Camponeses preparados para lutar e resistir
Mais de seiscentos camponeses se reuniram na cidade de Manga — MG, nos dias 28 e 29 de setembro na plenária do 6º Congresso da Liga dos Camponeses Pobres do Norte de Minas e da Bahia. Foi a conclusão de um processo iniciado em setembro do ano passado com o Encontro de Delegados das áreas onde atua a LCP.
Camponeses marcham em passeata pelas ruas de Manga, MG
As delegações presentes no 6º Congresso já vinham debatendo, desde o encontro de delegados, a ameaça representada pela política ambiental do velho Estado e discutido os pontos essenciais de um plano de luta para a safra 2010/2011. Durante um ano, os delegados presentes no encontro se encarregaram de esclarecer, mobilizar e preparar a luta de resistência contra uma possível tentativa de expulsão dos camponeses da região e convocando a realização da plenária de agitação e propaganda do Congresso.
Duas consignas foram o centro dos debates desenvolvidos pela LCP: “Abaixo a perseguição ambiental!” e “Abaixo a criminalização da luta pela terra!”. Toda a preparação do congresso foi marcada pela intensa luta contra as infindáveis perseguições e tentativas de reintegrações de posse encobertas pelo discurso ambiental e a criação de Parques e Áreas de Preservação Permanente — APP, seguidas das tentativas de expulsão dos camponeses das melhores terras.
Organizados, os camponeses vêm resistindo e respondendo aos planos de expulsão, enfrentando, uma a uma das investidas do velho Estado. Como ocorreu em abril desse ano, quando o Conselho Estadual de Política Ambiental de Minas Gerais (Copam), negou a licença prévia para a realização do Projeto de Assentamento do acampamento Trevo, em Juvenília, Norte do estado e com isso, fez com que a desapropriação da área fosse suspensa. [ver AND68, agosto de 2010 — Copam quer impedir o assentamento de 200 famílias no Norte de Minas]
Sob o cerco do demagógico discurso ‘ambiental’, centenas de milhares de camponeses não puderam produzir em 2009. O plantio das roças praticamente recebeu o status de crime, juntando-se a isso a falta de chuvas no período da florada, o que comprometeu seriamente as já diminutas roças.
Desafiar as dificuldades
A mobilização, preparação e realização das atividades do Congresso se sustentaram no apoio e solidariedade dos camponeses, do povo da região e na força da organização camponesa. A alimentação foi garantida por contribuições, doações da produção das áreas, de comerciantes e apoiadores, dos operários da construção civil de Belo Horizonte e da Escola Popular Orocílio Martins Gonçalves. Os boletins, faixas e cartazes, os transportes, cada gasto do Congresso foi debatido pelos camponeses que organizaram formas de contribuir e continuam em campanha para arcar com todos os custos.
Como encerramento de um longo e sólido processo, a plenária do 6º congresso cumpriu exitosamente suas funções, debateu e aprovou o plano de lutas da Liga dos Camponeses Pobres e a nova coordenação regional.
Plenária durante o Congresso
Ao final do debate, mais uma vez, o povo de Manga pôde apreciar colunas camponesas com bandeiras vermelhas erguidas percorrerem as ruas da cidade com suas canções de luta, panfletando e convocando as massas a lutar, a boicotar as eleições e denunciar a situação que vive o povo na região e no país. A população saiu das casas para receber os panfletos e ver os camponeses passarem demonstrando sua organização e confiança na luta.
Aprendendo e ensinando com Tachai
Durante a plenária do 6º congresso da LCP o grupo de teatro “Servir ao Povo” da área Para Terra I, de Varzelândia, apresentou uma emocionante peça.
O grupo teatral foi uma iniciativa dos camponeses, surgida durante as atividades da Campanha de Alfabetização da Escola Popular. Composto por jovens camponeses, filhos dos alunos e da professora da área, o grupo preparou uma peça baseada na história da aldeia de Tachai, uma comuna popular da China socialista (ver artigo na página 15 dessa edição de AND), que depois de enfrentar uma tempestade que destruiu tudo, se organiza, estuda, planeja e trabalha enfrentando as calúnias dos antigos latifundiários, contando como fator decisivo os homens e sua decisão.
Cada mudança de personagens, cada fala, emocionou os camponeses.
— Nunca pudemos assistir um teatro e agora são os próprios camponeses e seus filhos que preparam, ensaiam e apresentam — ressaltou a camponesa Júnia Pereira durante a apresentação.