67 anos do nascimento de Eduardo Collen Leite, Bacuri

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67 anos do nascimento de Eduardo Collen Leite, Bacuri

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O guerrilheiro que assombrou os generais

http://jornalzo.com.br/and/wp-content/uploads/https://anovademocracia.com.br/94/12a.jpgEduardo Collen Leite nasceu em 28 de agosto de 1945, em Campo Belo, Minas Gerais. Quando do golpe militar-civil de primeiro de abril de 1964, contava apenas os 18 anos de idade. Ele começou sua militância política bastante jovem, integrando primeiramente a POLOP, em seguida a Vanguarda Popular Revolucionária – VPR (1968) e a Rede Democrática – REDE (1969).  Posteriormente, junto de outros companheiros, passou a integrar a direção da Ação Libertadora Nacional – ALN.

Bacuri, na designação do dicionário Houaiss quer dizer “menino pequeno”, mas foi como militante revolucionário, de armas em punho, ficou conhecido como grande homem de ação, temido e odiado pelos gorilas do regime militar.

Ele, como tantos jovens brasileiros, buscaram nas organizações que propunham a guerrilha urbana como caminho para fazer frente ao regime fascista.

Autêntico guerrilheiro

Desde as primeiras ações armadas das quais participou, Bacuri se destacou como militante arrojado e destemido, também descrito pelos companheiros de armas como um homem simples, franco, afável e bem-humorado.

Suas qualidades militares e de organizador conduziram-no rapidamente para os papéis de arquiteto e comandante de ações de expropriações em bancos e sequestros de embaixadores com o objetivo de libertar presos políticos.

Foram inúmeras as ações empreendidas por Bacuri e seus companheiros. Algumas delas tornaram-se amplamente conhecidas, o que rendeu a Bacuri, muitas das vezes, uma referência lendária.

Ao lado de sua companheira, Denise Crispim, ele participou ativamente no sequestro do cônsul do Japão, Nobuo Okushi, em São Paulo, em 1970. VPR, REDE e Movimento Revolucionário Tiradentes – MRT participaram dessa ação conjunta e as negociações com o governo resultaram na libertação de cinco prisioneiros políticos.

Em junho desse mesmo ano, em plena copa do mundo de futebol, realizada no México, Bacuri participou do sequestro do embaixador alemão Ehrenfried Von Holleben. Nessa ação, Bacuri aniquilou o agente da polícia federal, Irlando de Souza Régis, com três disparos. A morte do agente, que fazia a segurança do embaixador, enfureceu os militares. As negociações que se seguiram resultaram na libertação de quarenta presos políticos.

Um recado ao general

No dia 15 de julho de 1970, a militante da ALN, Ana Bursztyn, foi presa quando se dirigia para um ponto combinado com companheiros para uma reunião. Torturada, ela revelou o endereço do aparelho (casa clandestina) de Bacuri. Como consequência, sua companheira, Denise, grávida de poucos meses, foi presa. À distância, ao lado de outros camaradas, Bacuri teve que assistir à prisão de Denise. Mais tarde, agindo sempre com a costumeira frieza e perspicácia, ele telefonou para o comandante do II Exército, se identificou e disse que se acontecesse algo à sua companheira e à criança, o general-comandante do II Exército seria justiçado. Horas mais tarde Carlos Eugênio Paz, também membro da ALN, voltou a telefonar, dando detalhes da rotina do general, assegurando que ele estaria perdido se algo acontecesse com a companheira presa. Certos de que a ameaça seria cumprida, os militares negociaram com Bacuri e libertaram Denise.

A partir de então, redobrou-se a sanha dos militares.

Após inúmeras investigações e operações policiais-militares, em 21 de agosto de 1970, Bacuri foi preso no Rio de Janeiro pela equipe do famigerado delegado Sérgio Fleury.

109 dias de torturas e resistência

Do local da prisão, Eduardo foi levado a uma residência particular onde foi torturado. Seus gritos e de seus torturadores chamaram a atenção dos vizinhos, que avisaram a polícia. Ao constatarem de que se tratava da equipe do delegado Fleury, pediram apenas para que mudassem o local das torturas.

