram assassinados. A libertação ocorreu em 1945 e a reforma agrária em 1947. Até então os senhores de terra detinham 60% da terra cultivável e os camponeses pobres apenas 18%, o restante pertencia aos camponeses médios. Em 1952, as 48 famílias de camponeses pobres criaram uma cooperativa e em um ano já produziam mais que as produções individuais anteriores. Havia então uma árdua luta de classe com os senhores de terra e camponeses médios, que apostavam no caminho capitalista e estimulavam o êxodo para as cidades.
Em 1957, a cooperativa já havia mostrado suas vantagens e todos já haviam se incorporado a ela. Em 1958 a liderança local do Partido Comunista iniciou a crítica ao sistema de pontuação diário de trabalho e em 1960 a brigada mudou para o sistema de autoavaliação mensal. Mas foi em 1963, depois da inundação que devastou a vila e danificou severamente os terraços de plantio, que decidiram abandonar a propriedade privada da terra e dos animais. Localmente houve apenas um voto contra, mas, em Pequim o vento soprava em outra direção.
Nova tormenta em Tachai
Liu Chaochi era então o secretário do Partido Comunista e apontava para via capitalista. Apoiava a expansão da propriedade privada da terra, mercados livres, empreendimentos individuais e a compra e venda da terra, o que inevitavelmente conduziria à sua concentração.
Sob a direção revisionista de Liu Chaochi é desferido um rude golpe contra Tachai: o “Kruchov chinês” (como ficou conhecido o cabecilha revisionista Liu Chaochi) suspendeu todo o ramo do Partido Comunista na região.
Mas o clima mudou e o vento de leste voltou a soprar forte. Era o tempo da Grande Revolução Cultural Proletária e Tachai floresceu. Ao longo dos anos o povo mudou o céu e a terra, transformou as sete ravinas e os oito cumes que marcavam seu território em terraços cultiváveis, com drenos que preveniam o alagamento. Com a irrigação controlada, utilização dos fertilizantes corretos para cada tipo de solo, a produção aumentou exponencialmente. Em 1975, a Brigada possuía 6 tratores, 37 caminhões, 60 implementos agrícolas, 190 cavalos e vacas e 237 porcos. Além do que produziam tijolos e macarrão para a comuna.
Hoje, depois da restauração do capitalismo na China, Tachai virou um ponto turístico e abutres de todas as espécies se juntam para criticar a grande obra do povo. Fala-se que Tachai foi uma fraude, que ‘a produção não era tão grande assim’, que ‘muitas obras foram inúteis’. Mas ainda hoje pode-se ver que se o velho Youkong da fábula chinesa removeu a montanha, o povo de Tachai transformou-a em terreno cultivável, mostrando do que um povo unido é capaz.
Tachai foi uma seta resplandecente que apontou caminho para o futuro. Foi a expressão concreta da construção do socialismo no campo. O caminho de Tachai, que foi abortado pelo revisionismo, mantém-se como inabalável exemplo a ser seguido para, através da via revolucionária, tirar o campo do atraso, rumo ao socialismo.
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1. Os Três textos mais lidos de Mao Tsetung são uma coletânea de pequenos artigos intitulados Servir o Povo (sobre a dedicação ao interesse coletivo); À memória de Norman Bethune (sobre a abnegação e o internacionalismo proletário) e Como Yukong removeu as montanhas (sobre a confiança nas próprias forças e a perseverança). Eles foram amplamente estudados em toda a China, particularmente entre os camponeses, e utilizados como instrumento da luta ideológica e política durante a revolução chinesa.