Continuou a ser barbaramente torturado no Centro de Informações da Marinha – Cenimar, no Rio de Janeiro, e de lá foi transferido para o 41° Distrito Policial, em São Paulo, cujo delegado titular era o próprio Fleury. De lá, novamente para o Cenimar, onde permaneceu sendo torturado até meados de setembro, quando foi novamente levado a São Paulo, para a sede do DOI/CODI. Em outubro, foi removido para o Departamento de Ordem Política e Social – DEOPS paulista, onde foi mantido isolado dos outros presos políticos.

Em 25 de outubro de 1970, os jornais divulgaram a nota oficial do DEOPS/SP relatando a morte de Joaquim Câmara Ferreira, Comandante da ALN, ocorrida no dia 23. Nesta nota, foi plantada a “notícia” de que Bacuri havia fugido, “sendo ignorado seu destino”. Era a senha para seu assassinato.

Cinquenta presos políticos depuseram provando que Bacuri jamais saíra de sua cela naqueles dias, a não ser quando era carregado para as sessões diárias de tortura. Ele era carregado porque não tinha mais condições de manter-se em pé, muito menos de caminhar ou fugir, após dois meses de torturas diárias.

O sádico comandante da tropa de choque do DEOPS/SP, tenente Chiari, chegou a mostrar a Bacuri os jornais que “noticiavam” sua fuga. Ex-presos políticos relatam que, das grades da carceragem, ao ver os jornais, Bacuri bradou: “Eu vou ser morto, tenho certeza“.

Para facilitar a retirada de Bacuri de sua cela sem que os demais presos políticos percebessem, o delegado Luiz Gonzaga dos Santos Barbosa ordenou o remanejamento total dos presos, e a remoção de Eduardo para uma outra cela. Seu nome foi retirado da relação de presos, as dobradiças e fechaduras de sua cela foram oleadas de forma a evitar ruídos que chamassem a atenção. Seus companheiros presos montaram um sistema de vigília para impedir que Bacuri fosse “desaparecido”.

Aos 50 minutos do dia 27 de outubro de 1970, Bacuri foi retirado de sua cela e arrastado, com o corpo repleto de hematomas, cortes e queimaduras, sob forte protesto dos presos políticos. Desde esse momento, ele não foi mais visto.

Eduardo Collen Leite foi o revolucionário brasileiro que passou mais tempo sob tortura durante o regime militar fascista (de 1964 a 1985). Ele foi assassinado aos 25 anos de idade após 109 dias de torturas. Seus algozes o mataram de forma covarde, mas foram derrotados, não arrancaram uma informação sequer desse denodado revolucionário.

Mentiras para encobrir assassinato

O Movimento Tortura Nunca Mais publicou em seu Dossiê dos Mortos e Desaparecidos Políticos a partir de 1964 que um policial conhecido como “Carlinhos Metralha (…) afirmou que Eduardo estava no sítio particular do delegado Fleury. Tal sítio era usado pelo delegado e sua equipe para torturar os presos considerados especiais ou os que seriam certamente assassinados e, por isso, deveriam permanecer escondidos”.

No dia 8 de dezembro de 1970 os jornais noticiavam a morte de Bacuri “em um tiroteio nas imediações da cidade de São Sebastião, no litoral paulista”.

Seu nome constaria na lista dos presos políticos que seriam libertadas em troca da vida do Embaixador da Suíça no Brasil, sequestrado por organizações revolucionárias no dia 7 de dezembro. Mas já não era mais possível para os militares apresentá-lo, pois haviam-no sido trucidado e assassinado.

O corpo de Eduardo Collen Leite foi entregue à família, coberto de hematomas, escoriações, cortes profundos e queimaduras por toda a parte, apresentava dentes arrancados, orelhas decepadas, e os olhos vazados, o que desmascara por completo a farsa montada pelo regime militar fascista.

No dia 13 de janeiro de 1971, após uma longa negociação, setenta presos políticos trocados pelo embaixador suíço, embarcaram em um avião para o exterior.

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